O ano de 1945 foi um marco global de transformações profundas. Enquanto o mundo se recuperava dos horrores da Segunda Guerra Mundial, os últimos suspiros do conflito ecoavam pela Europa devastada. Em abril, Adolf Hitler, diante da iminente derrota do III Reich, suicidou-se em seu bunker em Berlim, precipitando o colapso do regime nazista. A queda de Berlim marcou o fim da guerra na Europa, seguida pela descoberta chocante dos campos de concentração nazistas, como Auschwitz, revelando a magnitude dos crimes cometidos sob o regime de terror.
Contudo, a guerra ainda persistia no Pacífico, onde os Estados Unidos intensificaram os bombardeios contra o Japão, culminando nos devastadores ataques nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Esses eventos, somados à rendição japonesa em setembro do mesmo ano, encerraram oficialmente o conflito mundial, mas deixaram um legado de destruição e trauma que ecoaria por décadas.
Enquanto o mundo se reerguia, o Brasil vivia seu próprio período de transformação política. O ano de 1945 testemunhou a redemocratização do país com a promulgação da Lei Constitucional nº 9 em fevereiro, seguida pela anistia política em abril, que permitiu o retorno de exilados e o reestabelecimento das liberdades civis. Em dezembro, as primeiras eleições gerais diretas desde a década de 1930 elegeram Eurico Gaspar Dutra como o novo presidente do Brasil, marcando uma nova era na política nacional.
O ESTÁDIO JK
Em Minas Gerais, o futebol era uma paixão que unia multidões. O Cruzeiro Esporte Clube, conhecido por sua fervorosa torcida Palestrina, vivia um período de ascensão marcado não só por vitórias nos gramados, mas por um projeto grandioso fora deles.
Com o crescimento da torcida celeste, o antigo estádio já não comportava o número de apaixonados que apoiavam o time. Decidida a construir um novo lar para seus jogadores e fãs, a diretoria do Cruzeiro lançou a campanha "Mil Sócios". Cada sócio contribuiu com 1 mil Cruzeiros, garantindo os recursos para a obra. Sob a liderança do presidente Mário Grosso e do encarregado de obras Wilson Saliba, começou um grande mutirão.
Em Minas Gerais, o futebol era uma paixão que unia multidões. O Cruzeiro Esporte Clube, conhecido por sua fervorosa torcida Palestrina, vivia um período de ascensão marcado não só por vitórias nos gramados, mas por um projeto grandioso fora deles.
Com o crescimento da torcida celeste, o antigo estádio já não comportava o número de apaixonados que apoiavam o time. Decidida a construir um novo lar para seus jogadores e fãs, a diretoria do Cruzeiro lançou a campanha "Mil Sócios". Cada sócio contribuiu com 1 mil Cruzeiros, garantindo os recursos para a obra. Sob a liderança do presidente Mário Grosso e do encarregado de obras Wilson Saliba, começou um grande mutirão.
O estádio, localizado no coração do Barro Preto em Belo Horizonte, foi completamente renovado em apenas quatro meses. As antigas arquibancadas de madeira deram lugar a estruturas modernas de cimento, aumentando a capacidade para 15 mil torcedores. Novos vestiários, tribuna de honra, tribuna de imprensa e um túnel exclusivo para os jogadores foram construídos, garantindo conforto e segurança. A lateral do campo foi realocada para a Av. Augusto de Lima, permitindo a expansão do espaço, onde foram adicionadas uma piscina e quadras de basquete e vôlei.
A inauguração do estádio, em 1º de julho de 1945, foi uma festa memorável para os palestrinos e os novos cruzeirenses. O então prefeito de Belo Horizonte e ilustre torcedor do clube, Juscelino Kubitschek, discursou emocionado: "Esta é uma obra de fé e solidariedade, que enobrece aqueles que a tornaram possível. O Cruzeiro Esporte Clube agora se integra ao panorama esportivo de Belo Horizonte, com uma tradição de valor e cavalheirismo".
A Inauguração e Primeiros Jogos
Para celebrar a inauguração, o Cruzeiro enfrentou o Botafogo do Rio de Janeiro em um amistoso. O jogo não só quebrou recordes de público e renda em Minas Gerais, arrecadando Cr$91.000, como também marcou um empate histórico de 1 a 1. Niginho marcou para o Cruzeiro, enquanto o craque Heleno de Freitas balançou as redes para o Botafogo.
Para celebrar a inauguração, o Cruzeiro enfrentou o Botafogo do Rio de Janeiro em um amistoso. O jogo não só quebrou recordes de público e renda em Minas Gerais, arrecadando Cr$91.000, como também marcou um empate histórico de 1 a 1. Niginho marcou para o Cruzeiro, enquanto o craque Heleno de Freitas balançou as redes para o Botafogo.
