O ano de 1944 foi um período crucial na Segunda Guerra Mundial, marcado por eventos decisivos que mudaram o curso do conflito. No dia 6 de junho de 1944, conhecido como o "Dia D", cerca de 100.000 soldados aliados desembarcaram nas praias da Normandia, na França. Esta operação, que marcou o início da libertação das principais cidades europeias ocupadas pelos alemães, tinha como objetivos finais a ocupação de Berlim e a invasão do "Ninho da Águia" nos Alpes bávaros, reduto do Partido Nazista.
O Brasil também desempenhou um papel importante na guerra, enviando tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e aviadores da Força Aérea Brasileira (FAB) para integrar o Quinto Exército dos Estados Unidos no norte da Itália.
Entre os bravos soldados brasileiros, estava Adelino Torres, mais tarde conhecido como O Pracinha, e que se tornaria uma lenda do futebol mineiro e brasileiro. Sua história vai muito além dos gramados e é marcada por coragem, dedicação e amor ao seu clube do coração, o Cruzeiro.
Adelino iniciou sua carreira no futebol jogando pelo Industrial e Pedro Leopoldo, times de sua cidade natal. Em 1943, ele se alistou no Exército e jogou pelo time do 12º Regimento de Infantaria. No mesmo ano, foi contratado pelo Cruzeiro para formar a linha média ao lado de Juca e Caieirinha, integrando o time campeão mineiro de 1943.
Adelino iniciou sua carreira no futebol jogando pelo Industrial e Pedro Leopoldo, times de sua cidade natal. Em 1943, ele se alistou no Exército e jogou pelo time do 12º Regimento de Infantaria. No mesmo ano, foi contratado pelo Cruzeiro para formar a linha média ao lado de Juca e Caieirinha, integrando o time campeão mineiro de 1943.
No entanto, em março de 1944, antes do início da campanha do Bicampeonato, Adelino foi convocado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar na Segunda Guerra Mundial. Ele se juntou a mais de 25 mil brasileiros na missão de defender os Aliados.
Adelino contou ao jornal Diário da Tarde sobre suas experiências na guerra: "Vivi dias de terror. Vi companheiros tombarem pelas balas inimigas. Devo ter mandado muitos alemães para o outro mundo, mas não gosto de lembrar desse tempo. Um dia, uma granada explodiu perto de mim e fui parar no hospital de Livorno. Quando voltei à ativa, enfrentei Montecastello. Estava em Palma quando recebemos a notícia do fim da guerra. Foi um delírio! Finalmente, poderíamos voltar ao Brasil sãos e salvos, embora nunca esquecendo os companheiros que ficaram em Pistoia."
A "Vitória no Inferno", como foi chamada a Batalha de Montecastello, onde Adelino voltou à ativa, foi crucial para impedir o avanço dos nazistas no Norte da Itália. A batalha durou de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945. Apesar de começarem em desvantagem, os Aliados, incluindo as tropas brasileiras, conseguiram virar o jogo após quatro ataques sem sucesso e muitas baixas.
Depois da guerra, Adelino voltou ao Brasil e ao futebol. Sua bravura nos campos de batalha e nos gramados deixou um legado que é lembrado até hoje. Ele é um verdadeiro exemplo de determinação e heroísmo, tanto na guerra quanto no esporte.
No Brasil, enquanto o mundo estava imerso no conflito, o cenário desportivo também fervilhava de emoção. O futebol, paixão nacional, oferecia um escape necessário para a população, trazendo momentos de alegria em tempos tão sombrios.
Em 1944, o Cruzeiro Esporte Clube enfrentou um dos momentos mais difíceis de sua história. O clube passava por uma grave crise financeira, que obrigou a diretoria a fazer cortes significativos e estabelecer um padrão de salários para reduzir a folha de pagamento. A situação era tão alarmante que surgiu um movimento interno sugerindo que o clube voltasse ao amadorismo. No entanto, essa ideia foi rejeitada pelo conselho.
Apesar das dificuldades, os jogadores campeões mostraram um incrível amor pelo clube. Eles fizeram um pacto e renovaram seus contratos, comprometendo-se a lutar pelo Cruzeiro. A torcida, sempre fiel, também entrou em ação. Organizaram a "Campanha do Gol", na qual cada participante pagava Cr$1,00 (1 cruzeiro) por gol marcado pelo time. Esse esforço coletivo ajudou o clube a se estabilizar financeiramente e se preparar para a disputa do campeonato mineiro.
