Campeonatos

Em 1976, na América do Sul, a ditadura militar se consolidou em diversos países, com regimes autoritários impondo controle sobre a sociedade e reprimindo a oposição. A Operação Condor, uma colaboração entre as ditaduras militares da América Latina, visava combater a esquerda e eliminar dissidentes, resultando em perseguições e desaparecimentos.

Cenário Musical: 
Musicalmente, 1976 foi um ano de grande efervescência. O punk rock começou a ganhar força, especialmente em Londres, com bandas como Sex Pistols e The Clash desafiando as normas estabelecidas da música. Nos Estados Unidos, o rock e o disco também estavam em alta, com artistas como David Bowie e a popularidade crescente do disco com grupos como Bee Gees.
No Brasil, o rock nacional vivia um momento de transição, com figuras como Raul Seixas já consolidadas no cenário musical. Raul, que lançou o álbum "Há 10 Mil Anos Atrás", continuava a misturar rock com temas filosóficos, esotéricos e de crítica social. Ele mantinha sua parceria com Paulo Coelho, embora enfrentasse problemas de saúde devido ao abuso de álcool e drogas. O regime militar também censurava várias de suas letras, que desafiavam o sistema. Ainda assim, o rock brasileiro dessa época começava a formar uma identidade própria, com Raul Seixas como um dos principais ícones.

Cenário Político na América do Sul e Brasil:

No Brasil, a ditadura militar (1964-1985) estava em um dos seus momentos mais repressivos. O regime, sob o comando do presidente Ernesto Geisel, implementava a "abertura lenta e gradual", que buscava uma transição para um regime mais democrático, mas que ainda era marcada por censura e repressão política. Movimentos de resistência e oposição, incluindo grupos estudantis e artistas, enfrentavam forte repressão, e muitos foram perseguidos e exilados.
Na Argentina, a ditadura militar estava em plena execução após o golpe de 1976 que depôs Isabel Perón. O regime instaurou um estado de terror conhecido como "Guerra Sucia", em que milhares de pessoas foram sequestradas, torturadas e desaparecidas. As mães da Praça de Maio começaram a se organizar em protesto pela busca de seus filhos desaparecidos, se tornando um símbolo de resistência.
No Chile, o regime de Augusto Pinochet, que tomou o poder em 1973, continuava sua repressão a qualquer forma de oposição. A censura era rigorosa, e muitos artistas e intelectuais, como Victor Jara, foram perseguidos. O governo implementou políticas neoliberais que alteraram a estrutura econômica do país, mas o custo social foi elevado, com a população enfrentando violação de direitos humanos e repressão.

Aspecto Cultural
Culturalmente, 1976 foi um ano marcado pela busca de expressão artística apesar da repressão. No Brasil, o teatro de resistência, com peças que abordavam a realidade social e política, emergiu como um espaço de crítica. A literatura também se destacou, com autores que abordavam os horrores da ditadura e suas consequências.

Aspecto Esportivo
No cenário esportivo, 1976 foi o ano dos Jogos Olímpicos de Montreal, onde a África do Sul foi banida devido ao apartheid, e os atletas dos países comunistas dominaram diversas modalidades. O Brasil participou com uma delegação significativa, mas sem grandes destaques.
Brasil: O futebol continuava a ser a principal paixão nacional, com clubes e seleções enfrentando o contexto da ditadura. Em 1976, o Flamengo conquistou o Campeonato Carioca, e o time começava a se consolidar como uma força no futebol brasileiro.
Argentina: No futebol argentino, a rivalidade entre Boca Juniors e River Plate era intensa, e o país começava a se preparar para a Copa do Mundo de 1978, que seria realizada em casa, embora a situação política fosse um pano de fundo complicado.
Chile: No Chile, o futebol era uma ferramenta de propaganda do regime de Pinochet, com os clubes servindo como uma forma de controle social. O futebol ainda era uma paixão nacional, mas a repressão política influenciava também o ambiente esportivo.
Em resumo, 1976 foi um ano crucial para a política, a cultura e o esporte na América do Sul e no mundo. A repressão das ditaduras militares moldou a arte e a resistência dos povos, enquanto o cenário esportivo continuava a oferecer um espaço de expressão e rivalidade, apesar das adversidades enfrentadas pela população. A luta pela liberdade e pela verdade começava a se intensificar, prenunciando mudanças que ocorreriam nos anos seguintes.

A TEMPORADA
Para a temporada de 1976, o Cruzeiro Esporte Clube se preparava com grandes expectativas, especialmente pela chance de disputar mais uma vez a Taça Libertadores da América. Vice-campeão brasileiro em 1975, o time mineiro era considerado um dos favoritos ao título continental. No entanto, o clube precisaria lidar com a ausência do ídolo Dirceu Lopes, que sofria com uma grave lesão no tendão de Aquiles, que o afastaria dos gramados durante praticamente todo o ano.
Para reforçar o elenco e manter o alto nível de competitividade, o Cruzeiro contratou o experiente Jairzinho, o "Furacão", artilheiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970. Jairzinho chegava como uma peça fundamental para liderar o ataque celeste e substituir Dirceu. Junto a outros grandes nomes como Palhinha, Nelinho e Joãozinho, Jairzinho ajudaria a escrever um dos capítulos mais emocionantes da história do clube na busca pela glória continental.

No Campeonato Mineiro de 1976,
o Cruzeiro não teve um bom desempenho, enfrentando dificuldades ao longo da competição. A equipe sentiu a ausência de seu craque Dirceu Lopes e apesar da chegada de Jairzinho, o time não conseguiu se impor no estadual.

No Campeonato Brasileiro de 1976,
o Cruzeiro enfrentou dificuldades, especialmente na primeira fase, ficando em 5º lugar em seu grupo, o que resultou na classificação apenas para a repescagem. Apesar de passar para as fases seguintes, o time não conseguiu chegar às etapas decisivas do torneio.

