Adelino, o ídolo que venceu no "inferno" e nos gramados de futebol.
Uma incrível história repleta de batalhas e vitórias.
Uma incrível história repleta de batalhas e vitórias.
Adelino Torres, também conhecido como O Pracinha, possui uma das mais incríveis histórias do futebol mineiro, quiçá do futebol brasileiro. Uma história que foi muito além dos campos de futebol e de muito amor e dedicação ao seu clube do coração.
Adelino começou sua carreira jogando pelo Industrial e passou pelo Pedro Leopoldo, times da sua cidade natal. Em 1943 alistou-se ao Exército e jogou no time do 12º Regimento de Infantaria. No mesmo ano foi contratado pelo Cruzeiro para formar a linha média com Juca e Caieirinha, do time campeão mineiro de 1943.
Em março de 1944, antes do início da campanha do Bicampeonato, Adelino foi convocado pela Força Expedicionária Brasileira e se juntou a mais de 25 mil brasileiros, para lutar a Segunda Guerra Mundial.
No trecho do texto retirado do livro de Jorge Santana, Páginas Heroicas, Adelino conta ao jornal Diário da Tarde, como foi sua experiência defendendo os Aliados:
“Vivi dias de terror. No acesso da luta, vi tombar companheiros varados pelas balas inimigas. Devo ter mandado para o outro mundo muito alemão, mas não sei precisar quantos, nem gosto de recordar esse tempo. Um dia fui parar no hospital de Livorno, vítima de uma granada que explodiu a poucos metros de mim. Quando dei pela coisa, estava entre paredes brancas e enfermeiras que não falavam nossa língua. Quando voltei à ativa, fui enfrentar Montecastello. Estava em Palma quando nos chegou a notícia do fim da guerra. Não esqueci jamais do delírio dos Pracinhas. Foram dias de bebedeiras, danças, uma farra homérica. Finalmente poderíamos voltar ao Brasil, sãos e salvos. Nossa alegria só era interrompida pela lembrança dos companheiros que haviam ido para Pistoia [Local do cemitério militar brasileiro] para nunca mais voltar."

Na Vitória no Inferno, como ficou conhecida a importante Batalha de Montecastello em que Adelino voltou à ativa, as tropas aliadas tentavam impedir o avanço dos Nazistas que tinham o objetivo de avançar ao Norte da Itália. No começo, os aliados estavam em desvantagem, pois o exército inimigo encontrava-se ao topo do Monte. Porém a Batalha durou três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, e foi possível aos aliados rever a desvantagem e vencê-la apesar de quatro ataques sem êxito e com várias baixas brasileiras.
De volta a Belo Horizonte e ao seu clube do coração, no dia 26 de agosto de 1945, na partida onde o Cruzeiro venceu o América por 3 a 1, Adelino esteve presente e pode sentir novamente o calor da torcida cruzeirense que das arquibancadas de cimento, gritavam seu nome. Apesar de não ter atuado nesse jogo, ele foi convocado para receber as devidas homenagens.
Seu retorno aos gramados foi no dia 23 de setembro, no Barro Preto, partida que o Cruzeiro venceu o Villa Nova por 3 a 1. Partida essa que terminou em uma grande pancadaria dentro de campo, sendo o motivo desconhecido. Petrônio, jogador do Villa, foi parar no hospital enquanto outros envolvidos foram parar na delegacia.
Cansado de guerra, Adelino não quis saber de briga. Cuidou apenas de acalmar os ânimos da rapaziada em campo, evitando que a confusão fosse ainda mais longe e chegasse às arquibancadas.
Como jogador, Adelino jogava duro, com raça e regularidade nas partidas. Em outro trecho do Livro “Páginas Heroicas”, Jorge Santana diz que: “Em cima dele, ninguém “fazia nome”, nem mesmo o atleticano Nívio, seu mais difícil adversário.” Em relação a isso, Adelino chegou a dizer: “Eu roía um osso para travar-lhe as escapadas; às vezes até com umas botinadas”.
Fora de Minas, Chico, da seleção carioca foi quem mais se complicou em embates com Adelino. No brasileiro de seleções de 1958, no Pacaembu, Adelino atirou o ponteiro fora do gramado com um tranco. Chico se levantou furioso: “Apronta o lombo, pois vai ter!” Desafio aceito, a torcida assistiu a uma guerra entre os dois. No final do jogo (Cariocas 2 a 1), quando todos esperavam mais pancadaria, Chico abraçou Adelino e confessou: “Gostei de você; dá e toma pancada sem reclamar.””
Em 1945 o Cruzeiro conquistou o tricampeonato mineiro e depois disso uma grande crise financeira explodiu no clube, que sem recursos pagava salários baixos e quase sempre com atraso. O clima no vestiário era tenso, com os jogadores reivindicando seus direitos. Adelino estava ali, parceiro dos jogadores e ao mesmo tempo tentando se solidarizar ao clube. O amor pela camisa azul falava mais alto que o dinheiro. Para completar sua renda, ele trabalhava de 07:00 às 16:00 na fábrica Ballesteros, onde fazia palmilhas e dava acabamento em sapatos.
Além de excelente jogador, Adelino também era uma pessoa com um coração imenso. Quando Sabu, seu companheiro de equipe, casou-se, porém sem condições financeiras para alugar uma casa, em um grande ato de companheirismo, Adelino ofereceu sua casa para Sabu morar com sua esposa enquanto ele foi morar na casa dos fundos com a sua mãe, por dois anos.
Durante sua passagem pelo Cruzeiro, Adelino foi campeão nos anos de 1943, 1945, 1956 e 1959, 1960 e 1961.
Encerrada a carreira de jogador, Adelino permaneceu no clube. Foram 35 anos de muita entrega e dedicação ao Cruzeiro, seu clube do coração. Durante esse tempo ele foi jogador, treinador e auxiliar técnico. No departamento de futebol, conquistou mais de 10 campeonatos mineiros e também foi o grande responsável na descoberta de um dos maiores ídolos da história do Cruzeiro, o jogador Dirceu Lopes.
“O praça Adelino foi muito mais que jogador. E muito mais que soldado. Foi exemplo da raça brasileira e símbolo da garra cruzeirense.” (Jorge Santana)