O CAMPEONATO MINEIRO DE 1944
O Campeonato Mineiro de 1944 manteve a forma de disputa com três turnos, sendo o terceiro realizado em campo neutro. Participaram América, Atlético, Sete de Setembro, Siderúrgica, Villa Nova e o Cruzeiro.
O Cruzeiro estreou em casa no dia 9 de abril, vencendo o Villa Nova por 1 a 0, com um gol de Bibi. Seguiram-se os seguintes jogos:
- 16 de abril: Atlético 1x1 Cruzeiro / Gols: Baiano (Atlético); Juca (Cruzeiro)
- 30 de abril: América 0x0 Cruzeiro
- 7 de maio: Cruzeiro 1x1 Siderúrgica / Gols: Ismael (Cruzeiro); Rômulo (Siderúrgica)
- 21 de maio: Sete de Setembro 1x3 Cruzeiro / Gols: Tilim (Sete de Setembro); Braguinha, Ismael, Gérson (Cruzeiro)
- 30 de abril: América 0x0 Cruzeiro
- 7 de maio: Cruzeiro 1x1 Siderúrgica / Gols: Ismael (Cruzeiro); Rômulo (Siderúrgica)
- 21 de maio: Sete de Setembro 1x3 Cruzeiro / Gols: Tilim (Sete de Setembro); Braguinha, Ismael, Gérson (Cruzeiro)
Com a vitória sobre o Sete de Setembro, o Cruzeiro acumulou 7 pontos e terminou o primeiro turno em segundo lugar, com 2 pontos a menos que o líder Atlético.
Início do Segundo Turno
No início do segundo turno, Cruzeiro e Villa Nova se enfrentaram novamente no dia 28 de maio e empataram em 3 a 3. Os gols do Cruzeiro foram marcados por Niginho, Braguinha e Alcides. Após o terceiro gol do Cruzeiro, o Villa Nova abandonou a partida, deixando a torcida cruzeirense perplexa e indignada.
No início do segundo turno, Cruzeiro e Villa Nova se enfrentaram novamente no dia 28 de maio e empataram em 3 a 3. Os gols do Cruzeiro foram marcados por Niginho, Braguinha e Alcides. Após o terceiro gol do Cruzeiro, o Villa Nova abandonou a partida, deixando a torcida cruzeirense perplexa e indignada.
No dia 11 de junho, Cruzeiro e Atlético se enfrentaram no estádio do Barro Preto. O Atlético liderava o campeonato, mas o técnico Bengala do Cruzeiro introduziu o sistema de “marcação cerrada”, uma tática trazida pelo treinador húngaro Krushener. Em apenas três minutos, o Cruzeiro definiu a vitória com gols de Alcides e Braguinha. O Atlético descontou com Resende, mas o placar final foi Cruzeiro 2, Atlético 1.
Jogos Decisivos e a Mudança de Técnico
- 09 de julho: Siderúrgica 1x2 Cruzeiro / Gols: Arlindo (Siderúrgica); Alcides, Niginho (Cruzeiro)
- 23 de julho: Cruzeiro 0x0 Sete de Setembro
- 06 de agosto: Cruzeiro 5x1 América / Gols: Niginho (2), Braguinha (2), Alcides (Cruzeiro); Zezé (América)
Com a goleada sobre o América, o Cruzeiro conquistou o segundo turno, com 15 pontos. Após a saída do técnico Bengala, que foi treinar o Botafogo, o clube surpreendeu ao convidar o árbitro Chico Trindade para ser o novo treinador. Mesmo sendo conselheiro do Atlético, Trindade assumiu e treinou o time até 1946.
- 09 de julho: Siderúrgica 1x2 Cruzeiro / Gols: Arlindo (Siderúrgica); Alcides, Niginho (Cruzeiro)
- 23 de julho: Cruzeiro 0x0 Sete de Setembro
- 06 de agosto: Cruzeiro 5x1 América / Gols: Niginho (2), Braguinha (2), Alcides (Cruzeiro); Zezé (América)
Com a goleada sobre o América, o Cruzeiro conquistou o segundo turno, com 15 pontos. Após a saída do técnico Bengala, que foi treinar o Botafogo, o clube surpreendeu ao convidar o árbitro Chico Trindade para ser o novo treinador. Mesmo sendo conselheiro do Atlético, Trindade assumiu e treinou o time até 1946.
