Campeonatos

Em 1966, o Brasil vivia um período conturbado. Desde 1964, o país estava sob um regime militar que alterou profundamente a vida política e social. O cenário econômico era instável, com tentativas de modernização e enfrentamento de crises, enquanto a cultura efervescia com a Tropicália começando a despontar e movimentos artísticos ganhando força.
No futebol mundial, 1966 foi marcado pela Copa do Mundo na Inglaterra, disputada entre os dias 11 a 30 de julho. Este evento esportivo trouxe consigo uma grande expectativa, especialmente para os brasileiros, que sonhavam em ver a seleção canarinho brilhar novamente após as vitórias nas copas de 1958 e 1962. No entanto, a competição daquele ano reservava surpresas e desafios inesperados.
No Brasil de 1966, o futebol era mais do que um esporte; era uma paixão nacional que unia pessoas de todas as classes sociais. Os campos de várzea, os clubes locais e os grandes estádios eram palcos de emoções intensas e sonhos compartilhados.
A seleção brasileira, bicampeã mundial e com um histórico de glórias, era considerada uma das favoritas para a Copa do Mundo na Inglaterra. No entanto, a preparação para o torneio foi marcada por desorganização e problemas internos. Houve muita rotatividade de treinadores, e a seleção passou por uma série de mudanças que geraram incertezas e críticas.
A equipe, liderada pelo técnico Vicente Feola, contava com grandes estrelas do futebol brasileiro, como Pelé, Garrincha, Tostão e Gérson. A expectativa era alta, e os torcedores esperavam ver o Brasil levantar a taça mais uma vez. Porém, o desempenho no torneio foi abaixo do esperado. Pelé, um dos maiores ídolos do futebol mundial, sofreu uma lesão que comprometeu seu desempenho, e a seleção foi eliminada ainda na fase de grupos, após derrotas para Hungria e Portugal.
Além das questões dentro de campo, o futebol brasileiro em 1966 refletia as tensões políticas e sociais do país. A ditadura militar procurava utilizar o esporte como ferramenta de propaganda, buscando reforçar a imagem de uma nação forte e unida. Ao mesmo tempo, os clubes enfrentavam dificuldades financeiras e estruturais, e os jogadores não tinham o suporte e os recursos que existem hoje.
Apesar das dificuldades, o futebol continuava sendo uma fonte de alegria e esperança para os brasileiros. As ligas regionais, como o Campeonato Carioca e o Campeonato Paulista, eram extremamente competitivas e atraíam grandes públicos. Clubes como Santos, Botafogo, Palmeiras e Cruzeiro apresentavam elencos talentosos e conquistavam títulos importantes, mantendo viva a chama do futebol nacional.


A Temporada de 66

Para o Cruzeiro iniciou a agitada temporada de 66 antes mesmo de terminar a de 1965. Entre as disputas finais do Campeonato Mineiro de 65, o time do Barro Preto realizou alguns amistosos importantes no Mineirão:

