Campeonatos

O ÚLTIMO TÍTULO DO PALESTRA ITÁLIA
Nos anos 1940, o Brasil vivia um período de grandes transformações políticas e sociais. A população urbana crescia rapidamente, registrando um aumento de 46%, enquanto a população rural crescia apenas 17%. Apesar desse crescimento urbano, o país ainda era predominantemente rural ao final da década, com 64% dos 33,2 milhões de habitantes vivendo no campo.
No campo político, a era de Getúlio Vargas trouxe significativas mudanças trabalhistas. Em 1940, Vargas instituiu o salário-mínimo, um marco importante para os trabalhadores brasileiros. Três anos depois, em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi promulgada, regulando as relações de trabalho e colocando os sindicatos sob controle do Estado. Essas medidas foram cruciais para a classe trabalhadora e marcaram a história do direito trabalhista no Brasil.
Enquanto isso, a Europa enfrentava os horrores da Segunda Guerra Mundial. Na primavera de 1940, as forças alemãs invadiram a Europa Ocidental, e, em junho do mesmo ano, a União Soviética, encorajada pelos alemães, ocupou os países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia. A Itália, aliada da Alemanha no Eixo, entrou na guerra em 10 de junho de 1940.
Em meio a esse cenário global tumultuado, dois futuros ícones do século XX nasceram: John Lennon, músico e ativista britânico, em 9 de outubro de 1940, e Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, em 23 de outubro de 1940, no Brasil.​​​​​​​
10 ANOS DE JEJUM
Após conquistar o tricampeonato em 1930, o Palestra Itália, teve anos de intensas disputas e turbulências.
Em 1931, o Palestra Itália iniciou o campeonato da cidade com vitórias esmagadoras, destacando-se Niginho. No dia 27 de setembro, após golear o América por 8 a 1, o Palestra perdeu a liderança do campeonato devido a uma revolta na Liga Mineira. Villa Nova, América e Sete de Setembro abandonaram a competição. Na última rodada, o Palestra venceu o Atlético por 3 a 2, empatando em pontos, e um desempate em dois jogos foi necessário. O Palestra perdeu o primeiro jogo e o segundo, marcado para 6 de dezembro, foi tumultuado por agressões e falta de cumprimento do acordo pelo Atlético. O Palestra se recusou a jogar, rompeu relações com o Atlético, e não aceitou a nova partida marcada pela Federação.
Em 1932, o presidente do Palestra, Lídio Lunardi, fundou a Associação Mineira de Esportes Gerais (AMEG) após divergências com a Liga Mineira. O Palestra sofreu baixas importantes, como a saída do técnico Matturio Fabbi e do jogador Carazzo. No campeonato da AMEG, o clube foi vice-campeão, com Bengala sendo o artilheiro.
Em 1933, com a profissionalização do futebol mineiro e a criação da AME, que unificou os campeonatos de Belo Horizonte e Juiz de Fora, o Palestra terminou em quinto lugar, mas foi vice-campeão da capital. Esse ano também viu o primeiro caso de suborno no futebol mineiro envolvendo o árbitro Cid Roso.
Em 1933, o futebol mineiro passou por um marco histórico com a profissionalização do esporte. Os clubes, antes amadores, começaram a remunerar seus jogadores, formalizando contratos e estabelecendo um novo modelo de gestão e competição. Esse movimento foi liderado principalmente pelos clubes de São Paulo e Rio de Janeiro, que buscaram maior competitividade e estrutura para o futebol. A profissionalização permitiu a atração de talentos de outras regiões e países, elevando o nível técnico dos campeonatos e tornando o futebol uma profissão reconhecida e valorizada no Brasil. A medida trouxe também regulamentações e organização ao esporte, que antes era marcado pela informalidade.

