Campeonatos

A TAÇA BRASIL

Os grandes campeonatos europeus, especialmente a Copa dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões), criada em 1955, influenciaram diretamente a criação da Copa Libertadores da América e a Taça Brasil. A competição europeia, idealizada pelo jornal francês L'Équipe e liderada por Gabriel Hanot, reuniu os campeões nacionais em um torneio de mata-mata, elevando a visibilidade e a rivalidade entre os clubes. O Real Madrid dominou as primeiras edições, vencendo cinco vezes consecutivas entre 1956 e 1960, o que consolidou o torneio como o mais prestigiado do continente.O sucesso da Copa dos Campeões motivou os dirigentes sul-americanos a criarem um torneio similar. Em 1958, durante o Congresso da Conmebol, em Buenos Aires, a criação de um campeonato continental de clubes foi oficialmente discutida em 1960, surgiu a primeira edição da Copa Libertadores, organizada pela Conmebol, inspirada no formato europeu, mas com a missão de valorizar os clubes sul-americanos. Assim como a versão europeia, a Libertadores rapidamente se tornou a principal competição interclubes da América do Sul, consolidando a rivalidade internacional e criando a Copa Intercontinental entre os campeões dos dois continentes.
 
Enquanto a Conmebol desenvolvia a ideia da Libertadores, no Brasil havia uma lacuna: até então os campeonatos estaduais eram o centro das atenções, e não havia um título que unificasse o futebol brasileiro.
o país não tinha uma competição nacional que pudesse designar um representante para a recém-criada Copa Libertadores.
Nesse contexto, surgiu a Taça Brasil, que foi criada pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) em 1959, com o objetivo principal de definir o campeão brasileiro e, a partir de 1960, o representante do Brasil na Copa Libertadores. A Taça Brasil foi o primeiro torneio de abrangência nacional no país, envolvendo os campeões estaduais de cada estado. Isso trouxe um novo nível de competitividade ao futebol brasileiro, pois os clubes não apenas buscavam o título nacional, mas também a chance de disputar a prestigiada competição internacional.


ANTES DAS NOSSAS ESTRELAS BRILHAREM

A primeira edição da Taça Brasil foi disputada em 1959, ainda no mesmo ano do congresso que formalizou a criação da Copa Libertadores. 

O torneio foi desenhado em um formato de mata-mata, onde os campeões estaduais competiam entre si em fases eliminatórias. 
Como o futebol brasileiro era regionalizado, o formato da Taça Brasil foi desenhado para refletir as diferentes forças de cada região. Assim, os campeões estaduais das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste começavam a competição nas primeiras fases. Já os clubes dos estados com futebol mais desenvolvido, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, entravam nas fases mais avançadas do torneio, devido à sua maior tradição e força no futebol nacional.
Esse formato regionalizado permitia que clubes de todas as partes do Brasil pudessem disputar o título nacional, embora com desigualdade no nível de competição, já que os times das regiões Sul e Sudeste, em geral, eram os favoritos devido à maior competitividade de seus campeonatos estaduais.
As sete primeiras edições foram vencidas por: Bahia – 1959,  Palmeiras – 1960, Santos – 1961, Santos – 1962, Santos – 1963, Santos – 1964 e Santos – 1965.