●    No dia 26 de janeiro, enfrentou o Sportklub Rapid Wien, (Rapid de Viena), clube de futebol da Áustria, clube mais vitorioso de seu país e um dos mais populares. Foi uma grande partida e o Cruzeiro venceu por 5 a 4.
Os gols foram marcados por: Seitl 4’ (0-1), Dirceu Lopes 9’ (1-1), Marco Antonio 15’ (2-1), Marco Antonio 20’ (3-1), Seitl 23’ (3-2), Ploege 30’ (3-3), Hilton Oliveira 32’ (4-3), Natal 37’ (5-3) e Seitl 89’ (5-4).
●    No dia 29 de março, venceu o Santos por 4x3. 
“Foi um jogo de muita expectativa em Belo Horizonte. Na ocasião o badalado Santos veio jogar dois amistosos, venceu o Atlético Mineiro por 1 a 0 e depois um jogão  contra o Cruzeiro. 
o primeiro confronto entre Cruzeiro e o Santos e muito disputado dentro de campo.
Diante de um público de aproximadamente 25 mil pessoas, o Santos logo abriu uma vantagem de 2 a 0, gols de Toninho, aos 11 minutos e Edu aos 21 minutos do primeiro tempo. Com um toque de bola envolvente, parecia desenhar uma goleada, porém a reação Cruzeirense começou dois minutos depois, com um gol de Dirceu Lopes. Aos 38 minutos Tostão igualou o placar (2-2).
No início do segundo tempo, aos 6 minutos, Tostão fez o gol de desempate (3-2) para o Cruzeiro. O Santos reagiu e o Rei do Futebol, Pelé, empatou a partida novamente (3-3), aos 28 minutos do segundo tempo. Um momento histórico onde Pelé marcou seu primeiro gol no Mineirão. Tudo indicava que o grande espetáculo entre as duas equipes terminaria empatado, mas aos 45 minutos do segundo tempo, Antoninho cobra escanteio e Batista (jogador da base) do bico da grande área, do lado esquerdo do “Gol da Lagoa” acerta um belo voleio arrematando a bola na gaveta, fazendo um golaço, um dos mais belos da história do Mineirão,  decretando a vitória do Cruzeiro por 4 a 3.” , relata Marcus Trópia Barreto*.
O Cruzeiro enfrentou o Santos com: Tonho, Pedro Paulo, Willian, Vavá e Neco; Wilson Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Antoninho Batista, Tostão e Dalmar. Técnico Airton Moreira.
O time do Santos jogou com: Laércio (Cláudio), Carlos Alberto (Lima), Oberdan, Haroldo, Zé Carlos, Zito, Mengálvio (Joel), Dorval, Toninho, Pelé, Edú (Pepe). Técnico Lula. 

* Filho do grande cruzeirense, repórter e cronista esportivo, Plinio Barreto, Marcus Trópia Barreto é cruzeirense apaixonado, jornalista, pesquisador da história do Cruzeiro. Atualmente Sócio do Futebol e membro do conselho do Cruzeiro Esporte Clube.

Torneio Magalhães Pinto

Entre os dias 03 e 06 de fevereiro em rodadas duplas, foi realizado o Torneio Magalhães Pinto, no Mineirão, participaram Cruzeiro, Atlético, Flamengo e a Seleção da União Soviética, que estava excursionando pela América do Sul, se preparando para a Disputa da Copa do Mundo de 1966.
O torneio foi disputado em um quadrangular onde Cruzeiro e Flamengo se enfrentaram e na outra chave União Soviética x Atlético, os vencedores de cada chave se enfrentaram na final enquanto os perdedores decidiram o terceiro lugar.
No dia 03 de fevereiro, às 19 horas e 15 minutos, a seleção Russa goleou o Atlético por 6 a 1.
Após a primeira partida, às 21 horas e 15 minutos, o Cruzeiro goleou o Flamengo por 6 a 2, diante de um público de 36.121 pagantes, uma renda de Cr$ 74.470.000,00 (setenta e quatro milhões e quatrocentos e setenta mil cruzeiros)