Também em 1923, a Federação Mineira unificou dos dois principais campeonatos de Minas Gerais, o de Belo Horizonte e o de Juiz de Fora, como parte da reorganização e profissionalização do futebol brasileiro. Até então, cada cidade possuía seu próprio campeonato, com equipes locais competindo entre si. A fusão dos torneios visou aumentar a competitividade e promover uma competição estadual mais robusta e representativa. Essa unificação permitiu que os melhores times de ambas as cidades se enfrentassem, elevando o nível do futebol mineiro e contribuindo para o desenvolvimento do esporte no estado. Com isso, Minas Gerais começou a se consolidar como um importante centro do futebol brasileiro.
O Palestra reformulou seu time em 1934, mas terminou o campeonato em quinto lugar. Em 1935, o clube ficou em quarto, e Villa Nova conquistou o tetracampeonato. A volta de Niginho nesse ano marcou um ponto positivo.
Em 1936, apesar de uma forte equipe e bons amistosos, o Palestra rompeu com a Liga devido a decisões controversas e se filiou à CBD. O clube jogou vários amistosos, incluindo empates com Flamengo e Botafogo, e viu Niginho ser convocado para a seleção brasileira.
A temporada de 1937 foi irregular, com destaque para a primeira vitória fora de casa contra o São Cristóvão e a venda de Niginho ao Vasco da Gama. Em 1938, o técnico Fabbi deixou o clube, e a temporada foi marcada por amistosos pelo interior de Minas Gerais.
1939 trouxe a volta de Niginho, que revitalizou o time, levando a vitórias importantes, como a sobre o rival Atlético. Um amistoso contra o Vasco em setembro também marcou o ano. Após nove anos sem títulos, o Palestra Itália enfrentou um período de intensas mudanças e desafios que moldaram sua trajetória.
1940
Em 1940, o Palestra Itália trocou sua tradicional camisa verde, que lhe rendeu o apelido de “Periquito”, por uma com listras horizontais verdes e vermelhas, sendo chamado de “Tricolor”. Essa mudança trouxe sorte ao time e novas inspirações para o craque Niginho.
O Palestra começou o ano vencendo duas vezes o rival Atlético: 2x0 em 18 de fevereiro, pelo Campeonato Mineiro de 1939, e 3x0 em 24 de março, em um amistoso. Meses depois, o Palestra venceu novamente o Atlético por 2x1 em 25 de agosto e 3x1 em 1 de setembro. No dia 15 de setembro, derrotou o Botafogo de Heleno de Freitas por 4x3 e, em 29 de setembro, venceu o Flamengo por 4x2. A dupla Geraldino e Niginho estava dominando os campos mineiros.
O Campeonato Mineiro de 1940 foi a 26ª edição oficial do principal torneio de Minas Gerais. A competição estava programada para ter três turnos: ida, volta e neutro, com jogos em Belo Horizonte e estádios neutros, no sistema de pontos corridos, onde a vitória valia 2 pontos e o empate 1 ponto. Participaram América, Atlético, Sete de Setembro, Siderúrgica, Villa Nova e Palestra Itália.
O Palestra começou o campeonato jogando um futebol eficiente. Em 28 de abril, venceu o Siderúrgica por 3 a 1, com 2 gols de Niginho e um de Caiera. Seguiram-se as seguintes partidas:
 - 2 de junho: Villa Nova 0x1 Palestra Itália (gol de Alcides)
 - 2 de junho: Palestra Itália 4x1 Sete de Setembro (gols de Niginho, Geraldino, Geninho, Carlos Alberto e Bigode)
 - 23 de junho: Palestra Itália 2x2 Atlético (gols de Alcides (2); Manja (2))

 - 30 de junho: América 3x2 Palestra Itália (gols de Baiano, Madureira (2); Niginho, Geninho) 
O América perdeu os pontos por escalar jogador irregular.