A LIBERTADORES DA AMÉRICA
A Taça Libertadores da América, criada em 1960, tornou-se rapidamente o principal torneio de clubes da América do Sul. Nos primeiros anos, o Santos, com Pelé, destacou-se ao conquistar o título em 1961, sendo o primeiro clube brasileiro a vencer a competição. O Santos repetiu a dose em 1963, solidificando sua posição no cenário continental. O Botafogo também teve sua chance, chegando à final em 1963, mas não conseguiu levar o troféu.
A Taça Libertadores era vista como a competição mais prestigiosa do futebol sul-americano, atuando como vitrine para os talentos da região. Vencer a Libertadores não apenas trazia prestígio, mas frequentemente garantia uma vaga em competições internacionais, aumentando a importância do torneio para os clubes. A rivalidade entre brasileiros e argentinos se intensificou ao longo do tempo, resultando em jogos emocionantes e com grande expectativa dos torcedores.
Entretanto, a competição não estava isenta de problemas. A violência nos estádios e dentro de campo tornou-se uma preocupação crescente durante a década de 1970. Conflitos entre torcedores, especialmente em partidas acirradas, eram comuns, e a falta de segurança adequada contribuía para brigas e, em casos extremos, mortes. Os episódios de violência refletiam a paixão intensa e muitas vezes desenfreada dos torcedores.
Além disso, a imparcialidade dos árbitros era frequentemente questionada. As decisões controversas geravam descontentamento e acusações de favorecimento, especialmente em jogos de grande rivalidade. A pressão das torcidas e a intensidade das rivalidades influenciavam as atuações dos árbitros, levando a protestos que marcavam as partidas.

Até 1975, a escassez de campeões brasileiros na competição era evidente, embora clubes começassem a se destacar no cenário. O Cruzeiro, em particular, já mostrava sua força, mas a verdadeira consagração na Libertadores ainda estava por vir.


A LIBERTADORES DE 1976
A Taça Libertadores da América de 1976 foi a 17ª edição do principal torneio de clubes da América do Sul, organizada pela CONMEBOL. Com 21 equipes de 10 países participantes, a competição começou em fevereiro e terminou em julho daquele ano.
Na primeira fase, os times foram divididos em 5 grupos, cada um com 4 clubes. Os times jogaram entre si em turno e returno, e apenas o primeiro colocado de cada grupo avançava para a fase semifinal. Na semifinal, dois grupos de três times foram formados, com partidas novamente em turno e returno, e os campeões de cada grupo avançavam para a final. A final era disputada em dois jogos, sem critério de saldo de gols, com a possibilidade de um jogo-desempate em campo neutro, caso necessário.
No Grupo 1, os argentinos dominaram a chave. O River Plate e o Estudiantes, ambos de Buenos Aires e La Plata, respectivamente, eram os grandes favoritos, com elencos fortes e experiência internacional. Os venezuelanos da Portuguesa e do Deportivo Galicia, de Caracas, buscavam surpreender, mas sabiam das dificuldades de enfrentar clubes de tamanho prestígio.
O Grupo 2 trouxe uma interessante combinação entre Bolívia e Equador. A LDU Quito e o Deportivo Cuenca eram equipes que representavam a crescente força do futebol equatoriano, enquanto o Bolívar, um dos clubes mais tradicionais da Bolívia, buscava impor sua força. O Guabirá, de Montero, também da Bolívia, corria por fora.
No Grupo 3, a disputa era intensa entre brasileiros e paraguaios. O Cruzeiro, de Belo Horizonte, e o Internacional, de Porto Alegre, representavam a força do futebol brasileiro e vinham com grandes expectativas. Os paraguaios do Olímpia, uma equipe tradicional de Assunção, e o Sportivo Luqueño, também do Paraguai, sabiam que a tarefa seria dura diante de adversários tão poderosos.
O Grupo 4 combinava clubes da Colômbia e do Peru. O Alianza Lima, um dos maiores clubes peruanos, e o Millonários, de Bogotá, eram os times de maior destaque, enquanto o Alfonso Ugarte, do Peru, e o Independiente Santa Fé, da Colômbia, buscavam manter-se competitivos e aproveitar suas chances.
No Grupo 5, a tradicional rivalidade entre Chile e Uruguai se refletiu na chave. O Peñarol e o Nacional, de Montevidéu, estavam entre os clubes mais respeitados da competição. Do lado chileno, a Unión Española e o Palestino tentariam usar a força do futebol local para desafiar os gigantes uruguaios.
A formação desses grupos trouxe uma expectativa de confrontos muito equilibrados, especialmente entre as equipes mais tradicionais, e o Cruzeiro entrava na disputa com grandes expectativas. Após grandes participações no cenário nacional e apresentar um elenco de qualidade, o clube mineiro via na Libertadores a oportunidade de se firmar no futebol internacional. A metodologia do torneio, com grupos equilibrados e adversários fortes, exigiria uma campanha sólida desde o início, e o Cruzeiro estava preparado para enfrentar os desafios da fase de grupos com o objetivo de chegar à tão sonhada final.


