Campeonatos

Em 1960, o cenário do rock n' roll estava em transição, com muitos dos pioneiros dos anos 1950 enfrentando desafios. Elvis Presley estava no exército, e Little Richard havia deixado a música para seguir uma carreira religiosa. A morte trágica de Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Bopper em 1959 também marcou profundamente o gênero. Nesse período, novos artistas como Roy Orbison começaram a emergir, e o rock n' roll adotou um som mais polido e produzido, com influências do pop se tornando mais evidentes.
Além disso, o cenário musical britânico estava começando a se preparar para a futura Invasão Britânica, com bandas como The Beatles e The Rolling Stones experimentando com o rock n' roll. A influência do rhythm and blues continuava forte, com artistas como James Brown e Ray Charles moldando o som do soul, que influenciaria profundamente o rock. O surf rock também ganhou popularidade na Califórnia, com bandas como The Beach Boys trazendo um som novo e temático. Assim, 1960 foi um ano de mudança e preparação para a diversificação criativa que marcaria a década.
O Cenário político brasileiro estava em plena transformação, vivendo momentos históricos que moldariam seu futuro. Um dos marcos mais significativos foi a inauguração de Brasília em 21 de abril, a nova capital do país, idealizada pelo presidente Juscelino Kubitschek. Este evento simbolizou a modernização e o desenvolvimento nacional, com uma cidade planejada para ser o coração político e administrativo do Brasil. No mesmo ano, as eleições presidenciais trouxeram Jânio Quadros ao poder, com 48% dos votos válidos, representando a UDN. Em um curioso desdobramento político, João Goulart, do PSD-PTB, foi eleito vice-presidente, evidenciando a complexidade e diversidade do cenário político brasileiro.
No mundo dos esportes, 1960 também foi um ano marcante. Internacionalmente, foi realizada a primeira Copa das Nações Europeias, precursor da atual Eurocopa. No Brasil, o futebol continuava a brilhar, com a Seleção Brasileira conquistando a Taça do Atlântico após uma vitória expressiva sobre a Argentina por 5 a 1. Este ano também marcou o nascimento de dois futuros ícones esportivos: Diego Maradona, em 30 de outubro, e Ayrton Senna, em 21 de março. No cenário nacional, o Palmeiras fez história ao vencer o Campeonato Brasileiro de Futebol de 1960, conhecido na época como Taça Brasil, derrotando o Fortaleza nas finais para conquistar seu primeiro título brasileiro.
Para o Cruzeiro Esporte Clube, 1960 foi um ano de desafios e expectativas. Tendo conquistado o Campeonato Mineiro em 1959, o clube ganhou o direito de disputar a Taça Brasil, o campeonato nacional mais importante da época. Infelizmente, o Cruzeiro foi eliminado pelo Fluminense, não conseguindo avançar na competição. No entanto, a equipe demonstrava seu potencial e com Felício Brandi no comando do futebol, plantava as sementes para o sucesso que viria a seguir na década.
Brandi teve uma participação fundamental na conquista do Campeonato Mineiro de 1960 pelo Cruzeiro. Como diretor de futebol, ele desempenhou um papel crucial na montagem do elenco e na gestão do time, além de fazer doações financeiras que foram indispensáveis para o sucesso do clube. Ele foi reconhecido como o "grande condutor da vitória", destacando-se por sua modéstia e dedicação ao clube, apesar das dificuldades e oposições internas que enfrentou​. Sua liderança e apoio ao técnico Niginho foram essenciais. Brandi garantiu que Niginho tivesse todas as condições necessárias para comandar a equipe, inclusive pagando do próprio bolso pelo seu salário. Além disso, Brandi implementou uma abordagem cuidadosa e estratégica, proibindo qualquer celebração antecipada para manter o foco total no campeonato, o que ajudou a garantir o título estadual​. 
Sua contribuição foi tão significativa que foi lembrada como um dos pilares da vitória, com um perfil no periódico "O Diário" destacando sua importância e descrevendo-o como o "General da Vitória". Assim, a participação de Felício Brandi foi decisiva para o Cruzeiro conquistar o bicampeonato mineiro e consolidar sua trajetória de sucesso.