 - 27 de outubro: Siderúrgica 3x2 Palestra Itália (gols de Paulo, Rômulo, Moraes; Niginho (2))
 - 1 de dezembro: Palestra Itália 6x0 América (gols de Niginho (3), Nogueirinha (2), Alcides)
 - 8 de dezembro: Palestra Itália 2x0 Villa Nova (gols de Nogueirinha e Zama)
Durante o campeonato, algumas interrupções financeiras afetaram clubes como Sete de Setembro, que abandonou a disputa, e Villa Nova e América, que tiveram que dispensar seus plantéis profissionais. Com metade do returno disputado, os clubes decidiram encerrar o torneio e programaram a decisão do título entre Atlético e Palestra, líderes do campeonato.
Essa foi a primeira vez que Palestra Itália e Atlético Mineiro se enfrentaram em uma decisão do Campeonato Mineiro, no auge da Segunda Guerra Mundial. A decisão seria disputada em uma melhor de três partidas.
O Palestra buscava sair de uma fila de 10 anos sem conquistar o título máximo do campeonato mineiro, e ainda consagrar uma de suas melhores temporadas, com vitórias muito expressivas.
A primeira partida aconteceu em 29 de dezembro, no bairro de Lourdes, com o Palestra escalado com Geraldo II, Caieira, Bibi, Souza, Juca, Caieirinha, Nogueirinha, Orlando, Niginho, Carlos Alberto e Alcides, sob comando do técnico Bengala. O Palestra venceu por 3 a 1, com dois gols de Niginho.
O segundo jogo, em 5 janeiro de 1941, no estádio Palestra Itália, teve um público enorme, majoritariamente palestrino, mas a pressão fez com que o time perdesse por 2x1 para o Atlético.
O terceiro e decisivo jogo aconteceu no dia 12 de janeiro, numa tarde de domingo, em campo neutro, no Alameda, estádio do América. 
O Palestra entrou em campo com Geraldo II; Caiera, Bibi, Souza, Juca, Caierinha; Nogueirinha, Orlando, Niginho, Carazzo e Alcides, sob o comando do experiente técnico Bengala.

Na hora da partida, um incidente inusitado marcou o início do jogo: o árbitro carioca Mário Viana iniciou a partida sem perceber que a bola não estava em campo, o que causou um atraso de 30 minutos até que a bola fosse encontrada e o jogo pudesse começar de fato.
Assim que a bola rolou, o Palestra começou atacando com intensidade. Aos 10 minutos, Alcides abriu o placar, colocando os tricolores em vantagem. A partida seguiu disputada, com ambos os times buscando o gol decisivo. E aos 46 minutos do segundo tempo, Niginho, conhecido como o "Carrasco dos Clássicos", marcou o gol da vitória e do título para o Palestra Itália. Esse gol não apenas encerrou um longo jejum de títulos, mas também consolidou Niginho como o artilheiro do campeonato, com 12 gols.
Após o apito final, a torcida palestrina invadiu o campo para celebrar com os jogadores. A festa se estendeu pela noite em Belo Horizonte, com foguetórios ecoando pela cidade. Uma grande passeata foi organizada do estádio do América até o bairro do Barro Preto, onde o clube estava sediado, culminando em uma memorável choppada para comemorar o título.

Dias depois o Jornal estado de Minas, na edição de 14 de janeiro de 1941 publicava:
"Desde 1930, quando o forte conjunto do Barro Preto levantou o tricampeonato, não havia conseguido um título tão destacado no seio do esporte bretão em Minas."
“O Palestra, um time que sempre se caracterizou pelo entusiasmo, pela fibra de seus jogadores, aguardava uma oportunidade para ostentar a faixa honrosa."
No entanto, esse seria o último título do clube como Società Sportiva Palestra Itália. Mudanças geopolíticas decorrentes da Segunda Guerra Mundial influenciariam diretamente a vida do clube e de seus torcedores, levando à mudança de nome para Cruzeiro Esporte Clube.
Essa partida não apenas entrou para a história do futebol mineiro como também marcou o fim de uma era e o início de uma nova fase para o clube e sua torcida apaixonada.
Palestra Itália
Palestra Itália
Palestra Itália
Palestra Itália
Palestra Itália
Palestra Itália
Palestra Itália x Flamengo
Palestra Itália x Flamengo
cruzeiro-x-flamengo
cruzeiro-x-flamengo
Recorte jornal - Palestra X Atlético - 2ª Partida
Recorte jornal - Palestra X Atlético - 2ª Partida
Recorte jornal - Palestra X Atlético - 1ª Partida
Recorte jornal - Palestra X Atlético - 1ª Partida
Recorte jornal - Palestra X Atlético - 3ª Partida
Recorte jornal - Palestra X Atlético - 3ª Partida
Fontes:
História do Futebol Brasileiro - 1940
Getúlio Vargas e as Políticas Trabalhistas
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Nascimento de John Lennon e Pelé
Jornal hoje em dia

https://rsssfbrasil.com/,  Jornais da época/ Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.​​​​​​​

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