CRUZEIRO X INTERNACIONAL
A estreia na Libertadores de 1976
O confronto entre Cruzeiro e Internacional no dia 7 de março de 1976, pela abertura do Grupo 3 da Taça Libertadores, ficou marcada como um dos maiores confrontos na história do torneio. Após a dolorosa derrota do Cruzeiro para o Internacional na final do Campeonato Brasileiro de 1975, havia um sentimento de revanche no ar. O time cruzeirense, liderado por Zezé Moreira, queria provar sua força diante de um adversário que, além de já ter conquistado o título brasileiro no ano anterior, ainda seria bicampeão em 1976. O palco estava montado no Mineirão, com mais de 65 mil torcedores presentes, e o clima de tensão era palpável.
O Internacional, comandado por Rubens Minelli, trouxe a Belo Horizonte um elenco repleto de estrelas, como Falcão, que mais tarde se tornaria um dos maiores meio-campistas do futebol brasileiro. Outros destaques eram Valdomiro, um atacante habilidoso, e o lendário zagueiro chileno Figueroa, que impunha respeito em qualquer defesa. O Cruzeiro, por sua vez, contava com jogadores de grande qualidade como Jairzinho, Palhinha, Nelinho e Joãozinho, que estavam determinados a mostrar a força da equipe mineira.
A partida começou de forma eletrizante, com o Cruzeiro abrindo o placar logo aos 4 minutos com Palhinha (1x0), que ampliou o marcador seis minutos depois (2x0). Porém, o Internacional rapidamente reagiu com um gol de Lula aos 14 minutos, acirrando ainda mais a disputa (2x1). Joãozinho fez o terceiro do Cruzeiro aos 21 minutos (3x1), mas Valdomiro, com toda sua experiência, diminuiu para o Internacional aos 39, fechando o primeiro tempo com um placar de 3 a 2.
O segundo tempo prometia ainda mais emoção. Aos 6 minutos, um gol contra de Zé Carlos trouxe o empate para o Internacional (3x3), deixando o clima ainda mais tenso. Aos 12 minutos, Palhinha foi expulso, e com um jogador a menos, o Cruzeiro viu sua tarefa ficar mais complicada. No entanto, Joãozinho, inspirado, marcou mais um aos 18 minutos, colocando o Cruzeiro novamente à frente (4x3). O Internacional, sempre perigoso, voltou a empatar aos 25 minutos com Ramón (4x4). Quando o jogo parecia caminhar para um empate, Nelinho, com sua precisão característica, converteu um pênalti aos 40 minutos, decretando a vitória cruzeirense por 5 a 4.
Essa partida ficou marcada na história como um dos maiores jogos de futebol já vistos, com duas equipes de altíssimo nível jogando de forma aberta e emocionante. Torcedores e cronistas esportivos da época não hesitaram em chamar esse confronto de uma “final antecipada” da Libertadores. Mesmo com a expulsão de Palhinha, o Cruzeiro mostrou sua força diante de um Internacional fortíssimo, que seria bicampeão brasileiro naquele mesmo ano.

Sportivo Luqueño x Cruzeiro
O segundo jogo pelo Grupo 3, aconteceu em 13 de março contra o Sportivo Luqueño, no Paraguai. Enfrentando uma equipe que contava com jogadores experientes como Roberto Cabañas e Atilio García, o Cruzeiro manteve sua postura ofensiva e venceu por 3 a 1, com gols de Roberto Batata, Nelinho e Jairzinho. Sandoval descontou para os paraguaios, mas o Cruzeiro demonstrou sua superioridade, impondo seu ritmo e confirmando a segunda vitória consecutiva.


Olímpia x Cruzeiro

No dia 18 de março, o Cruzeiro foi até Assunção enfrentar o Olímpia, em um confronto difícil que terminou empatado em 2 a 2. O Olímpia, com jogadores de qualidade como Fernando Ceballos, deu trabalho ao time mineiro. Jairzinho e Meneses marcaram para o Cruzeiro, enquanto Díaz e Torres balançaram as redes pelo Olímpia, em uma partida equilibrada que mostrou a força dos paraguaios jogando em casa.

Cruzeiro x Sportivo Luqueño
A volta contra o Sportivo Luqueño, em Belo Horizonte, no dia 24 de março, foi mais tranquila para o Cruzeiro, que goleou por 4 a 1. Palinha, em noite inspirada, marcou duas vezes, acompanhado de Eduardo e Jairzinho, que também balançaram as redes. Nicolíquia descontou para o time paraguaio, mas não conseguiu impedir a superioridade cruzeirense.


Internacional x Cruzeiro 
No dia 28 de março, o Cruzeiro visitou o Internacional em Porto Alegre, em uma revanche do jogo de abertura do grupo. Dessa vez, o Cruzeiro foi mais eficiente e venceu por 2 a 0, com gols de Jairzinho e Joãozinho. O Internacional, com seu elenco recheado de jogadores convocados para a Seleção Brasileira, não conseguiu superar o forte esquema defensivo cruzeirense e viu sua chance de classificação se complicar.


Cruzeiro x Olímpia
Fechando a fase de grupos com chave de ouro, o Cruzeiro recebeu o Olímpia no Mineirão no dia 4 de abril e aplicou mais uma goleada: 4 a 1. Jairzinho, novamente decisivo, marcou duas vezes, com Nelinho e Joãozinho completando o placar. Talavera descontou para o Olímpia, mas o Cruzeiro, já classificado, mostrou que estava em grande forma e pronto para os desafios da fase seguinte.
Com cinco vitórias e um empate, o Cruzeiro terminou a fase de grupos invicto, com 5 vitórias e 1 empate, mostrando força ofensiva e uma defesa sólida, superando adversários tradicionais com elencos qualificados. A expectativa para a próxima fase era alta, e o Cruzeiro se estabelecia como um dos grandes favoritos ao título da Libertadores de 1976.

Análise dos outros grupos da Primeira Fase
Grupo 1 (Argentina e Venezuela)
River Plate (Argentina) foi o grande destaque, vencendo 5 das 6 partidas e dominando o grupo. Com uma defesa sólida, o River garantiu a classificação com facilidade.
Estudiantes (Argentina) também fez uma boa campanha, com 4 vitórias e apenas uma derrota, mas não conseguiu passar o River Plate.
Os venezuelanos Portuguesa e Deportivo Galicia tiveram desempenhos modestos, ficando na parte inferior da tabela, sem chances de classificação.

Grupo 2 (Bolívia e Equador)
Esse grupo foi equilibrado, com LDU Quito (Equador) e Deportivo Cuenca (Equador) terminando empatados em pontos. A LDU avançou graças ao saldo de gols.
Bolívar (Bolívia) teve um bom início, mas acabou ficando em terceiro lugar.
O modesto Guabirá (Bolívia) fechou o grupo com apenas uma vitória e um desempenho bem abaixo dos concorrentes.

Grupo 4 (Colômbia e Peru)
Alianza Lima (Peru) liderou o grupo com três vitórias, garantindo a classificação com uma campanha consistente.
Millonarios (Colômbia), tradicional equipe, lutou pela vaga, mas não conseguiu superar o Alianza.
Alfonso Ugarte (Peru) e Independiente Santa Fé (Colômbia) tiveram campanhas medianas, sem conseguir brigar pelo topo da tabela.

Grupo 5 (Chile e Uruguai)
Peñarol (Uruguai) e Unión Española (Chile) terminaram empatados em pontos, mas o Peñarol avançou devido ao saldo de gols superior.
Palestino (Chile) e Nacional (Uruguai) tiveram desempenhos abaixo do esperado, com o Nacional surpreendentemente ficando na lanterna, sem conseguir nenhuma vitória.