O Campeonato de 1960
O Campeonato Mineiro de 1959 terminou em março do ano seguinte, deixando um intervalo significativo até o início do campeonato de 1960, que só começou no segundo semestre. Com essa folga no calendário, o Cruzeiro aproveitou para se preparar realizando amistosos e participando de competições locais. Os resultados desses amistosos foram positivos, com vitórias importantes, como a sobre o Londrina por 3 a 1 no Paraná e a sobre o Grêmio por 2 a 1 no estádio Independência. O clássico da Paz, disputado contra o Atlético Mineiro em Brasília, terminou empatado em 2 a 2.
Além dos amistosos, o Cruzeiro disputou e conquistou a segunda edição da Copa Belo Horizonte, um torneio organizado pela Associação Mineira dos Cronistas Esportivos com apoio da Federação Mineira. Participaram do torneio Atlético, América, Sete de Setembro e Renascença. O Cruzeiro venceu o América, o Renascença e o Sete de Setembro, garantindo o título com um empate contra o Atlético. Os jogos da Copa Belo Horizonte foram marcados pela atuação destacada dos jogadores, com vitórias importantes: 2 a 1 contra o América, 3 a 1 contra o Renascença e 3 a 1 contra o Sete de Setembro. No empate por 1 a 1 contra o Atlético, os gols foram marcados por Emerson para o Cruzeiro e Luís Carlos para o Atlético. O time era treinado por Niginho e tinha jogadores como Rossi, Pireco, Procópio, Massinha, Amauri, Cléver, Raimundinho, Tomazinho, Dirceu, Emerson e Hilton Oliveira.
O Campeonato Mineiro de 1960, a 46ª edição oficial do principal torneio de Minas Gerais, foi disputado em turno e returno, no sistema de pontos corridos. Esse ano trouxe novidades importantes: a Federação Mineira permitiu substituições durante as partidas, com cada time podendo fazer duas trocas (um goleiro e um jogador de linha) e criou a Segunda Divisão do campeonato, rebaixando os dois últimos colocados.
Participaram do campeonato equipes tradicionais, incluindo América, Atlético, Renascença e Sete de Setembro, ambos de Belo Horizonte, além de times de outras cidades como Democrata e Bela Vista de Sete Lagoas, Curvelo Esporte Clube de Curvelo, Guarani de Divinópolis, Meridional de Conselheiro Lafaiete, Metalusina de Barão de Cocais, Pedro Leopoldo Futebol Clube de Pedro Leopoldo, Siderúrgica de Sabará, Uberaba Sport Club de Uberaba, Valeriodoce de Itabira e Villa Nova de Nova Lima.
O Cruzeiro manteve uma base forte com jogadores como Genivaldo, Massinha, Procópio, Nilsinho, Amauri, Cléver, Pireco, Raimundinho, Iranildo, Mirin, Dirceu, Gradin, Emerson, Hilton Oliveira, Abelardo, Elmo e o técnico Niginho, todos focados na conquista do bicampeonato estadual. A estreia do Cruzeiro no campeonato foi no dia 3 de julho, contra o Curvelo, no estádio Sávio Filho, onde o time celeste foi derrotado por 2 a 1. Esse início decepcionante foi rapidamente superado com uma série de vitórias:

 - 10 de julho: Metalusina 1x5 Cruzeiro (Gols: Petrônio; Amauri, Elmo (2), Hilton Oliveira (2))
 - 14 de julho: Cruzeiro 4x0 Bela Vista (Gols: Emerson (2), Amauri, Nelsinho)
 - 17 de julho: Pedro Leopoldo 0x1 Cruzeiro (Gol: Hilton Oliveira)
 - 24 de julho: Cruzeiro 3x1 Meridional (Gols: Elmo (2), Emerson; Atanásio)
 - 30 de julho: Siderúrgica 0x1 Cruzeiro (Gol: Dirceu Pantera)
 - 7 de agosto: Cruzeiro 2x2 Valeriodoce (Gols: Elmo, Dirceu Pantera; Percy, Graúna)
 - 11 de agosto: Cruzeiro 3x1 Uberaba (Gols: Elmo, Hilton Oliveira, Dirceu Pantera; Reinaldo)
 - 21 de agosto: Cruzeiro 2x1 Villa Nova (Gols: Hilton Oliveira, Amauri; Hélio)