A TAÇA BRASIL DE 1966
A Taça Brasil de 1966 foi a 8ª edição do torneio nacional de futebol e contou com a participação de 22 Clubes. O formato de disputa manteve o sistema de mata-mata, onde os clubes jogavam partidas eliminatórias em dois confrontos (ida e volta), e o time com melhor desempenho avançava para a fase seguinte. Caso houvesse um empate no placar agregado, uma terceira partida seria realizada para definir o vencedor.
Clubes participantes:
ABC Futebol Clube (Natal-RN)
AMERICANO Futebol Clube (Campos - RJ)
ANÁPOLIS Futebol Clube (Anápolis - GO)
CAMPINENSE Clube (Campina Grande - PB)
Associação Desportiva CONFIANÇA (Aracaju - SE)
CRUZEIRO Esporte Clube (Belo Horizonte - MG)
Centro Sportivo Alagoano - CSA (Maceió - AL)
Associação DESPORTIVA Ferroviária (Cariacica - ES)
Clube Atlético FERROVIÁRIO (Curitiba - PR)
Esporte Clube FLAMENGO (Teresina - PI)
FLUMINENSE Futebol Clube (Rio de Janeiro - GB)
FORTALEZA Esporte Clube (Fortaleza - CE)
GRÊMIO Foot-ball Porto Alegrense (Porto Alegre - RS)
Esporte Clube INTERNACIONAL (Lages - SC)
Clube NÁUTICO Capibaribe (Recife - PE)
Sociedade Esportiva PALMEIRAS (São Paulo - SP)
PAYSANDU Sport Club (Belém - PA)
RABELLO Futebol Clube (Brasília - DF)
Atlético RIO NEGRO Clube (Manaus - AM)
SAMPAIO CORRÊA Futebol Clube (São Luís - MA)
SANTOS Futebol Clube (Santos-SP) – Campeão da Taça Brasil de 1965
Esporte Clube VITÓRIA (Salvador - BA)
 O Palmeiras, vice campeão paulista de 1965, ganhou o direito de disputa já que o Santos tinha vencido o estadual e a Taça Brasil de 1965.


Forma de disputa
A Taça Brasil de 1966 foi dividida em três fases regionais e mais as fases finais, onde entraram os times mais tradicionais do futebol brasileiro: 

Primeiras fases regionais: Os clubes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste iniciaram a competição em fases preliminares. Eles se enfrentaram em mata-mata dentro de suas regiões para definir quem avançaria para os confrontos nacionais.
Entrada dos clubes do Sul e Sudeste: As equipes dos estados mais fortes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, entravam nas fases finais. O Santos, por ser o atual campeão, só entrou diretamente na semifinal, enquanto outros grandes clubes já entraram na fase de quartas de final.
Sistema de ida e volta: Todas as fases eram disputadas em dois jogos, um em casa e outro fora. Se o empate persistisse no placar agregado, um terceiro jogo, em campo neutro, seria realizado para decidir quem avançaria.


O PRIMEIRO CAMPEÃO BRASILEIRO DE MINAS GERAIS
O Cruzeiro participou das edições da Taça Brasil de 1959, 1960 e 1961, mas não conseguiu grande destaque nessas primeiras tentativas. No entanto, a partir de 1964, o clube começou a esboçar a formação de um time de futebol mais forte e competitivo. A base do elenco foi reforçada por jovens talentos promovidos das categorias de base e por jogadores que retornaram ao clube após passagens por outros times.
Entre as principais contratações estavam jogadores que haviam se destacado na Seleção Mineira campeã do Torneio Brasileiro de Seleções em 1963, como William, que veio do Américo-RJ após passagem pelo Atlético. Outros reforços importantes incluíam Neco, que voltou do Corinthians, Ari e Marco Antônio, do Comercial de Ribeirão Preto, e Rossi, que retornou do Santos. Além disso, o clube manteve peças fundamentais do tricampeonato mineiro de 1959 a 1961, como o goleiro Tonho, Massinha, Vavá, e o próprio Hilton Oliveira.
O grande investimento foi a contratação do zagueiro Cláudio, vindo do Corinthians e presença constante nas convocações da Seleção Brasileira, o que demonstrava a ambição do clube em montar uma equipe forte.
Outro ponto fundamental na preparação do time foi a chegada de jovens talentos que logo se tornariam estrelas. Tostão, revelado pelo América-MG, já despontava como uma das maiores promessas do futebol brasileiro, enquanto Dirceu Lopes, criado nas categorias de base do próprio Cruzeiro, emergia como um dos maiores meias do país. A esses, somou-se o atacante Natal, vindo da categoria de base do clube, que trouxe velocidade e presença de área ao ataque celeste.
A conquista do Campeonato Mineiro de 1965 garantiu ao Cruzeiro a classificação para a Taça Brasil de 1966. Com um elenco sólido e equilibrado, formado por jovens promessas e jogadores experientes, o clube estava pronto para fazer história e conquistar seu primeiro título nacional, superando gigantes do futebol brasileiro.