SEMIFINAIS
Na Semifinal, o Cruzeiro enfrentou os adversários pelo Grupo 1: Mesmo jogando fora de casa, a equipe cruzeirense demonstrou sua superioridade técnica e coletiva, enfrentando adversários com elencos de qualidade, formados por jogadores experientes e com passagens por seleções nacionais.
LDU X Cruzeiro
O primeiro confronto foi em Quito, no dia 9 de maio, contra a LDU. A altitude era um fator preocupante, mas o Cruzeiro entrou em campo determinado a buscar a vitória. A LDU contava com alguns jogadores de destaque, entre eles o goleiro Héctor Chumpitaz, um dos principais nomes da seleção peruana e que havia disputado Copas do Mundo. Mesmo com essa forte presença defensiva, o Cruzeiro rapidamente impôs seu ritmo. Palhinha, sempre decisivo, marcou dois gols, mostrando sua frieza e habilidade nas finalizações. Joãozinho, com sua velocidade e técnica, também deixou sua marca, completando o placar de 3 a 1 para o Cruzeiro. Apesar do gol de Carreira para a LDU, o time mineiro saiu de campo com uma vitória convincente, mostrando que estava preparado para enfrentar qualquer adversário.
Alianza X Cruzeiro
A segunda partida aconteceu em Lima, no dia 12 de maio, contra o Alianza. O time peruano também possuía jogadores de destaque, como Hugo Sotil, um dos grandes atacantes da seleção do Peru, conhecido por sua habilidade e visão de jogo. Além de Sotil, o Alianza contava com Juan Reynoso, que mais tarde se tornaria um treinador de sucesso. No entanto, o Cruzeiro mais uma vez mostrou sua força e dominou a partida do início ao fim. Roberto Batata abriu o placar, seguido por dois gols de Joãozinho, que continuava em grande forma. Jairzinho, o "Furacão da Copa", também deixou sua marca, consolidando a goleada de 4 a 0 sobre o Alianza.


ROBERTO BATATA
Uma estrela de brilho eterno
A goleada do Cruzeiro por 4 a 0 sobre o Alianza Lima, no dia 12 de maio de 1976, parecia marcar um dos momentos mais felizes da trajetória do time na Libertadores daquele ano. Com gols de Roberto Batata, Joãozinho (2) e Jairzinho, a equipe dominou o adversário no Estádio El Matute, no Peru, e garantiu uma importante vitória nas semifinais do torneio. O jogo foi perfeito, e Batata, um dos protagonistas, se destacava mais uma vez, levando alegria aos torcedores cruzeirenses e sendo peça-chave no forte elenco montado para buscar a glória eterna.
Logo após a partida, a delegação do Cruzeiro perdeu o voo e precisou aguardar mais um tempo no aeroporto para retornar ao Brasil. No desembarque em Belo Horizonte, a delegação voltou à Toca da Raposa, Batata mostrou sua ansiedade em rever a família. Contra os conselhos dos amigos, que o alertaram sobre o cansaço da longa viagem, ele decidiu seguir direto para Três Corações, no sul de Minas, para buscar sua esposa Denise e o filho Leonardo, de apenas 11 meses. A saudade falou mais alto, e Batata pegou seu Chevette para aquela que seria sua última viagem.
Na Rodovia Fernão Dias, o destino foi cruel. Roberto Batata colidiu de frente com um caminhão e faleceu instantaneamente. A notícia de sua morte foi um choque profundo para o futebol brasileiro, especialmente para o elenco e os torcedores do Cruzeiro que lotaram o cemitério do Bonfim para despedir do ídolo. O jogador, que estava em ascensão e cotado para defender a Seleção Brasileira, deixou uma lacuna irreparável.
Jairzinho, um dos companheiros mais próximos de Batata, relembrou o momento com tristeza: “Pedi ao Dirceu e ao Nelinho para não deixar ele pegar o carro, mas ele foi, pegou o carro e teve o acidente fatal. Isso machucou todos nós.” A perda abalou profundamente o elenco, mas ao mesmo tempo, o grupo encontrou forças para transformar o luto em motivação. Palhinha, artilheiro da Libertadores de 1976, falou sobre o impacto da tragédia no time: “Todos ficamos chocados, mas também nos fortaleceu muito.”

7 imortal – Cruzeiro x Alianza
Na partida seguinte, já de volta ao Mineirão, o Cruzeiro enfrentou novamente o Alianza Lima, apenas cinco dias após a morte de Batata. O clima era de profunda tristeza, mas o time buscou homenagear seu companheiro da melhor maneira. Antes do jogo, uma camisa com o número 7, tradicionalmente usada por Batata, foi estendida no gramado, e o pistonista da banda da Polícia Militar tocou “Silêncio”, num tributo que emocionou a todos.
O Cruzeiro venceu a partida por 7 a 1, em uma exibição de força e determinação. Jairzinho marcou quatro gols, e Palhinha, que havia sido tão próximo de Batata, fez os outros três. O placar final foi uma referência direta à camisa de Roberto Batata, imortalizando seu número 7 em uma homenagem que transcendeu o futebol. Para os companheiros, ele não havia saído de campo; jogava com eles em espírito.

Cruzeiro x LDU
Na sequência da fase semifinal da Libertadores de 1976, o Cruzeiro encerrou sua participação no Grupo 1 com uma atuação de destaque no jogo contra a LDU Quito. No dia 30 de maio, no Estádio do Mineirão, o time celeste garantiu uma vitória por 4 a 1, com gols de Nelinho, Jairzinho, Palinha e Ronaldo, fechando sua campanha com 100% de aproveitamento. Apesar de Tapia marcar para a LDU, a superioridade cruzeirense foi evidente, consolidando a liderança do grupo e confirmando sua vaga na grande final da competição.
Com esse resultado, o Cruzeiro somou 18 gols a favor e apenas 3 contra em quatro jogos, demonstrando a força de seu elenco. A campanha foi impecável: quatro vitórias em quatro partidas, destacando a qualidade ofensiva e a solidez defensiva do time. No Grupo 1, a LDU Quito e o Alianza Lima, ambos com apenas uma vitória, ficaram distantes da equipe mineira.