Cruzeiro foi escalado com: Tonho; Pedro Paulo, William (Celton), Vavá e Neco; Wilson Piazza e Dirceu Lopes; Wilson Almeida (Natal), Tostão, Marco Antônio e Hilton Oliveira. Técnico: Airton Moreira. O Flamengo: Valdomiro; Murilo, Ditão (Jayme Valente), Luís Carlos e Paulo Henrique; Carlinhos e Jarbas (Mansilha); Neves, César Lemos (Aírton), Silva Batuta e Rodrigues (Osmar). Técnico: Armando Renganeschi.
Os gols do Cruzeiro foram marcados por Dirceu Lopes aos 24 minutos; Tostão aos 37 minutos, no 1º Tempo. Wilson Piazza, de pênalti, aos 18 minutos; Tostão aos 22 e 41 minutos; Marco Antônio aos 29 minutos, no 2º Tempo. Silva Batuta aos 20 e 27 minutos fez para o Flamengo.
As decisões aconteceram no domingo, dia 06 de fevereiro. 
O Time Rubro Negro conquistou o terceiro lugar após uma vitória de 1 a 0 diante do Atlético.
Mais de 50 mil pagantes aguardaram a grande partida entre Cruzeiro e a forte seleção da União Soviética de Lev Yashin, ‘Aranha Negra’ considerado por muitos o melhor goleiro de todos os tempos; Ponomaryov, Shesternyov, Afonin e Guetmanov; Voronin e Jusainov (Serebrianikov); Slava Metreveli (Chislenko), Ivanov (Biba), Banishevskiy e Meshki (Kopaiev). Técnico: Nikolay Morozov 
O Cruzeiro foi para o jogo com Tonho; Pedro Paulo, William, Vavá e Neco; Wilson Piazza e Dirceu Lopes; Wilson Almeida (Natal), Tostão, Marco Antônio (João José) e Hilton Oliveira. Técnico: Airton Moreira.
O jogo teve início às 17 horas, placar final 1 a 0 para os Russos, gol do veterano atacante Ivanov aos 05 minutos do segundo tempo.
PÚBLICO: 52.422 pagantes
RENDA    Cr$ 104.704.000,00 (cento e quatro milhões e setecentos e quatro mil cruzeiros)

Na disputa da Copa de 66, a União Soviética classificou-se em primeiro do Grupo D, vencendo os jogos contra a Coreia do Norte por 3 a 0, Itália por 1 a 0 e o Chile por 2 a 1. Nas quartas de finais, os Comunistas venceram a Hungria por 2 a 1. A seleção russa foi eliminada nas Semifinais, derrotada pela Alemanha por 2 a 1.

O Campeonato Mineiro 1965

Campeão absoluto do Mineiro de 1965, o Cruzeiro entrou na disputa da edição de 1966 como franco favorito e focado na conquista do bicampeonato, que consagraria o 13º título das 52 edições do estadual, o segundo da era Mineirão.
Também estavam na disputa, América, Atlético, Renascença, Democrata de Sete Lagoas, Siderúrgica, Formiga, Nacional, Uberaba, Uberlândia, Valeriodoce e Villa Nova.
O Cruzeiro estreou no dia 09 de julho, goleando o Uberlândia por 4 a 1, no Mineirão. Gols de Batista, Dirceu Lopes, Evaldo, Pedro Paulo. Neiriberto fez para o time do Triângulo Mineiro.
Após a tranquila vitória na estreia, o time da camisa estrelada continuou vencendo os adversários e finalizou o primeiro turno com 11 vitórias e 36 gols marcados.

•    16 de julho: Cruzeiro 7 a 0 Formiga | Gols: Dirceu Lopes (4), Batista, Dalmar, Piazza
•    24 de julho: Cruzeiro 2 a 0 Siderúrgica | Gols: Natal, Piazza
•    30 de julho: Cruzeiro 3 a 0 Renascença | Gols: Piazza (2), Dirceu Lopes
•    02 de agosto: Cruzeiro 1 a 0 Nacional | Gols: Marco Antônio
•    14 de agosto: Cruzeiro 1 a 0 Villa Nova | Gols: Dirceu Lopes
•    21 de agosto: Cruzeiro 3 a 2 Democrata | Gols: Tostão (2), Batista; Paulão (2)
•    28 de agosto: Cruzeiro 2 a 1 Valeriodoce | Gols: Piazza, Tostão; Turcão
•    04 de setembro: Cruzeiro 6 a 3 Uberaba | Gols: Evaldo (2), Zé Carlos, Piazza, Tostão, Natal; Walter (3)
No dia 07 de setembro, o Cruzeiro iniciou a disputa da Taça Brasil.
•    11 de setembro: Cruzeiro    5 a 1 América | Gols: Tostão (3), Evaldo, Natal; Mosquito
•    18 de setembro: Cruzeiro    2 a 0 Atlético | Gols: Dirceu Lopes, Tostão