Início da Temporada
A temporada de 1966 começou com grandes expectativas para a torcida do Cruzeiro. O time iniciou o ano enfrentando desafios de peso, mostrando sua força. No dia 26 de janeiro, venceu o Rapid de Viena, o mais vitorioso clube da Áustria, por 5 a 4.
Em partidas válidas pelo Torneio Magalhães Pinto (Torneio do Estádio Mineirão), no 3 de fevereiro, goleou o Flamengo por 6 a 2, e logo depois, no dia 6 de fevereiro, enfrentou a poderosa seleção da União Soviética, de Lev Yashin, o lendário "Aranha Negra"

Outro grande feito foi a vitória contra o Santos, de Pelé, no Mineirão, por 4 a 3, no dia 29 de março. A sequência de resultados aumentava a confiança da equipe e dos torcedores para a disputa da Taça Brasil.

O Cruzeiro também brilhou no Campeonato Mineiro de 1965, que terminou apenas em fevereiro de 1966. No dia 9 de fevereiro, venceu o clássico contra o Atlético-MG por 2 a 1 e, três dias depois, goleou o Uberlândia por 6 a 0, sagrando-se campeão estadual, garantindo sua vaga para a Taça Brasil de 1966.
O time estava pronto para fazer história.

Para ver mais detalhes sobre essas partidas, visite a página da conquista do Mineiro de 1966.

A CAMPANHA DA TAÇA BRASIL DE 66
A equipe Celeste entrou na competição nas oitavas de final, devido ao formato regionalizado da Taça Brasil, que colocava os campeões estaduais mais fortes diretamente nas fases mais avançadas.


Oitavas de final: Cruzeiro x Americano-RJ
Nos dias 07 e 14 de setembro, o Cruzeiro enfrentou o Americano, representando do Estado do Rio de Janeiro. A primeira partida aconteceu em Goitacazes - RJ e o Cruzeiro venceu com facilidade, 4 a 0. Gols de Tostão, Natal, Zé Carlos e Evaldo. A partida de volta aconteceu no Mineirão e o Cruzeiro goleou por 6 a 1. Evaldo e Marco Antonio marcaram duas vezes, Paulo Roberto fez o gol de honra do Americano. Zé Carlos e Zé Alcindo (contra), completaram a goleada.
 
Quartas de final: Cruzeiro x Grêmio
O Cruzeiro enfrentou o Grêmio, tetracampeão gaúcho, e nos anos seguintes se tornaria heptacampeão estadual, um dos grandes times do futebol brasileiro da época. No primeiro jogo aconteceu no dia 09 de outubro, em Porto Alegre, o Cruzeiro empatou em 0 a 0, conseguindo um bom resultado fora de casa.
Na partida de volta (23 de outubro), no Mineirão, a equipe mineira venceu por 2 a 1.
O Grêmio começou vencendo com um gol de Vieira. Marco Antônio empatou e Tostão marcou o gol da vitória, garantindo a classificação para a semifinal. 

Escalações
Cruzeiro: Raul, Pedro Paulo, William, Cláudio, Ílton Chaves, Piazza, Dirceu Lopes, Tostão, Natal, Evaldo (Marco Antônio), Hilton Oliveira. Técnico Aírton Moreira.

Grêmio: Arlindo, Altemir, Airton, Áureo, Everaldo, Sérgio Lopes, Paíca, Vieira, João Severino, Alcindo*, Valmir. Técnico Luis Engel.

Alcindo foi convocado para a Copa do Mundo de 1966.


Semifinal: Cruzeiro x Fluminense
Nas semifinais, o Cruzeiro encarou o Fluminense, campeão do Estado da Guanabara, nos dias 09 e 23 de novembro.
O primeiro jogo foi no Mineirão diante de mais de 55 mil pessoas. O Cruzeiro venceu por 1 a 0, com um gol relâmpago de Evaldo aos 30 segundos de jogo.
Na volta, no Maracanã, onde o Cruzeiro venceu novamente por 3 a 1, surpreendendo o time carioca em seus domínios. Tostão marcou dois gols, um de falta e outro de pênalti. Dirceu Lopes fez o terceiro e Jorge Costa marcou o gol do Fluminense.