Enquanto isso, no Grupo 2 da semifinal,
A disputa foi mais equilibrada, envolvendo grandes forças do futebol sul-americano: River Plate, Independiente e Peñarol. River e Independiente terminaram empatados com cinco pontos cada, tendo conquistado duas vitórias, um empate e uma derrota. O Peñarol, tradicional equipe uruguaia, ficou para trás, com apenas uma vitória em quatro jogos.
A definição do finalista no Grupo 2 aconteceu em uma eliminatória decisiva entre River Plate e Independiente, realizada em Buenos Aires no dia 16 de julho. Com um gol de P. González, o River Plate venceu por 1 a 0, garantindo sua vaga na final. Assim, o confronto final seria entre Cruzeiro e River Plate, dois gigantes do futebol sul-americano, prometendo uma decisão histórica.
Essa final marcaria o encontro entre a equipe cruzeirense, que buscava superar a tragédia recente da perda de Roberto Batata, e o poderoso River Plate, em busca do seu primeiro título continental.


A FINAL
GOLEADA EM BH
1º Jogo da Final

No dia 21 de julho de 1976, o Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, foi o palco de um momento histórico: a primeira final da Libertadores disputada em seus gramados. A atmosfera na cidade era de pura emoção, com mais de 58 mil torcedores lotando o estádio para apoiar o Gigante Cruzeiro na primeira partida da final contra o forte River Plate, da Argentina.
Antes do apito inicial, a Rádio Itatiaia tomou a iniciativa de engajar a torcida. Distribuindo panfletos com a letra do Hino Nacional, pediu que os torcedores cantassem como as hinchadas de outros países. E assim, o Mineirão ecoou com a canção, mas ao chegar na parte que menciona "Onde a imagem do Cruzeiro resplandece", o hino foi gritado, demonstrando a paixão e o orgulho da torcida celeste. A Banda da Polícia Militar, com seus potentes sopros, acompanhou a energia da arquibancada.

Duas potências!
Para o confronto, ambas equipes contavam com elencos repletos de jogadores talentosos, o Cruzeiro entrou em campo escalado pelo Técnico Zezé Moreira da seguinte forma:
Goleiro: Raúl Plassmann
Defensores: Nelinho, Morais, Darcy Menezes, Vanderley
Meio-campistas: Eduardo (Ronaldo Drumond), Wilson Piazza (Valdo), Zé Carlos
Atacantes: Jairzinho, Palhinha, Joãozinho
O Maior de Minas tinha em seu elenco jogadores de grande qualidade, com diversos atletas que brilharam pela Seleção Brasileira.
Raúl Plassmann: Um dos melhores goleiros do Brasil na época, conhecido por sua segurança e agilidade. Embora não tenha tido muitas oportunidades na Seleção, foi fundamental na solidez defensiva do Cruzeiro.
Nelinho: Lateral-direito de talento raro, famoso por seus chutes potentes e precisos. Nelinho foi presença constante na Seleção Brasileira, jogando nas Copas do Mundo de 1974 e futuramente a de 1978. Sua habilidade nas cobranças de falta e nos cruzamentos fez dele um dos jogadores mais temidos da época.
Wilson Piazza: Capitão e líder do time, Piazza era um volante de muita técnica e inteligência. Ele também jogava como zagueiro e foi convocado para a Seleção Brasileira, participando da Copa do Mundo de 1974. Piazza era um exemplo de liderança dentro de campo.
Jairzinho: Conhecido como "Furacão", foi um dos grandes ídolos do futebol brasileiro, protagonista na Seleção que conquistou a Copa do Mundo de 1970. Sua velocidade e habilidade no ataque fizeram dele um dos jogadores mais temidos pelos adversários.
Palhinha: Meio-atacante habilidoso, com grande visão de jogo. Embora não tenha sido convocado para a Seleção principal, Palhinha foi um dos destaques do Cruzeiro, especialmente nas competições internacionais, onde sua criatividade se destacava.
Joãozinho: Um atacante veloz e técnico, Joãozinho foi peça chave no ataque do Cruzeiro. Sua capacidade de drible e de criar jogadas ofensivas tornou-o um dos principais nomes do futebol brasileiro na década de 1970.

O River Plate, comandado por Ángel Labruna foi escalado assim :
Goleiro: Ubaldo Fillol (Landaburu)
Defensores: Comelles, Roberto Perfumo, Lonardi, Héctor Osvaldo López
Meio-campistas: Juan José "Jota Jota" López, Reinaldo Merlo, Alejandro Sabella
Atacantes: Pedro González, Leopoldo Luque, Oscar Mas
O River Plate de 1976 era composto por grandes estrelas, muitas das quais vestiram a camisa da Seleção Argentina, ajudando a construir uma base que culminaria no título da Copa do Mundo de 1978.
Ubaldo Fillol: Considerado um dos maiores goleiros da história do futebol argentino, Fillol foi peça chave tanto no River quanto na Seleção Argentina, onde mais tarde se consagraria campeão mundial em 1978. Sua agilidade e precisão na defesa de pênaltis o tornaram uma lenda.
Roberto Perfumo: Conhecido como "El Mariscal", Perfumo foi um dos maiores zagueiros da Argentina. Antes de atuar pelo River Plate, brilhou no Cruzeiro, sendo respeitado por sua liderança e inteligência defensiva. Ele foi uma presença constante na Seleção Argentina durante os anos 70.
Juan José "Jota Jota" López: Um dos grandes craques do meio-campo argentino, Jota Jota foi a mente criativa do River Plate, com sua excelente visão de jogo e habilidade nos passes. Ele também representou a Argentina em diversas ocasiões durante os anos 70.
Leopoldo Luque: Um dos atacantes mais habilidosos de sua geração, Luque foi um dos pilares do ataque do River Plate. Além de brilhar no clube, ele foi peça chave na Seleção Argentina que conquistou o título mundial em 1978.
Oscar Mas: Ídolo do River Plate, Mas foi um atacante veloz e com grande faro de gol. Ele também vestiu a camisa da Seleção Argentina, sendo um dos principais jogadores do clube na década de 1970.