Em 23 de agosto, já com boa parte do primeiro turno do Campeonato Mineiro concluída, o Cruzeiro estreou na Taça Brasil, vaga conquistada após o título estadual de 1959. Enfrentou o Rio Branco, campeão do Espírito Santo. No primeiro jogo, o Cruzeiro perdeu em casa por 1 a 0, mas venceu a partida de volta em Vitória por 1 a 0, forçando uma terceira partida. Novamente em Vitória, o Cruzeiro venceu por 1 a 0, avançando na competição. Na segunda rodada, enfrentou o Fluminense, atual campeão carioca comandado por Zezé Moreira, empatando o primeiro jogo em casa por 1 a 1 e sendo goleado no Rio de Janeiro por 4 a 1, resultando na eliminação da Taça Brasil.
Mesmo após a eliminação, o Cruzeiro manteve o foco no Campeonato Mineiro. No dia 4 de setembro, enfrentou o América e foi derrotado por 1 a 0. Apesar dessa derrota e da eliminação na Taça Brasil, o time celeste continuou sua campanha com confiança, permanecendo na liderança da disputa estadual. Esse período foi de aprendizado e resiliência para o Cruzeiro, que se mostrou determinado a conquistar o bicampeonato estadual e fortalecer sua posição no cenário do futebol brasileiro.

 - 11 setembro: Cruzeiro 2x1 Sete de Setembro / Gols: Amauri, Iranildo; Zé Luiz
 - 25 setembro: Atlético 2x0 Cruzeiro
 - 09 outubro: Renascença 2x2 Cruzeiro / Gols: Abelardo, Robson; Dirceu Pantera, Hilton Oliveira
 - 13 outubro: Cruzeiro 2x1 Democrata / Gols:  Elmo, Gegê (contra); Zé Roberto
 - 16 outubro: Guarani 0x1 Cruzeiro / Gol: Dirceu Pantera

Partidas disputadas pelo Cruzeiro no segundo turno
 - 23 outubro: Cruzeiro 3x1 Meridional / Gol: Amauri, Elmo, Dirceu Pantera; Ivanir
 - 30 outubro: Cruzeiro 2x0 Guarani / Gols: Raimundinho (2)
 - 01 novembro: Bela Vista 0x2 Cruzeiro / Gols: Elmo, Dirceu
 - 06 novembro: Cruzeiro 2x1 Siderúrgica / Gols: Hilton Oliveira, Raimundinho; Zé Leite
 - 13 novembro: Uberaba 2x2 Cruzeiro / Gols: Oadir, Lacerda; Raimundinho, Amauri
 - 20 novembro: Valeriodoce 1x1 Cruzeiro / Gols: Graúna; Elmo
 - 24 novembro: Cruzeiro 1x0 Renascença / Gol: Rossi
 - 27 novembro: Cruzeiro 3x1 Curvelo / Gols: Emerson, Rossi (2); Dirceu
 - 04 dezembro: Cruzeiro 2x1 América / Gols: Rossi (2); Ari
 - 08 dezembro: Cruzeiro 2x0 Metalusina / Gols: Raimundinho, Rossi
 - 11 dezembro: Villa Nova 0x2 / Gols: Cruzeiro Raimundinho (2)
 - 29 dezembro: Cruzeiro 3x1 Pedro Leopoldo / Gols: Raimundinho, Rossi; Caé

