Campeonatos

No início de 1965, o Brasil estava em uma fase de consolidação do regime autoritário. Os militares, agora no poder, estavam focados em legitimar seu governo e reestruturar o sistema político. As perspectivas eram de um endurecimento das medidas repressivas e da consolidação das reformas impostas pelo novo regime. As eleições diretas foram suspensas e estabeleceu-se o bipartidarismo com a criação da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), que apoiava o governo, e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que fazia oposição controlada.
A sociedade brasileira vivia um clima de medo e incerteza, com muitos intelectuais, estudantes e políticos perseguidos ou exilados. A economia também enfrentava desafios, com os militares implementando políticas de austeridade para controlar a inflação e promover o crescimento econômico. No entanto, o futuro político era incerto, com a possibilidade de uma maior repressão e o prolongamento do regime militar ainda em debate.

O cenário desportivo em 1965, após a Copa de 1962, foi marcado por uma mistura de glória e desafios. O Brasil bicampeão mundial em 1958 e 62, continuava a ser uma potência no futebol, com grandes talentos e clubes em destaque, mas também enfrentava a pressão do sucesso e os impactos do regime militar, que afetaram a dinâmica e a gestão do esporte no país.
Por um lado, o regime militar também afetou o esporte. A repressão política e a censura afetaram todas as áreas da sociedade, incluindo o futebol. A liberdade de expressão dos atletas foi limitada, e houve casos de perseguição a jogadores e dirigentes que se manifestavam contra o governo.

Por outro lado, os pontos positivos foram acontecendo em reflexo a conquista da Copa de 62, jogadores lendários como Pelé, Garrincha, e outros continuavam a ser grandes ídolos e influências no futebol. Eles inspiraram muitos jovens e ajudaram a manter o Brasil como uma potência futebolística mundial.
Clubes brasileiros como Santos, Botafogo e Palmeiras ganharam mais notoriedade internacionalmente, participando de competições sul-americanas e excursões internacionais, ajudando a promover o futebol brasileiro no exterior.
Com o sucesso internacional, houve um aumento no investimento em infraestrutura desportiva, como a construção de estádios e centros de treinamento, visando melhorar ainda mais a qualidade do futebol no país. 
Na Capital Mineira, o ano de 1965 iniciou com uma grande expectativa na população belorizontina que vinha acompanhando as obras de construção do Gigante da Pampulha desde o ano de 1960. Cinco anos depois o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, já estava pronto para ser inaugurado e se tornar o palco mais importante do futebol mineiro, o segundo maior estádio do Brasil, com capacidade para 120 mil pessoas. Foi o início de uma nova era que infelizmente acabou deixando obsoletos os tradicionais e charmosos Estadinhos do Barro Preto (Cruzeiro), de Lourdes (Atlético), do Alameda (América) e do Independência (Sete de Setembro).
A construção do Mineirão foi planejada desde a década de 1940, já que a capital mineira seria uma das sedes da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil. Além disso, os estádios de Belo Horizonte eram pequenos e não comportavam 15 mil pessoas. Era preciso um estádio maior e mais moderno já para os moldes da época.