Daniel Passarella - Um dos defensores mais icônicos da história do futebol argentino, Passarella também foi capitão da seleção e teve uma carreira de destaque, incluindo participação em Copas do Mundo e Norberto "Beto" Alonso – um dos jogadores mais talentosos de sua geração, um meio clássico com grande habilidade técnica e um excelente chute de longa distância. Ele também teve participação importante na seleção argentina, sendo uma das principais estrelas de sua época, também faziam parte do elenco, mas não participaram da primeira partida.


Começa a partida!
Quando a bola rolou, o Cruzeiro começou a partida com tudo, o River Plate tentou segurar o ataque celeste com uma linha de impedimento e, quando esta falhava, recorria às faltas. Em uma das primeiras faltas cometidas, Nelinho se preparou para cobrar. Fillol, o lendário goleiro argentino, confiando em sua habilidade, dispensou a barreira. No entanto, teve que se esticar ao máximo para espalmar a cobrança potente de Nelinho, salvando sua equipe.
Aos 21 minutos, Zé Carlos lançou Palhinha, que avançou pela defesa argentina. Roberto Perfumo, o experiente zagueiro, acabou derrubando Palhinha na entrada da área. Desta vez, Fillol montou uma barreira com seis jogadores, mas Nelinho soltou uma bomba indefensável no canto esquerdo, abrindo o placar para o Cruzeiro (1x0). O Mineirão explodiu em comemoração.
Aos 29 minutos, Joãozinho, em um lance brilhante, desarmou o meio-campista JJ López na intermediária, tabelou com Palhinha e passou por Perfumo com maestria. Ele cruzou a bola para a área, onde Palhinha raspou de cabeça, deixando para Eduardo Amorim, que driblou Héctor López e cruzou novamente. Palhinha, bem-posicionado, só teve o trabalho de empurrar a bola para o fundo das redes, ampliando o placar para 2x0.
Aos 33 minutos, um momento decisivo: Fillol, ao tentar interceptar uma jogada, se chocou com Palhinha e precisou ser substituído por Landaburu. Pouco depois, aos 40 minutos, Wilson Piazza lançou Palhinha, que aproveitou uma falha na defesa argentina e ficou cara a cara com Landaburu. Com frieza, Palhinha viu o goleiro argentino hesitar e tocou por cima, marcando o terceiro gol do Cruzeiro (3x0).
No segundo tempo, o Cruzeiro decidiu administrar o resultado, mantendo a posse de bola e explorando os contra-ataques. O River Plate, já sem nada a perder, foi para cima e quase descontou logo aos cinco minutos, quando Luque, em um lance mano a mano com Raúl, chutou para fora.
Aos 18 minutos, o River finalmente conseguiu diminuir a vantagem cruzeirense. Em uma saída de bola errada da defesa celeste, Sabella, que foi o destaque do time argentino, passou por Vanderlei e foi derrubado na área por Darci Menezes. Oscar Más converteu o pênalti, marcando o primeiro gol do River Plate e trazendo alguma esperança para os visitantes (3x1).
Porém, aos 35 minutos, Palhinha, em uma jogada espetacular, passou por vários defensores argentinos e lançou para Jairzinho. O "Furacão" driblou Landaburu, mas acabou perdendo o ângulo para finalizar. Ele então rolou a bola para Valdo, que havia substituído Piazza, e o volante completou para o gol vazio, fechando o placar em 4x1.
A vitória por 4 a 1 sobre o River Plate no Mineirão foi um marco na trajetória do Cruzeiro na Libertadores, destacando-se pela superioridade técnica e tática da equipe.
No entanto, a missão ainda não estava completa. O segundo jogo, em Buenos Aires, prometia ser um grande desafio, especialmente com o River Plate contando com o apoio de sua apaixonada torcida e o retorno de jogadores importantes, como Daniel Passarella. O Cruzeiro, confiante após o resultado no primeiro confronto, estava determinado a manter o foco e a garra para confirmar o sonho da primeira Copa Libertadores da América.


A BATALHA EM BUENOS AIRES
2º Jogo da Final


O Cruzeiro foi para Buenos Aires ciente de que enfrentaria uma verdadeira batalha. Com 90 mil torcedores lotando o Monumental de Núñez, o ambiente era de pura pressão, amplificada pela catimba dos jogadores argentinos. O empate garantiria o título ao Cruzeiro, mas uma derrota, por qualquer placar, levaria a decisão para um terceiro jogo.
O River Plate, reforçado pelo retorno de seus craques Daniel Passarella e Beto Alonso, começou o jogo pressionando. Aos 9 minutos, JJ López abriu o placar em uma cobrança de falta certeira, inflamando ainda mais a torcida argentina (1x0). Mesmo com o revés inicial, o Cruzeiro não se entregou. Jairzinho teve uma grande chance logo em seguida, mas desperdiçou ao tentar encobrir o zagueiro Perfumo após defender o primeiro chute em cima do goleiro Landaburu.
O primeiro tempo foi tenso, com o Cruzeiro enfrentando dificuldades para criar jogadas. Piazza errava passes importantes, enquanto Zé Carlos se desdobrava para conter o trio ofensivo de Merlo, JJ López e Alonso. A defesa cruzeirense, no entanto, conseguiu segurar o ímpeto argentino até o intervalo.
Na volta para o segundo tempo, o Cruzeiro surpreendeu. Logo aos 2 minutos, Palhinha empatou a partida após uma bela troca de passes entre Piazza, Zé Carlos e Jairzinho (1x1). O gol trouxe novo ânimo ao time mineiro, que começou a dominar as ações. Porém, quando o Cruzeiro parecia estar melhor no jogo, um incidente mudou o rumo da partida. Jairzinho se envolveu em uma discussão com Perfumo e ambos foram expulsos, em uma decisão que Jairzinho classificou como injusta, alegando que a atitude do árbitro foi premeditada. Segundo ele, a partida estava repleta de provocações e jogadas desleais por parte dos argentinos.
Com a saída de Jairzinho, o Cruzeiro perdeu um de seus principais jogadores, e o River aproveitou. Aos 30 minutos, em um lance controverso,
Luque chutou forte, Raul espalmou, e na sequência, Vanderlei, que tentava afastar a bola, foi segurado pelo centroavante do River. Pedro González aproveitou a confusão e, com o corpo, empurrou a bola para o fundo das redes, garantindo a vitória por 2 a 1 para o time argentino. O árbitro ignorou a falta evidente no lance, e o River assegurou o triunfo.
Nos minutos finais, com o River jogando com nove homens após a expulsão de JJ López, o Cruzeiro teve uma última chance de empatar, mas Palhinha desperdiçou a cabeçada após cruzamento de Nelinho.
Após o jogo, o técnico Zezé Moreira desabafou, criticando a conduta desleal dos argentinos e a atuação do árbitro. O Cruzeiro, apesar da derrota, sabia que ainda teria mais uma chance de conquistar a taça no terceiro e decisivo jogo, mas os desafios e as armadilhas de jogar em solo argentino haviam deixado marcas profundas.