Terceiro Turno e Interrupção
Na primeira partida do terceiro turno, o Cruzeiro venceu o Sete de Setembro por 3 a 2 em 26 de agosto. O campeonato foi interrompido pelo Brasileiro de Seleções Estaduais e só voltou em dezembro.
Na primeira partida do terceiro turno, o Cruzeiro venceu o Sete de Setembro por 3 a 2 em 26 de agosto. O campeonato foi interrompido pelo Brasileiro de Seleções Estaduais e só voltou em dezembro.
- 26 de dezembro: Cruzeiro 5x2 Villa Nova / Gols: Braguinha (3), Niginho, Alcides (Cruzeiro); Foguete, Gilson (Villa Nova)
- 30 de dezembro: América 3x3 Cruzeiro / Gols: Gabardo, Mauro, Alfredinho (América); Braguinha, Niginho, Alcides (Cruzeiro)
- 30 de dezembro: América 3x3 Cruzeiro / Gols: Gabardo, Mauro, Alfredinho (América); Braguinha, Niginho, Alcides (Cruzeiro)
A Reta Final e o Título
O Cruzeiro chegou à penúltima rodada na liderança, com 2 pontos de vantagem sobre o Atlético. Em 21 de janeiro de 1945, no estádio do Alameda, o Cruzeiro venceu o Siderúrgica por 2 a 1, com gols de Ismael e Alcides. O Atlético venceu o Villa Nova, mantendo a diferença de 2 pontos.
A última rodada, marcada para 4 de fevereiro de 1945, teve uma surpresa: o Atlético não compareceu, perdendo por WO. Assim, o Cruzeiro se tornou bicampeão mineiro de forma invicta, com 9 vitórias e 6 empates em 15 jogos.
Niginho foi o artilheiro do time com 6 gols.
Niginho foi o artilheiro do time com 6 gols.
Reconhecimento
A campanha do bicampeonato foi elogiada pelo jornal "A Tabela":
“Vencendo de maneira brilhante o Siderúrgica, no domingo último, o Cruzeiro manteve a sua invencibilidade e sagrou-se bicampeão mineiro. Essa vitória coloca o clube das estrelas na posição que fez jus pela fibra e técnica, que constituem as grandes qualidades. O Cruzeiro, desde o início dessa brilhante jornada, se apresentou com um padrão de jogo, com um espírito de luta, com uma tenacidade para vencer. Sempre enfrentou seus adversários com a certeza de que seria o vencedor. Por isso, venceu! O título lhe pertence com todas as honras porque ele honradamente o conquistou!”
A campanha do bicampeonato foi elogiada pelo jornal "A Tabela":
“Vencendo de maneira brilhante o Siderúrgica, no domingo último, o Cruzeiro manteve a sua invencibilidade e sagrou-se bicampeão mineiro. Essa vitória coloca o clube das estrelas na posição que fez jus pela fibra e técnica, que constituem as grandes qualidades. O Cruzeiro, desde o início dessa brilhante jornada, se apresentou com um padrão de jogo, com um espírito de luta, com uma tenacidade para vencer. Sempre enfrentou seus adversários com a certeza de que seria o vencedor. Por isso, venceu! O título lhe pertence com todas as honras porque ele honradamente o conquistou!”
A trajetória do Cruzeiro em 1944 foi marcada pela superação e determinação, tanto dentro quanto fora de campo. Os jogadores e a torcida mostraram um compromisso inabalável com o clube, superando as adversidades financeiras e desportivas. Cada gol marcado não era apenas um ponto no placar, mas uma vitória contra as dificuldades que ameaçavam o futuro do Cruzeiro.
A história do Cruzeiro em 1944 é um exemplo de como a união e a paixão pelo futebol podem superar qualquer desafio. A combinação do esforço dos jogadores e do apoio fervoroso da torcida foi fundamental para que o clube se mantivesse firme e competitivo, deixando um legado de perseverança e amor ao esporte.
Fontes: rsssfbrasil, Jornal Minas Gerais/ Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.