Em 21 de novembro de 1945, o estádio Juscelino Kubitschek foi iluminado pela primeira vez, marcando o início das partidas noturnas no Barro Preto. O Cruzeiro enfrentou o América do Rio de Janeiro em um amistoso que terminou em uma vitória impressionante por 4 a 0. Braguinha foi o destaque, marcando dois gols, enquanto Niginho e novamente Braguinha fecharam o placar.
O estádio Juscelino Kubitschek não era apenas um local para jogos de futebol; era um símbolo de crescimento e ambição para o Cruzeiro Esporte Clube e sua vibrante torcida. Em um período de reconstrução nacional e otimismo renovado, o clube celeste se ergueu não apenas como campeão nos gramados, mas como um pilar de esperança e união em Minas Gerais.
Este capítulo é um tributo à determinação dos jogadores, diretores, e torcedores que tornaram possível a construção do estádio e marcaram uma era de ouro para o Cruzeiro Esporte Clube.
Este capítulo é um tributo à determinação dos jogadores, diretores, e torcedores que tornaram possível a construção do estádio e marcaram uma era de ouro para o Cruzeiro Esporte Clube.
O Campeonato Mineiro de 1945 e a Busca pelo Tricampeonato do Cruzeiro Esporte Clube
Em 1945, o Campeonato Mineiro de Futebol ganhou uma nova dinâmica, com a participação de sete clubes: Cruzeiro, Uberaba, América, Atlético Mineiro, Siderúrgica, Sete de Setembro e Villa Nova. Uma das novidades foi a inclusão do Uberaba, que, em acordo com os clubes da capital, disputou todas as partidas do terceiro turno no Triângulo Mineiro.
Em 1945, o Campeonato Mineiro de Futebol ganhou uma nova dinâmica, com a participação de sete clubes: Cruzeiro, Uberaba, América, Atlético Mineiro, Siderúrgica, Sete de Setembro e Villa Nova. Uma das novidades foi a inclusão do Uberaba, que, em acordo com os clubes da capital, disputou todas as partidas do terceiro turno no Triângulo Mineiro.
O regulamento do campeonato consistiu em uma fase inicial em pontos corridos, onde todas as equipes se enfrentaram em turno e returno. Após a conclusão desta fase, os três melhores times avançaram para um turno adicional, onde jogaram novamente entre si para definir o campeão.
O Cruzeiro, conhecido como Pavilhão do Barro Preto, era o time a ser batido, montou seu time com base nos títulos anteriores, mantendo a estrutura sólida que o caracterizava. Com exceção de Braguinha, Juvenal e Selado, que se integraram ao elenco nos últimos cinco anos, o time contava com jogadores experientes como Niginho, Braguinha e Ismael, fundamentais para o sucesso da equipe.
A jornada do Cruzeiro começou com uma vitória crucial sobre o Siderúrgica por 1 a 0, gol de Niginho, no primeiro turno. Essa vitória marcou o início de uma campanha liderada pelos celestes, que demonstraram consistência e determinação ao longo da competição.
Resultados do primeiro turno:
- 25 de abril: Cruzeiro 4x0 Sete de Setembro / Gols: Braguinha (2), Nogueirinha, Niginho
- 05 de maio: Cruzeiro 3x3 Villa Nova / Gols: Nogueirinha, Ismael, Braguinha; Alfredo Bernardino, Petrônio, Ceci
- 12 de maio: América 1x1 Cruzeiro / Gols: Noronha; Sellado
- 20 de maio: Cruzeiro 4x2 Atlético / Gols: Niginho, Braguinha, Sellado, ismael; Lucas Miranda (2)
- 26 de maio: Cruzeiro 4x1 Uberaba / Gols: Niginho, Ismael (2), Nogueirinha; Filipim
- 25 de abril: Cruzeiro 4x0 Sete de Setembro / Gols: Braguinha (2), Nogueirinha, Niginho
- 05 de maio: Cruzeiro 3x3 Villa Nova / Gols: Nogueirinha, Ismael, Braguinha; Alfredo Bernardino, Petrônio, Ceci
- 12 de maio: América 1x1 Cruzeiro / Gols: Noronha; Sellado
- 20 de maio: Cruzeiro 4x2 Atlético / Gols: Niginho, Braguinha, Sellado, ismael; Lucas Miranda (2)
- 26 de maio: Cruzeiro 4x1 Uberaba / Gols: Niginho, Ismael (2), Nogueirinha; Filipim
Após dominar o primeiro turno, o Cruzeiro continuou firme no segundo turno, enfrentando adversários e buscando manter o ritmo e a liderança no campeonato.
Resultados do segundo turno:
- 29 de julho: Villa Nova 1x0 Cruzeiro / Gol: Foguete]
- 05 de agosto: Siderúrgica 1x4 Cruzeiro / Gols: Orlando Fantoni; Nogueirinha (2), Niginho, Ismael.
- 12 de agosto: Uberaba 3x3 Cruzeiro / Gols: Nezinho, Barros, cabelo; Niginho (2), Braguinha.