O segundo turno
O Cruzeiro iniciou o returno do mesmo jeito que iniciou o primeiro turno, goleando por 4 a 1, dessa vez contra o Siderúrgica, no dia 25 de setembro, em Sabará. Os gols foram marcados por Natal, Evaldo, Dirceu Lopes, Hilton Oliveira. Zé Emílio marcou para os donos da casa.
•    02 de outubro: Cruzeiro 3 a 0 Formiga | Gols: Dirceu Lopes, Evaldo, Tostão
•    15 de outubro:  Cruzeiro 4 a 1 Renascença | Gols: Piazza, Natal, Tostão, Dirceu Lopes; Pelado
•    26 de outubro: Cruzeiro 0 a 1 Valeriodoce | Gol: Nerival
Três dias antes de conhecer a sua primeira e única derrota no campeonato estadual, o Cruzeiro jogou contra o Grêmio, no Mineirão, era a decisão da Zona Sul, fase da Taça Brasil. Após um 0 a 0 na primeira partida no dia 09 de setembro, o Cruzeiro venceu os gaúchos por 2 a 1, conquistando a vaga para a Taça Brasil. 
•    30 de outubro: Cruzeiro 6 a 3 Villa Nova | Gols: Tostão, Dirceu Lopes (2), Evaldo, Natal (2); Paulinho (2), Canavieira
•    06 de novembro: Cruzeiro 9 a 0 Nacional | Gols: Tostão (4), Dirceu Lopes (3), Evaldo, Natal
•    13 de novembro: Cruzeiro 4 a 1 Uberlândia | Gols: Evaldo (2), Dirceu Lopes, Tostão; Castilho
•    20 de novembro: Cruzeiro 5 a 0 Democrata | Gols: Evaldo (2), Natal (2), Hilton Oliveira
No dia 23 de novembro, o Cruzeiro vencia mais uma etapa na Taça Brasil, dessa vez eliminou o Fluminense na semi-final, vencendo a segunda partida por 3 a 1, no Maracanã. O Cruzeiro também venceu a primeira partida por 1 a 0 no Mineirão.
No dia 27 de novembro o Cruzeiro venceu o Uberaba por 4 a 0, no Mineirão. Gols de Tostão (2), Dirceu Lopes, Evaldo. Com o resultado e a grande campanha realizada, o Cruzeiro garantiu virtualmente o título do Campeonato Mineiro de 1966. 

Embalados e confiantes após a goleada aplicada sobre o Santos, na final da Taça Brasil, por 6 a 2, no dia 30 de novembro, o Cruzeiro enfrentou o América no dia 04 de dezembro, na penúltima partida do Campeonato Mineiro. O Cruzeiro entrou em campo como campeão mineiro, pois no dia anterior, o Atlético Mineiro havia empatado em 1 a 1 com o Uberlândia. 
O Cruzeiro venceu a partida por 1 a 0, com gol de Dalmar. 

No dia 11 de dezembro, Cruzeiro e Atlético se enfrentaram na última partida do campeonato. Foi uma partida festiva para a torcida azul, que já havia comemorado a conquista do estadual antecipadamente e a inédita Taça Brasil ao vencer novamente o Santos por 3 a 2 em São Paulo, no dia 07 de dezembro.
Diante de um público de mais de 39 mil pessoas, o Atlético entrou disposto a vencer a partida e estragar o final de ano Cruzeirense, e começou vencendo a partida com gol de Laci aos 70 minutos de jogo. Aos 90 minutos Evaldo empatou a partida, estragando os planos atleticanos. 
O Cruzeiro fez uma grande campanha, dos 22 jogos disputados, venceu 20 partidas, 01 empate e 01 derrota. Foram 77 Gols marcados e 16 sofridos. O craque Tostão foi o artilheiro do campeonato marcando 18 gols.
Fontes: rsssfbrasil, Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.

Veja mais:

Back to Top