Escalações
Cruzeiro: Raul (Tonho), Pedro Paulo, Célton, Procópio, Neco; Zé Carlos, Dirceu Lopes (Batista); Natal (Wilson Almeida), Evaldo, Tostão, (Marco Antônio), Hilton Oliveira. Técnico Aírton Moreira.

Fluminense: Jorge Vitório (Márcio), Jorge Souza, Jairo, Altair, Severo; Denílson, Jardel (Roberto Pinto), Mário, Samarone (Jorge Costa), Cláudio, Lula (Gilson Nunes). Técnico Nunes.

Altair e Denílson integraram a delegação brasileira para a disputa da Copa do Mundo de 1966.




O Primeiro jogo da grande final, por Marcus Vinícius Trópia Barreto.

Eu tinha acabado de completar 17 anos, e meu pai, Plínio Barreto, me deu de presente algo que eu nunca esqueceria: uma viagem ao Rio de Janeiro para assistir ao segundo jogo da semifinal contra o Fluminense, no Maracanã. A vitória nos levou à final da Taça Brasil, e Belo Horizonte simplesmente parou na expectativa da primeira partida contra o Santos, o time de Pelé. Seria o segundo confronto do Cruzeiro contra aquele timaço, no Mineirão.

O clima era de euforia entre nós, cruzeirenses, mas os torcedores do Atlético Mineiro zombavam, dizendo que o Santos seria hexacampeão com facilidade. E com razão, até certo ponto. O Santos havia conquistado cinco Taças Brasil seguidas e sempre massacrava seus adversários, como na final de 1962, quando venceu o Botafogo de Garrincha, Newton Santos, Didi, Hildo, Manga e outros, por 5 a 0. Era um time imbatível, bicampeão da Libertadores e Mundial, com seis jogadores que estiveram na Copa do Mundo de 1966. Todos esperavam uma vitória fácil do Santos.
Eu, estudante do ginásio Nossa Senhora da Conceição, no bairro Lagoinha, vivia a mesma expectativa de todos. O bairro da Cachoeirinha, onde eu morava, só falava desse jogo. Eu acreditava que o Cruzeiro poderia vencer, mas esperava uma vitória apertada, porque o Santos era simplesmente o melhor time do mundo naquela época.


O JOGO
No dia 30 de novembro de 1966, cheguei ao Mineirão bem antes das 19 horas, e a cidade já estava pintada de azul e branco. O estádio lotou com quase 90 mil pessoas. Quando o jogo começou, mal pude acreditar no que estava vendo. Com menos de um minuto, após uma jogada de Hílton Oliveira pela ponta esquerda, Zé Carlos, do Santos, marcou contra, 1 a 0 pra gente e o estádio explodiu!
Logo depois, aos 4 minutos, Dirceu Lopes lançou Natal, que bateu de primeira e fez 2 a 0, foi um golaço! Aos 20 minutos, Dirceu Lopes acertou um belo chute da entrada da área: 3 a 0! O estádio inteiro estava em êxtase.
O Santos tentou reagir, pressionando por 20 minutos, mas nossa defesa foi impecável. Até que, aos 39 minutos, em um contra-ataque rápido, Dirceu Lopes recebe a bola na entrada da área, dá um corte no zagueiro do Santos e manda um balaço na gaveta. Outro golaço, o quarto, deixando Gilmar, o goleiro bicampeão do mundo, sem reação abraçado na trave.
Aos 42 minutos, Tostão cobrou um pênalti e marcou o quinto gol. O primeiro tempo terminou em 5 a 0 contra o Santos de Pelé. Ninguém saiu para os bares no intervalo, era uma loucura!
O segundo tempo começou com o Santos diminuindo a vantagem. Toninho marcou duas vezes, e o placar ficou em 5 a 2. A torcida ficou em silêncio, mas o time não perdeu a calma. O Santos, já desgastado, não conseguiu manter o ritmo, e aos 27 minutos, Dirceu Lopes completou seu hat-trick, marcando o sexto gol.