Marcus Vinícius Trópia Barreto relembra com emoção a aventura de ter acompanhado o Cruzeiro na decisão de 1976. "Eu fui nesse segundo jogo em Buenos Aires! Fomos numa caravana com diversos ônibus", conta ele.

A viagem até a Argentina foi marcada pela animação dos torcedores, que mesmo conscientes da pressão e do desafio que o Cruzeiro enfrentaria no Monumental de Núñez, mantinham a esperança de trazer o título para Belo Horizonte. "Era uma oportunidade única, e não podíamos perder, mas a gente sabia que não seria fácil", lembra Marcus.
No entanto, os recursos eram limitados. "A gente não tinha dinheiro para seguir para Santiago", confessa ele, explicando que, após a derrota por 2 a 1 e sabendo que o terceiro jogo seria em campo neutro no Chile, o grupo decidiu voltar ao Brasil. "Retornamos, mas por coincidência, a caravana estava em Porto Alegre quando o terceiro jogo aconteceu, 48 horas depois."
Sem poder seguir até o Chile, o destino reservou uma experiência igualmente especial. Em um bar de Porto Alegre, junto a outros cruzeirenses e torcedores locais que simpatizavam com a equipe, Marcus assistiu ao jogo final pela televisão. "Assistimos à partida em um bar, e quando o Cruzeiro venceu e se sagrou campeão, foi uma explosão de alegria!", relembra.
O momento era tão único que, mesmo longe do estádio, a comemoração foi digna de um título: "Fizemos um grande Carnaval em Porto Alegre! A cidade, que tinha suas próprias tradições de futebol, se tornou o palco da nossa festa cruzeirense. Foi inesquecível", conclui Marcus, com orgulho de ter feito parte de uma das maiores jornadas da história do Cruzeiro, vivida com a intensidade e a paixão que só os verdadeiros torcedores conhecem.


CAMPEÃO EM SANTIAGO
3º Jogo da Final

O terceiro e decisivo jogo da final da Libertadores de 1976 foi uma verdadeira batalha épica, marcada por tensão, superação e um desfecho dramático que consagrou o Cruzeiro Esporte Clube como campeão. Disputado no Estádio Nacional de Santiago, no Chile, em 30 de julho de 1976, o duelo trouxe um ambiente carregado de expectativa e pressão, com mais de 40 mil torcedores, a maioria apoiando o Cruzeiro, que entrava em campo sem o ídolo Jairzinho, substituído por Ronaldo Drumond, um homem de confiança do técnico Zezé Moreira.
O River Plate também estava desfalcado, perdendo quase toda a sua defesa titular. O goleiro Fillol estava lesionado, e os zagueiros Perfumo, Passarella e Héctor López não puderam participar. Mesmo assim, o time argentino trouxe toda a sua garra, criando um clima de guerra em campo, repleto de catimbas e entradas duras. Do lado do Cruzeiro, o toque de bola e as jogadas individuais de Joãozinho foram os principais destaques, especialmente pela ausência de Jairzinho.

A partida
Logo no início, Nelinho e Joãozinho deram sinais de perigo, com um chute de curva e uma finalização na rede pelo lado de fora. Aos 23 minutos, Joãozinho, sempre atento, roubou uma bola no ataque, Vanderlei fez o cruzamento e Urquiza cortou com a mão. O árbitro não hesitou e marcou pênalti, cercado pelos protestos ferozes dos jogadores do River Plate. Aos 24, Nelinho, com a frieza habitual, deslocou o goleiro Landaburu e abriu o placar, fazendo o Estádio Nacional explodir em comemoração (1x0).
O River não se entregou e respondeu com dois lances perigosos, mas o goleiro Raul brilhou, defendendo um chute de Oscar Más que parecia certo. No intervalo, com o Cruzeiro em vantagem, um momento crucial aconteceu no vestiário. Piazza, o capitão cruzeirense, sofria de uma dor crônica no púbis e estava com dificuldades até para caminhar. Palhinha, desesperado com a possibilidade de perder o líder do time, foi até o Dr. Ronaldo Nazaré e implorou para que ele realizasse uma infiltração no jogador. Com habilidade e rapidez, Dr. Ronaldo fez o procedimento, aplicando um anestésico que garantiria que Piazza pudesse voltar ao campo. “Essa foi a injeção mais abençoada que eu dei na minha vida”, recorda o médico.

A volta para o segundo tempo trouxe ainda mais emoção. O segundo gol do Cruzeiro surgiu de uma roubada de bola de Eduardo no meio de campo. Ele passou para Palhinha, que tentou encobrir Landaburu, mas o goleiro defendeu fora da área. Zé Carlos recuperou, tabelou com Ronaldo Drumond e, após driblar um marcador, deixou Eduardo livre para soltar um chute violento no ângulo direito, ampliando o placar para 2x0.