Antes mesmo da inauguração do Mineirão, a diretoria do Cruzeiro, liderada por Felício Brandi, já planejava a transição do clube para o novo estádio. Felício Brandi era um visionário, sempre sonhando alto e planejando transformar o Cruzeiro em uma grande potência. Desde o início das obras do Mineirão, ele fazia visitas quase diárias, acompanhando de perto a evolução do projeto. Sua influência foi crucial para detalhes importantes, como a escolha do lado do estádio onde a torcida do Cruzeiro ficaria nos dias de clássicos, o lado que bate menos sol.
Em 1965, o elenco do Cruzeiro já contava com jogadores de destaque como Tostão, Dirceu Lopes, Pedro Paulo, Vavá, William, Natal e o técnico Airton Moreira. Para reforçar o time, chegaram o lateral Neco e os atacantes Marco Antônio e Hilton Oliveira. De Juiz de Fora, vieram os atacantes Antoninho, Wilson Almeida e Dalmar, além do volante Zé Carlos, que se tornaria um grande ídolo no futuro.
Enquanto o Mineirão passava pelos arremates finais, os jogos aconteciam nos outros estádios da cidade. Para preparar o time, o Cruzeiro realizou uma série de amistosos, vencendo jogos importantes como 1 a 0 contra o Vasco, 2 a 1 contra o Palmeiras, 3 a 1 contra o Flamengo e 2 a 0 contra o Bangu. Nem todas as partidas foram vitórias, com derrotas como 3 a 2 para o USIPA e 4 a 2 para o Corinthians. Esse último confronto, que marcou a despedida do Horto, terminou em uma pancadaria generalizada entre os atletas dos dois times.
No dia 20 de junho de 1965, o Cruzeiro enfrentou o Atlético e venceu por 3 a 1, com três gols de Fescina. Toninho, de pênalti, fez o gol de honra para o Atlético. Aos 43 minutos do segundo tempo, o Cruzeiro colocou o Atlético na roda, com toques de bola e gritos de "olé" vindos das arquibancadas. Isso esquentou os ânimos dos jogadores do Atlético, que partiram para a agressão física. Em segundos, a confusão tomou conta do campo e o árbitro Doraci Jerônimo expulsou todos os jogadores. O clima tenso entre as equipes continuou nos confrontos seguintes.
O primeiro jogo do Cruzeiro no Mineirão foi um amistoso contra o Villa Nova, em uma preliminar entre a Seleção Mineira e o Santos, que marcou a inauguração do sistema de iluminação do estádio. O Cruzeiro venceu o Villa Nova por 3 a 1, com gols de Delmar, João José e Batista. Alguns dos principais jogadores do Cruzeiro, como William, Vavá, Dirceu Lopes, Tostão, Wilson Almeida e Fescina, desfalcaram o time para reforçar a Seleção Mineira.

O Primeiro Clássico no Mineirão
O primeiro clássico entre Cruzeiro e Atlético no Mineirão aconteceu em 24 de outubro, com mais de 47 mil pessoas presentes. O Cruzeiro, escalado com Tonho, Pedro Paulo, William, Vavá, Neco, Ílton, Dirceu Lopes, Wilson Almeida, Tostão, Marco Antônio e Hilton Oliveira, venceu por 1 a 0, com gol de Tostão. O jogo foi tenso devido à grande confusão no confronto anterior entre as equipes, resultando em uma paralisação de 30 minutos após uma nova confusão entre os jogadores atleticanos e a arbitragem.



O Campeonato Mineiro de 1965: A Consagração do Cruzeiro
O Campeonato Mineiro de 1965, também conhecido como "Campeonato do Estádio", foi o primeiro a ter jogos disputados no recém-inaugurado Mineirão. Essa foi a 51ª edição do principal torneio de Minas Gerais. Além do Cruzeiro, participaram América, Atlético, Democrata (Sete Lagoas), Renascença, Siderúrgica (Sabará), Guarani (Divinópolis), Nacional (Uberaba), Uberaba, Uberlândia, Valeriodoce (Itabira) e Villa Nova (Nova Lima). Todos os clubes se enfrentaram em turno e returno no sistema de pontos corridos, com 2 pontos para vitória e 1 ponto para empate.
Nesta edição do campeonato estadual, o grande rival na disputa foi o América, enquanto o Atlético Mineiro se tornou freguês do Cruzeiro. Durante o ano, Cruzeiro e Atlético se enfrentaram cinco vezes, e o Cruzeiro venceu todas! 

 -  22 de abril - Partida amistosa: Cruzeiro 1x0 Atlético, gol de Wilson Almeida
 - 09 de maio - Partida amistosa: Cruzeiro 3x2 Atlético.
O Cruzeiro virou o jogo com gols de Tostão e dois de Dalmar após começar perdendo por 2 a 0.
16 de dezembro - Partida amistosa:
 Cruzeiro 2x0 Atlético, com gols de Bueno (contra) e Tostão. Após o segundo gol, o técnico Airton Moreira fez 9 substituições de uma vez em retaliação às atitudes dos jogadores do Atlético nos jogos anteriores. Nas arquibancadas, a torcida cantava: “1, 2, 3, o galo é freguês!”
Nessa partida jogaram: Tonho (Valdir), Pedro Paulo, William (Celton), Vavá (Dilsinho), Neco (Tenório), Piazza (Ílton), Dirceu Lopes (Zé Carlos), Wilson Almeida (Natal), Tostão (João José), Marco Antonio (Rossi)

