CAMPEONATOS

Em 1930, o Brasil vivia um período de intensa agitação política e transformações no cenário desportivo. No dia 1º de março, o país assistiu à décima segunda Eleição Presidencial, em que Júlio Prestes saiu vitorioso. No entanto, essa vitória não garantiu sua posse. Insatisfeitos com o domínio paulista na política, líderes de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba organizaram a Revolução de 1930, liderada civilmente por Getúlio Vargas e militarmente pelo tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro. O movimento armado, iniciado em 3 de outubro, visava derrubar o governo de Washington Luís e impedir a posse de Prestes.
A revolta avançou rapidamente. Em 4 de outubro, os revolucionários derrubaram o governo de Minas Gerais. Pouco depois, em 24 de outubro, Washington Luís foi deposto por seus ministros militares, que formaram uma Junta Militar para transferir o poder a Vargas. Finalmente, em 3 de novembro, a Junta Militar entregou o poder a Getúlio Vargas, que se tornou o 14º Presidente do Brasil.
Paralelamente às convulsões políticas, o cenário esportivo também vivia momentos históricos. 1930 marcou a realização da primeira Copa do Mundo de Futebol no Uruguai, marcando o início de um dos maiores torneios de futebol da história. Contando com 13 seleções, a competição consagrou o Uruguai como o primeiro campeão mundial após vencer a Argentina por 4 a 2 na final, em Montevidéu. O Brasil, ainda longe de ser uma potência no futebol, teve uma participação discreta, sendo eliminado na fase de grupos. No entanto, um dos destaques da seleção brasileira foi Fausto dos Santos, o primeiro negro a jogar pela seleção. Conhecido como "A Maravilha Negra", Fausto, que atuava como volante, impressionou pela sua técnica, força e habilidade, ganhando destaque internacional e chamando a atenção de clubes europeus. Sua atuação na Copa de 1930 foi um marco importante para a inclusão de jogadores negros no futebol brasileiro, pavimentando o caminho para futuras gerações de craques afro-brasileiros.​​​​​​​​​​​​​
No futebol brasileiro, especialmente em Belo Horizonte, o campeonato municipal daquele ano foi marcado por polêmicas e reviravoltas. O Palestra Itália, clube formado por imigrantes italianos e operários, já incomodava tanto as torcidas rivais quanto as autoridades do futebol. Era inadmissível para muitos que o clube tivesse alcançado o bicampeonato invicto, sem sequer empatar uma partida.

Em 1930, uma mudança de estatuto no campeonato reduziu o número de times participantes e dividiu as equipes em séries A e B, utilizando o ano de filiação à Federação, como critério. Por ironia do destino, o bicampeão Palestra Itália, sendo um dos clubes mais novos, foi colocado na Série B. Reconhecendo o erro, a Liga Mineira criou duas novas vagas na Série A, incluindo o Palestra devido à sua força e favoritismo ao título daquele ano.
A décima sexta edição do campeonato de Belo Horizonte contou com a participação dos seguintes clubes: América Futebol Clube, Clube Atlético Mineiro, Guarany Foot Ball Club, Palmeiras Foot Ball Club, Sete de Setembro Futebol Clube, Sport Club Calafate, Villa Nova Atlético Clube (de Nova Lima) e Sociedade Sportiva Palestra Itália. O torneio foi disputado em formato de turno e returno, com pontos corridos, onde a vitória valia 2 pontos e o empate 1 ponto.
Não diferente dos anos anteriores, o Palestra começava o campeonato atropelando seus adversários com goleadas.

 - 20 de Abril - Palestra Itália 11x0 Palmeiras / Gols: Ninão (4), Bengala (4), Carazzo, Armandinho, Pires
Ninão e Bengala foram os destaques com seus gols, enquanto Piorra e Armandinho brilharam nas assistências e na velocidade do jogo.
 - 27 de Abril - Calafate 0x6 Palestra Itália / Gols: Carazzo, Ninão (4), Niginho
A partida contra o Calafate marcou a estreia de Niginho, o "Menino Metralha", irmão de Ninão. Com apenas 18 anos, ele entrou no time titular após a lesão de Bengala.
Niginho foi um dos maiores ídolos da história do Cruzeiro, destacando-se como um dos principais artilheiros da história do clube. Sua habilidade e paixão pelo futebol ajudaram a consolidar a reputação do Cruzeiro no cenário nacional.
 - 04 de Maio - Villa Nova 2x3 Palestra Itália / Gols: Lêra, Moore; Ninão, Pires, Bengala