Quando o jogo acabou, Cruzeiro 6, Santos 2, eu mal conseguia acreditar no que tinha visto. Esperei meu pai na do portão principal do estádio e fomos para casa, ainda extasiado, revivendo cada momento daquele jogo. Era como se tudo tivesse sido um sonho.


O TIME
Todos os onze jogadores do Cruzeiro fizeram uma partida inesquecível. Raul, nosso jovem goleiro, foi simplesmente impecável, segurando firme em momentos de pressão. A zaga, liderada pela experiência de William e Procópio, mostrou segurança o tempo todo. Procópio, que já tinha passado por Fluminense, Palmeiras, São Paulo e seleção brasileira, jogou como um verdadeiro veterano. E Neco, nosso lateral, parecia saber exatamente como desarmar Dorval sem cometer falta, um lateral moderno que fazia tudo com precisão.
No meio de campo, Wilson Piazza e Dirceu Lopes foram perfeitos. A dupla dominou o jogo com inteligência e técnica. E lá na frente, Natal, Evaldo, Tostão e Hílton Oliveira estavam inspirados. Eles jogaram o jogo da vida deles. Fazer seis gols no Santos, o melhor time do mundo na época, era quase inacreditável.
Mas, sem dúvida, o craque da noite foi Dirceu Lopes. Se todos os jogadores mereciam nota 10, Dirceu foi nota 11. Ele esteve em outro nível, comandando o meio-campo, participando dos gols, sempre à frente.
Aquela vitória por 6 a 2 no Mineirão contra o Santos é considerada uma das maiores exibições de um clube brasileiro em uma final. Até hoje, esse jogo é lembrado como um momento que mudou o futebol brasileiro. Estar lá e ver isso de perto foi algo que jamais esquecerei.


O Segundo Jogo
No dia 7 de dezembro de 1966, o Cruzeiro entrou em campo no Pacaembu, em São Paulo, para o segundo jogo da final contra o Santos. Vestido de branco, o time mineiro estava escalado com Raul, Pedro Paulo, William, Procópio, Neco, Piazza, Dirceu Lopes, Tostão, Natal, Evaldo e Hilton Oliveira, sob o comando do técnico Aírton Moreira. Do outro lado, o Santos, com Pelé no ataque, veio com Cláudio, Lima, Haroldo, Oberdan, Zé Carlos, Zito, Mengálvio, Amauri (Dorval), Toninho, Pelé e Edu, treinados por Lula.
Logo aos 23 minutos do primeiro tempo, Pelé abriu o placar para o Santos. Dois minutos depois, Toninho ampliou para 2 a 0, e assim terminou a primeira etapa. A sensação no estádio era de que o Santos iria devolver a goleada sofrida no Mineirão, e muitos acreditavam que uma terceira partida seria necessária, já que o regulamento não considerava saldo de gols.
“No intervalo da partida, dirigentes do Santos e o presidente da Federação Paulista,  visitaram o vestiário cruzeirense querendo negociar a terceira partida para o Maracanã. Esse acontecimento acabou mexendo com o brio dos jogadores que voltaram para a segunda etapa determinados a mudar a história da partida.”
Relembram Willian, zagueiro do Cruzeiro, em entrevista à TV Alterosa, na matéria que comemora os 40 anos da conquista da Taça Brasil e Natal, em entrevista a um canal do Youtube.


Aos 8 minutos do segundo tempo, o Cruzeiro teve a chance de diminuir a diferença com um pênalti, mas Tostão viu o goleiro Cláudio defender sua cobrança. No entanto, aos 18 minutos, Tostão se redimiu, marcando de falta e diminuindo para 2 a 1. Dez minutos depois, Dirceu Lopes empatou a partida, incendiando a torcida cruzeirense no Pacaembu. Aos 44 minutos, Natal marcou o gol da virada, fazendo 3 a 2 e garantindo o título para o Cruzeiro!
Aquele jogo consagrou Tostão e Dirceu Lopes como dois dos maiores talentos do futebol brasileiro. Tostão, com apenas 19 anos, já havia disputado a Copa do Mundo de 1966 e, anos depois, seria coroado com a conquista da Copa de 1970 pela seleção brasileira. O Cruzeiro, com essa vitória, escrevia seu nome na história do futebol nacional.