Mas o River Plate não estava disposto a se entregar. Aos 13 minutos, o que parecia um simples cruzamento se transformou em um momento de tensão. Pedro Gonzalez levantou a bola na área, e Luque, em uma disputa de corpo com os defensores cruzeirenses, caiu ao chão. O árbitro, em meio ao tumulto, decidiu marcar pênalti, uma decisão polêmica que rapidamente incendiou os ânimos em campo. Oscar Más diminuiu para o River (2x1),
Cinco minutos depois, o juiz marcou falta de Vanderlei. enquanto os jogadores do Cruzeiro cercavam o juiz, protestando contra a decisão, Alonso cobrou a falta rapidamente e Urquiza bateu cruzado, deixando Raul sem reação. Indignados, os jogadores do Cruzeiro correram pra cima do juiz e bandeira, mas o gol foi validado. (2x2).
A explosão de alegria dos argentinos contrastou com a frustração dos jogadores e torcedores do Cruzeiro, que temiam que a história se repetisse e que mais uma final pudesse escapar de suas mãos.
O empate trouxe à tona velhos fantasmas. A pressão sobre o Cruzeiro aumentou, e a intensidade do jogo cresceu, refletindo a nervosidade de ambos os lados. A partida se tornou um verdadeiro campo de batalha, com entradas duras e jogadas explosivas, enquanto os ânimos se exaltavam. A atmosfera no Estádio Nacional estava carregada de emoção e expectativa, com os torcedores se levantando a cada jogada, alternando entre a esperança e o desespero.
Aos 42 minutos, em um momento que mudaria a história, o Cruzeiro se reergueu. Vanderlei roubou uma bola no meio de campo e passou para Palhinha, que se livrou de um defensor e driblou Lonardi e recebeu uma falta. Piazza, com a experiência de um verdadeiro capitão, pensou em rolar a bola rapidamente para Palhinha, tentando surpreender a defesa argentina. No entanto, Nelinho o primeiro batedor oficial de faltas do time, percebendo a estratégia, pisou no pé do capitão, impedindo a cobrança rápida. Nesse momento, Joãozinho, que estava à espreita, viu a oportunidade e mesmo sem autorização, em um ato de “molecagem”, com toque magico, mandou a bola para o ângulo direito, sem que Landaburu tivesse tempo de reagir. O Estádio Nacional explodiu em comemoração, enquanto Joãozinho corria feito um louco pela pista de atletismo, celebrando um golaço que selaria a vitória.
A explosão de alegria foi seguida por uma confusão. Com o jogo já nos minutos finais, Eduardo Drumond se envolveu em uma confusão como volante Merlo, que estava batendo o jogo todo. Ronaldo caiu no chão e Zezé Moreira, em um ato desesperado para coibir a pressão argentina, pediu a Guido, massagista do Cruzeiro, que entrasse em campo. No entanto, Guido, em um momento de impulsividade, acabou acertando um soco em Merlo, desencadeando uma briga generalizada. Alonso e Ronaldo foram expulsos, e, ao perceber o caos em campo, o árbitro decidiu encerrar a partida e o Cruzeiro era o novo campeão da Libertadores!
Após o apito final, a cena no gramado foi emocionante. Os jogadores se ajoelharam em círculo, fazendo uma oração em memória de Roberto Batata, simbolizando a união e o espírito de superação que caracterizou a equipe durante toda a competição.
A festa continuou no último andar do Hotel Sheraton, onde a delegação celebrou com um banquete em homenagem ao título. No entanto, uma nova reviravolta aguardava. Joãozinho, ao experimentar camarões pela primeira vez, teve uma grave reação alérgica. Com a ajuda do Dr. Carlos Pinhon, que viajava com a equipe, Joãozinho recebeu a medicação necessária e foi salvo da intoxicação. “Ele nos salvou em campo, e nós o salvamos da alergia”, relembra Dr. Ronaldo Nazaré, encerrando uma noite que se tornaria histórica na trajetória do Cruzeiro Esporte Clube.

A conquista da Copa Libertadores da América de 1976 é um capítulo emblemático e gigante na rica história do Cruzeiro. Em um período em que, exceto pelo Santos de Pelé, que havia vencido em 1963, nenhum outro clube brasileiro havia alcançado tal feito, o Cruzeiro se destacou como o único representante do Brasil a erguer a taça na década de 70. Essa vitória não apenas consolidou a posição do clube como uma potência no futebol sul-americano, mas também simbolizou um momento de grande relevância social e cultural.
No contexto de uma América do Sul marcada pela repressão e pela Ditadura Militar, o triunfo do Cruzeiro trouxe um sopro de esperança e alegria a um povo que vivia dias sombrios. A conquista da Libertadores em 1976 não foi apenas uma vitória esportiva; foi um ato de resistência e uma afirmação da identidade e da força de uma nação. O Cruzeiro se tornou, assim, o primeiro clube brasileiro a conquistar a Libertadores após o lendário Santos, 13 anos depois, reforçando sua importância histórica e emocional.
Essa vitória transcendeu o campo e se tornou um símbolo de luta e união, inspirando gerações de torcedores e solidificando o amor e a paixão pelo clube. A conquista da Libertadores de 1976 é, portanto, uma celebração não apenas do futebol, mas da coragem e da esperança que ele pode proporcionar em tempos de adversidade, solidificando o Cruzeiro como um verdadeiro gigante do esporte brasileiro e sul-americano.
Esse capítulo contou com a participação especial do Dr. Ronaldo Nazaré, ex- Primeiro Médico do Cruzeiro Esporte Clube e Marcus Vinícius Trópia Barreto, Jornalista, Historiador do Cruzeiro e membro do projeto Estrelas que nunca apagam.
Gol de Jairzinho - Cruzeiro 5x4 Internacional - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Gol de Jairzinho - Cruzeiro 5x4 Internacional - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 5x4 Internacional - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 5x4 Internacional - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 5x4 Internacional - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 5x4 Internacional - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Enterro Roberto Batata - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Enterro Roberto Batata - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Enterro Roberto Batata - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Enterro Roberto Batata - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Enterro Roberto Batata - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Enterro Roberto Batata - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 7x1 Alianza  - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 7x1 Alianza - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
Cruzeiro 4x1 River Plate - Créditos: Arquivo Estado de Minas
 Créditos: Arquivo Estado de Minas
Créditos: Arquivo Estado de Minas
 Créditos: Arquivo Estado de Minas
Créditos: Arquivo Estado de Minas
 Créditos: Arquivo Estado de Minas
Créditos: Arquivo Estado de Minas
 Créditos: Arquivo Estado de Minas
Créditos: Arquivo Estado de Minas
 Créditos: Arquivo Estado de Minas
Créditos: Arquivo Estado de Minas
Fontes: Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube 1921-2013- RIBEIRO, Henrique,
Portal Terra, Jornal Estado de Minas e Rsssfbrasil.
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