31 de Maio - Primeiro Clássico: Palestra Itália vs. Atlético Mineiro
O Estádio de Lourdes estava lotado com cerca de 12 mil torcedores. O Atlético saiu na frente e terminou o primeiro tempo vencendo por 1 a 0. No segundo tempo, Piorra empatou e Carazzo virou o jogo para 2 a 1. No final, um pênalti foi marcado para o Atlético, mas Geraldo Cantini defendeu a cobrança, garantindo a vitória do Palestra.
O jornal "Minas Geraes" destacou: "Palestra foi inventada em Belo Horizonte para vencer sempre o Athletico."
 - 08 de Junho - Palestra Itália 3x0 Guarany / Gols: Carazzo (2), Nininho
 - 15 de Junho - Palestra Itália 4x1 América / Gols: Bengala (2), Pires, Piorra; Jorivê
 - 29 de Junho - Palestra Itália 3x1 Sete de Setembro / Gols: Malleta, Bengala (2); Camillo
 - 13 de Julho - Palestra Itália 12x0 Palmeiras / Gols: Malleta (6), Nininho (3), Bengala (3)
19 de Julho - Atlético Mineiro Abandona o Campeonato
O Atlético abandonou o campeonato por não concordar com a suspensão de 4 jogos do atacante Cunha, após um clássico contra o América.
 - 20 de Julho - Calafate 1x3 Palestra Itália / Gols: Waldemar; Carazzo (2), Calixto
 - 27 de Julho - Palestra Itália 5x1 Villa Nova / Gols: Carazzo, Niginho (2), Bengala (2); Lêra
 - 03 de Agosto - Palestra Itália 8x0 Guarany / Gols: Ninão (4), Bengala (2), Carazzo (2)
 - 10 de Agosto - Palestra Itália 8x0 Sete de Setembro / Gols: Armandinho, Carazzo (3), Ninão (4)
31 de Agosto - Vitória e Tricampeonato Invicto
No estádio Alameda, o Palestra, escalado com Geraldo, Nereu, Rizzo, Bento, Pires, Nininho, Piorra, Ninão, Carazzo, Bengala e Armandinho, venceu o América por 2 a 0, com gols de Ninão aos 4 minutos do primeiro tempo e Piorra aos 43. Geraldo defendeu um pênalti no segundo tempo. Com essa vitória, o Palestra conquistou o tricampeonato de forma invicta, com 12 vitórias em 12 jogos, 70 gols marcados e apenas 2 sofridos.
Ninão foi o artilheiro da competição pelo terceiro ano consecutivo, com 18 gols.
O Palestra Itália, enfrentou desafios significativos, mas mostrou sua força e determinação ao longo do campeonato, conquistando vitórias importantes e se consagrando tricampeão da cidade. Esse feito reforçou a posição do clube como uma das principais forças do futebol de Belo Horizonte, destacando-se pela qualidade de seu elenco e pelo apoio fervoroso de sua torcida.
A conquista de 1930 não foi apenas uma vitória esportiva, mas também um marco na resistência e perseverança de um clube que representava imigrantes e operários, desafiando as adversidades e mostrando que, no futebol, a determinação e a paixão podem superar qualquer obstáculo.
a esquerda para a direita estão Ninão, Niginho e Bengala em 1936 com a camisa do Palestra Itália. Foto De Palestra a Cruzeiro, uma Trajetória de Glórias, de Plínio Barreto e Luiz Otavio Barreto
a esquerda para a direita estão Ninão, Niginho e Bengala em 1936 com a camisa do Palestra Itália. Foto De Palestra a Cruzeiro, uma Trajetória de Glórias, de Plínio Barreto e Luiz Otavio Barreto
Nininho
Nininho
Times Palestra Itália e Grêmio Ludopédio Calafate
Times Palestra Itália e Grêmio Ludopédio Calafate
Recorte Palestra11x0Palmeiras - Jornal Minas Geraes - 21 e 22 de abril 1930
Recorte Palestra11x0Palmeiras - Jornal Minas Geraes - 21 e 22 de abril 1930
Palestra 8x0 Guarany - Jornal Minas Geraes - 3 e 4 de agosto 1930
Palestra 8x0 Guarany - Jornal Minas Geraes - 3 e 4 de agosto 1930
Fontes:
História das eleições no Brasil: História Eleições 1930
Revolução de 1930: [História do Brasil - Revolução de 1930](https://educacao.uol.com
https://rsssfbrasil.com/,  Jornais da época/ Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.

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