No dia 26 de agosto, o Cruzeiro venceu o América por 3 a 2 em um jogo emocionante. Niginho marcou dois gols e Ismael fechou o placar para o time celeste, enquanto Gabardinho e Gabardo descontaram para o América. Esse dia foi especial também pelo retorno de Adelino, jogador do Cruzeiro convocado para o exército durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo sem atuar, Adelino recebeu homenagens calorosas da torcida no estádio, que aplaudiu seu nome das arquibancadas de cimento.
- 16 de setembro: Cruzeiro 3x2 Atlético / Gols: Ismael, Levi, Braguinha;Nívio, Baztarrica.
O Terceiro turno
No terceiro e último turno do campeonato, o Cruzeiro manteve sua regularidade. Em 23 de setembro, no Estádio JK, o time do Barro Preto enfrentou o Villa Nova e venceu por 3 a 1. Niginho foi o destaque com dois gols, enquanto Eduardo marcou o terceiro para o Cruzeiro. Um gol contra de Milton aumentou a vantagem celeste.
O jogo foi marcado por uma grande confusão em campo, cujo motivo ainda é desconhecido. Petrônio, jogador do Villa Nova, acabou hospitalizado, e outros envolvidos foram parar na delegacia. Adelino, de volta aos gramados após servir na Segunda Guerra Mundial, agiu para acalmar os ânimos, evitando que a briga se espalhasse para as arquibancadas.
Conhecido por seu estilo duro e determinado, Adelino era respeitado até mesmo por seus adversários mais difíceis, como Nívio do Atlético. Em uma citação famosa do livro “Páginas Heroicas”, ele revela sua postura em campo: “Eu roía um osso para travar-lhe as escapadas; às vezes até com umas botinadas.”
- 14 de outubro: Cruzeiro 3x0 Uberaba / Gols: Ismael (2), Braguinha]
- 28 de outubro: Atlético 3x0 Cruzeiro
- 28 de outubro: Atlético 3x0 Cruzeiro
A Decisão
No dia 04 de novembro de 1945, o Cruzeiro teve a oportunidade de garantir antecipadamente o título do campeonato enfrentando o Siderúrgica de Sabará no campo do Barro Preto. O time escalado pelo técnico Chico Trindade foi Geraldo II, Bibi, Caieirinha, Adelino, Hemetério, Juvenal, Juvenal, Nogueirinha, Selado, Levi, Ismael e Braguinha.
Foi um jogo difícil e disputado, onde o Cruzeiro precisava da vitória. Hemetério abriu o placar aos 11 minutos (1-0), mas logo aos 15 minutos, Paulo Florêncio empatou para o Siderúrgica (1-1). Ismael marcou o segundo gol celeste aos 34 minutos do primeiro tempo (2-1), porém Mingueirinha empatou novamente aos 35 minutos da etapa final (2-2). Aos 40 minutos, Ismael marcou seu segundo gol na partida, garantindo a vitória por 3 a 2 e o tricampeonato mineiro para o Cruzeiro.
Para completar a tabela, o Cruzeiro ainda venceu duas partidas: em 18 de novembro, ganhou do América por 1 a 0 com gol de Ismael, e em 22 de novembro, goleou o Sete de Setembro por 5 a 0, com dois gols de Levi e Sellado, e um de Ismael.
Niginho foi o artilheiro do campeonato, marcando 14 gols.
A conquista do tricampeonato contou com grande apoio da torcida celeste, que teve a maior presença e renda nos estádios, contribuindo com Cr$ 260.000,00 para o clube, quase metade da renda total do campeonato, que foi de Cr$ 600.000,00.
O clássico contra o rival de Lourdes foi o jogo de maior arrecadação, gerando pouco mais de 34 mil cruzeiros.
Uma curiosidade, no jornal Diário Esportivo publicado em 3 de agosto de 1945, relata como era o comportamento das torcidas dos 3 principais clubes de Minas, na parte que falam da torcida do Cruzeiro, o jornal a descreve da seguinte forma:
“Passamos uma venda nos olhos e voltamos para 1930. Estamos em pleno apogeu do Palestra, toda a colônia dos italianos era para o Palestra. “
“Palestra pra cá, palestra pra lá. Também pudera né, O time tinha nome de Itália...
Hoje tudo é diferente. Veio a guerra e com ela, a troca de nome. O Cruzeiro é mais sugestivo .........
E agora se fala em Palestra, eles corrigem, agora é "Cruzeiro Duro" “
Hoje tudo é diferente. Veio a guerra e com ela, a troca de nome. O Cruzeiro é mais sugestivo .........
E agora se fala em Palestra, eles corrigem, agora é "Cruzeiro Duro" “
“(...) O clube do Barro Preto possui uma torcida entusiasmada que o aplaude nas vitórias e nas derrocadas. “
Curiosamente o texto termina da seguinte forma: “Siderurgica, Sete, Vila e Uberaba não possuem torcidas tão numerosas para fazerem frente aos 3 grandes da capital. “
Fontes: rsssfbrasil, Jornal Minas Gerais/ Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.