Primeiro Turno do Campeonato Mineiro
O Cruzeiro teve um excelente primeiro turno, com 10 vitórias e 3 empates:
 - 11 de julho: Uberlândia 1x2 Cruzeiro | Gols: Carlinhos, Delmar, Fescina
 - 17 de julho: Cruzeiro 0x0 Democrata
 - 25 de julho: Cruzeiro 0x0 Uberaba
 - 01 de agosto: Nacional 0x2 Cruzeiro | Gols: Piazza, Pecinin
 - 05 de agosto: Cruzeiro 2x2 Villa Nova | Gols: Fescina, Dalmar; Paulinho, Romeu
 - 14 de agosto: América 1x2 Cruzeiro | Gols: Wilson Almeida, Dirceu Lopes; Jair Bala
 - 26 de setembro: Guarani 0x1 Cruzeiro | Gol: João José
 - 02 de outubro: Cruzeiro 3x0 Valeriodoce | Gols: João José, Piazza, Tostão
 - 09 de outubro: Cruzeiro 4x0 Renascença | Gols: Tostão (2), Hilton Oliveira, João José
 - 17 de outubro: Cruzeiro 5x0 Siderúrgica | Gols: Dirceu Lopes (2), Piazza, Rossi, Tostão
 - 24 de outubro: Atlético 0x1 Cruzeiro | Gol: Tostão
 - 07 de novembro: Cruzeiro 3x0 Democrata | Gols: Tostão, Marco Antônio, Piazza
 - 14 de novembro: Cruzeiro 1x0 Valeriodoce | Gol: Marco Antônio
Segundo Turno do Campeonato Mineiro
No segundo turno, o Cruzeiro manteve o ritmo e continuou vencendo com placares expressivos:
 - 21 de novembro: Cruzeiro 4x2 Uberaba | Gols: Dirceu Lopes, Tostão (2), João José; Hermínio, Mingo
 - 28 de novembro: Cruzeiro 5x0 Villa Nova | Gols: Wilson Almeida (3), Pedro Paulo, Tostão
 - 05 de dezembro: Cruzeiro 7x0 Nacional | Gols: Piazza (2), Marco Antônio (2), Tostão (2), Hilton Oliveira
 - 11 de dezembro: Cruzeiro 7x1 Guarani | Gols: Marco Antônio (4), Tostão (2), Wilson Almeida; Sonoca

 - 23 de janeiro: Cruzeiro 3x2 América | Gols: Dirceu Lopes (2), Marco Antônio; Eduardo, Nilo

No dia 29 de janeiro de 1966, o Cruzeiro conheceu sua primeira e única derrota no campeonato: Cruzeiro 1x3 Renascença | Gols: Marco Antônio; Nino, Pelado, Silvinho

O Clássico Decisivo
No dia 9 de fevereiro de 1966, Cruzeiro e Atlético se enfrentaram na antepenúltima partida do Campeonato Mineiro de 1965. Em um confronto emocionante, o Cruzeiro saiu vitorioso, vencendo por 2 a 1 com gols de Dirceu Lopes e Marco Antônio. Esse resultado deixou o time do Barro Preto com uma vantagem confortável na tabela.
A confirmação do título estadual veio na partida seguinte, em 12 de fevereiro de 1966, quando o Cruzeiro enfrentou o Uberlândia. Com uma atuação brilhante, a equipe goleou por 6 a 0. O ídolo Dirceu Lopes marcou três vezes, Piazza fez dois gols, e Marco Antônio completou o placar. Com esse resultado, o América já não conseguia mais alcançar o Cruzeiro na tabela. Assim, o Cruzeiro se consagrou o primeiro campeão do Mineirão!
Para cumprir tabela, na última rodada, o Cruzeiro enfrentou o Siderúrgica e goleou por 8 a 3. Os gols foram marcados por Natal (3), Tostão (3), Dirceu Lopes e Marco Antônio. Essa vitória apenas consolidou ainda mais a superioridade do Cruzeiro na competição.
Com a conquista do título estadual, o Cruzeiro garantiu sua classificação para a Taça Brasil de 1966, abrindo caminho para mais desafios e glórias no cenário nacional.
O Campeonato Mineiro de 1965 foi um marco na história do Cruzeiro. Com uma torcida apaixonada e um elenco talentoso, a equipe mostrou sua força e determinação em cada partida, destacando jogadores como Dirceu Lopes, Piazza, Marco Antônio, Tostão e Natal. O Mineirão, recém-inaugurado, foi palco de grandes momentos e vitórias inesquecíveis, consolidando o Cruzeiro como uma potência do futebol brasileiro.
Fontes: rsssfbrasil, Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.​​​​​​​

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