No final do século XIX, o Brasil passou por um processo de mudanças significativas, principalmente com a abolição da escravidão, em 1888. Após mais de 300 anos de exploração de mão de obra escrava, o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, devido a fortes pressões internacionais e internas. Mesmo com a resistência de fazendeiros e membros da elite, o movimento abolicionista ganhou força, resultando na assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel. O fim da escravidão, no entanto, não trouxe de imediato melhorias para a população negra, que ficou marginalizada, sem acesso à educação ou oportunidades de trabalho, sendo muitas vezes criminalizada por leis como a da vadiagem.
Com a abolição, o Brasil enfrentou a necessidade de substituir a mão de obra nas fazendas e nas cidades em crescimento. O governo brasileiro passou, então, a incentivar a imigração europeia, especialmente de italianos. A Itália, naquele momento, vivia o fim de um longo processo de unificação política e enfrentava uma crise econômica grave. O país, que até meados do século XIX era dividido em reinos e ducados, viu sua população camponesa sofrer com a falta de emprego e a pobreza. Isso levou muitas famílias a aceitarem a proposta de imigração para o Brasil, onde eram prometidos trabalho e novas oportunidades.
Entre 1888 e 1898, políticas de incentivo à imigração foram adotadas em várias regiões do Brasil, incluindo Minas Gerais.
Nesse período, o estado recebeu milhares de imigrantes europeus, sendo os italianos o grupo mais numeroso. 42% dos mais de 3 milhões de estrangeiros que chegaram ao Brasil até o início do século XX eram italianos, com 62% dos imigrantes da década de 1880 vindos da Itália. Esse fluxo migratório foi impulsionado por fatores como a expansão da agricultura no Brasil e a instabilidade política e econômica na Itália.
Minas Gerais, em particular, estava em um momento crucial de desenvolvimento, com a expansão da economia cafeeira e a necessidade de construir uma nova capital: Belo Horizonte. Fundada oficialmente em 1897, Belo Horizonte foi planejada como uma cidade moderna, inspirada em Paris e Washington, mas dependia fortemente da mão de obra imigrante para sua construção.
Minas Gerais, em particular, estava em um momento crucial de desenvolvimento, com a expansão da economia cafeeira e a necessidade de construir uma nova capital: Belo Horizonte. Fundada oficialmente em 1897, Belo Horizonte foi planejada como uma cidade moderna, inspirada em Paris e Washington, mas dependia fortemente da mão de obra imigrante para sua construção.
Os italianos foram fundamentais nesse processo. Com suas habilidades em diversas áreas, como construção civil, agricultura e pequenos ofícios artesanais, eles ajudaram a moldar a nova capital mineira. Em 1894, começou a chegar ao Arraial do Curral Del Rey (futuro local de Belo Horizonte) o primeiro grupo de imigrantes italianos. Ao longo dos anos, milhares de italianos se fixaram na cidade, principalmente nas áreas operárias, como o Barro Preto, onde viviam e trabalhavam próximos às indústrias em crescimento.
A construção de Belo Horizonte foi uma empreitada de grandes proporções. A cidade foi pensada para ser o centro administrativo e político de Minas Gerais, substituindo Ouro Preto, que, devido à sua localização montanhosa, não conseguia se expandir adequadamente. O projeto da nova capital foi liderado pelo engenheiro Aarão Reis e envolveu uma intensa participação de imigrantes italianos, que se tornaram os principais construtores e operários da cidade. Além de atuar como pedreiros, engenheiros e arquitetos, muitos italianos também se estabeleceram como pequenos comerciantes e industriais, contribuindo para o desenvolvimento da economia local.
Enquanto os italianos ajudavam a construir Belo Horizonte, o futebol começava a conquistar espaço no Brasil. Introduzido em 1894 por Charles Miller em São Paulo, o futebol rapidamente se tornou uma das atividades favoritas da burgesia brasileira, especialmente nas grandes cidades. Em Minas Gerais, o futebol chegou em 1904, trazido por Victor Serpa, um estudante que havia aprendido o esporte na Europa. O primeiro clube de futebol de Belo Horizonte, o Sport Club Foot-ball, foi fundado por Serpa e outros membros da burguesia local, e os jogos começaram a ser realizados no Parque Municipal.
À medida que o futebol se popularizava, clubes como o Atlético Mineiro e o América foram fundados, mas a comunidade italiana, que já estava bem organizada em Belo Horizonte, também desejava ter um clube que representasse suas raízes. A colônia italiana em Belo Horizonte, assim como em outras partes do Brasil, mantinha uma forte identidade cultural. Eles formaram associações como a "Società Operaria Italiana di Beneficenza e Mutuo Soccorso", que prestava apoio aos imigrantes, e o "Scratch Italiano", um time que reunia jogadores italianos para partidas festivas.
O desejo de fundar um clube de futebol próprio foi inspirado pelo sucesso do Palestra Itália de São Paulo, um clube fundado em 1914 pela comunidade italiana de lá. Em Belo Horizonte, os italianos inicialmente tentaram fundar o "Palestra Brazil", mas não tiveram sucesso. No entanto, em 1920, o Palestra Itália de São Paulo conquistou o título paulista, o que renovou o interesse da colônia italiana de Belo Horizonte em criar um clube próprio.
Finalmente, em 1921, um grupo de italianos se reuniu e fundou a Società Sportiva Palestra Itália. O clube foi criado pelo povo, para representar a comunidade italiana em competições de futebol e logo se tornou um símbolo do orgulho e da perseverança dos imigrantes italianos em Minas Gerais. Anos mais tarde, devido ao contexto da Segunda Guerra Mundial e à pressão política para eliminar referências a países do Eixo, o clube em um ato de Resistência, mudou seu nome para Cruzeiro Esporte Clube, adotando cores e símbolos nacionais, mas mantendo o espírito e a história de superação que marcaram sua fundação.