Reta Final do Campeonato de 1960
No dia 19 de janeiro de 1961, o Cruzeiro enfrentou o Sete de Setembro em um jogo crucial para suas aspirações no Campeonato Mineiro. Precisando de uma vitória simples para se aproximar do título, o time estrelado enfrentou dificuldades devido à ansiedade. O jogo foi marcado por muitas chances perdidas e terminou empatado em 1 a 1, com Emerson marcando para o Cruzeiro e Guido para o adversário.
A pressão continuava alta quando, em 22 de janeiro, o Cruzeiro enfrentou o Atlético no lotado estádio Independência, com mais de 21 mil torcedores presentes. O rival não tinha mais chances de título, mas o Siderúrgica de Sabará ainda estava na disputa. O Cruzeiro, no entanto, estava em uma posição confortável e não precisava vencer, desde que o Siderúrgica tropeçasse.
Antes mesmo do jogo terminar, chegou a notícia que o Siderúrgica havia perdido. A festa tomou conta das arquibancadas, e os jogadores celestes, ao perceberem a euforia da torcida, só queriam que a partida acabasse para poder celebrar. O jogo terminou 0 a 0, e a torcida cruzeirense invadiu o campo para comemorar o bicampeonato. A empolgação dos torcedores foi tão grande que até alguns rivais alvinegros aplaudiram os jogadores celestes durante a volta olímpica. Naquele dia, 22 de janeiro de 1961, o Cruzeiro conquistava o título do Campeonato Mineiro de 1960.
O Diário da Tarde destacou a conquista do bi com as seguintes palavras: “O título de 59 não chegará a lavar a alma barropretana. Para tantos dissabores anteriores, o feito não fora o suficiente para apagar as mágoas de cada coração cruzeirense. O bicampeonato baniu o fel e as amarguras”.
Na última rodada, em 19 de fevereiro, o Cruzeiro venceu o Democrata de Sete Lagoas por 1 a 0, com gol de Emerson, concluindo uma campanha brilhante com 30 partidas disputadas, 21 vitórias, 6 empates e apenas 3 derrotas. A década de 1960 estava apenas começando, e os cruzeirenses tinham motivos de sobra para acreditar em um futuro brilhante.
Procópio Cardoso: Pilar da Defesa Celeste
Nascido em Salinas (MG) em 21 de março de 1939, Procópio Cardoso Neto foi um dos maiores zagueiros que o futebol brasileiro já viu. Sua carreira começou no Renascença, de Minas Gerais, e logo se destacou, passando por alguns dos maiores clubes do Brasil, como Cruzeiro, Atlético Mineiro, Palmeiras e São Paulo. No Cruzeiro, ele se tornou uma lenda, sendo peça fundamental nas conquistas dos títulos mineiros de 1959 e 1960.
Procópio também vestiu a camisa da Seleção Brasileira, demonstrando sua habilidade e liderança em campo. Após encerrar a carreira como jogador, iniciou uma respeitável trajetória como treinador. Começou no Cruzeiro em 1977 e passou por diversos clubes importantes, incluindo Atlético Mineiro, Fluminense, Grêmio, América Mineiro, Atlético Paranaense, Goiás, Bahia, América do Rio, além de ter experiência no futebol árabe.
No Cruzeiro, Procópio teve duas passagens marcantes. A primeira entre 1959 e 1961, onde suas performances consistentes e sólidas ajudaram o clube a alcançar grandes resultados. Retornou ao clube em 1966 e permaneceu até 1974, vestindo a camisa azul estrelada em 212 jogos, segundo o Almanaque do Cruzeiro, de Henrique Ribeiro. Sua presença em campo era sinônimo de segurança e confiança para o time.

Conclusão: A Década de 1960 e o Início de uma Era de Glórias
A década de 1960 foi um período de transformação e consolidação para o Cruzeiro Esporte Clube. Com a liderança de figuras icônicas como Procópio Cardoso, o time construiu uma base sólida que seria crucial para os anos seguintes. As conquistas dos campeonatos mineiros de 1959 e 1960 não apenas elevaram o status do clube, mas também prepararam o terreno para uma era de sucesso que viria na década de 1970.
A década começou com desafios e grandes disputas, mas terminou com o Cruzeiro estabelecendo-se como uma força dominante no futebol brasileiro. O bicampeonato mineiro foi um marco importante, trazendo confiança e uma mentalidade vencedora para o clube. A torcida celeste, cada vez mais apaixonada e engajada, viu em cada vitória um prenúncio do que estava por vir.
O caminho trilhado nos anos 60 foi pavimentado com suor, dedicação e talento. A resiliência mostrada em jogos decisivos, a capacidade de superação após derrotas e a constante busca pela excelência criaram uma identidade forte e inquebrantável para o Cruzeiro. Esta década foi o início de uma longa trajetória de glórias, que viria a consolidar o clube como um dos maiores do Brasil.
A história do Cruzeiro na década de 1960 é uma narrativa de evolução e conquista, marcada por figuras lendárias como Procópio Cardoso e uma torcida fiel que sempre acreditou no potencial do time. Esses anos lançaram as bases para um futuro brilhante, onde o Cruzeiro continuaria a conquistar títulos e a encantar gerações de torcedores.
Fontes: rsssfbrasil, Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.​​​​​​​

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