As Comemorações
Após o final do jogo, Belo Horizonte se transformou em uma grande festa em Azul e Branco regada de muita cerveja, fogos de artifício e muita alegria que se arrastou madrugada adentro, já que no dia seguinte era feriado municipal em BH, nem a chuva atrapalhou as comemorações.

“A cidade de Belo Horizonte tinha ainda seus aspectos de uma cidade interiorana e todo mundo ficava sabendo que acontecia, por incrível que pareça. Na praça Raul Soares, esquina com Augusto de Lima, no Barro Preto, tinha um bar. O dono do bar era um ex-jogador do Atlético, Barbatana, e o Barbatana recebeu na noite do dia 7 a diretoria do Atlético, que foi para o bar secar o cruzeiro. Estavam lá o Fábio Fonseca, presidente do Atlético, José Ramos e outros diretores do Atlético, e vibravam junto com os outros atleticanos presentes quando o Santos abriu 2 a 0. Poucos cruzeirenses presentes no bar. Vem o segundo tempo. Quando o Cruzeiro empata o jogo em 2 a 2, metade dos atleticanos sumiram e Fábio Fonseca presidente do Atlético foi se esconder no banheiro e cruzeirense foram chegando 2 a 2 nos daria o título. No último minuto Natal faz o terceiro gol. Não tinha mais secadores no bar do atleticano Barbatana, Fábio Fonseca se escondeu com a toalha do bar e saiu correndo sob a gozação dos torcedores do Cruzeiro. O Barbatana quis fechar o bar mas os cruzeirense não deixaram e o bar só foi fechar a 6 horas da manhã do dia 8.”
Relembra Marcus Trópia Barreto.

Essa conquista impactou muito no futebol brasileiro, visto que havíamos sido eliminados na Copa do Mundo meses antes, não passando da primeira fase. Uma tristeza enorme tomou conta do nosso futebol, menos no Cruzeiro, que veio com uma nova forma de jogar. Um futebol rápido e envolvente, quanto um futebol praticado principalmente no Rio e São Paulo, que primava pela lentidão.
O Cruzeiro quebrou esse paradigma e se tornou o time do momento, desbancando não só o Santos, como o Palmeiras e o Botafogo, que dominavam o futebol brasileiro. 
O título da Taça Brasil de 1966 não apenas elevou o Cruzeiro ao topo do futebol brasileiro, mas também o consolidou como um dos grandes clubes do país, abrindo caminho para futuras conquistas. Além disso, com a vitória, o clube garantiu a vaga para disputar a Copa Libertadores da América de 1967, o primeiro time do Estado de Minas Gerais a participar da competição, aumentando sua projeção internacional.


​​​​​​​FIM DA TAÇA BRASIL
Após a edição de 1966, aconteceram mais duas edições, com o Palmeiras vencendo em 1967 e o Botafogo em 1968.

A Taça Brasil foi extinta em 1968, dando lugar a competições mais abrangentes, como o Robertão, que se transformaria no embrião do Campeonato Brasileiro, consolidado em 1971. 
Contudo, em 2010, a CBF unificou os títulos da Taça Brasil e do Robertão com os do Campeonato Brasileiro, reconhecendo esses campeões como legítimos vencedores do Brasileirão. Isso conferiu ao Santos oito títulos nacionais e ao Palmeiras, quatro.
MARCUS VINÍCIUS TRÓPIA BARRETO
Esse capítulo da história do Cruzeiro teve a participação especial de Marcus Barreto que pode trazer sua experiência vivida e abrilhantar ainda mais os relatos da grande decisão da Taça Brasil de 1966.

Marcus é um cruzeirense apaixonado, jornalista, pesquisador da história do Cruzeiro. Atualmente Sócio do Futebol e membro do conselho do Cruzeiro Esporte Clube. Filho do grande cruzeirense, repórter e cronista esportivo, Plínio Barreto. 
Creditos das fotos: Jornal Estado de Minas
Fontes: rsssfbrasil, Estado de Minas e Globo, Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.​​​​​​​

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