Campeonatos

O ano de 1968 foi um período de intensas transformações políticas, culturais e esportivas, tanto no Brasil quanto no mundo. Em meio a um cenário de grandes revoltas e incertezas, movimentos sociais e culturais redefiniram a história e deixaram marcas profundas.

Política e Sociedade
No plano mundial, 1968 foi sinônimo de protestos e lutas pela liberdade. Nos Estados Unidos, o assassinato de Martin Luther King Jr., em abril, intensificou a luta pelos direitos civis e gerou grandes manifestações contra o racismo. Na Europa, a Primavera de Praga trouxe esperança de reformas democráticas na Tchecoslováquia, mas a reação soviética esmagou essas aspirações. Na França, os protestos de maio de 1968, liderados por estudantes e trabalhadores, quase derrubaram o governo de Charles de Gaulle, simbolizando a insatisfação generalizada com as condições sociais e econômicas.
No Brasil, o cenário político estava em ebulição. Vivendo sob a ditadura militar desde 1964, o país presenciou um ano de resistência e repressão. Estudantes e artistas, em especial, protagonizaram manifestações contra o regime. O auge dessas tensões ocorreu em dezembro, com a promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), que aumentou o poder repressivo do governo, marcando o endurecimento da ditadura e restringindo liberdades civis. Ao mesmo tempo, a censura à imprensa, à música e ao cinema se intensificava, sufocando a produção cultural e artística.
Música e Cultura
Mesmo sob forte censura, o ano de 1968 foi prolífico para a música brasileira. O movimento da Tropicália, liderado por artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Gal Costa, desafiava a ditadura militar com sua mistura inovadora de ritmos brasileiros e influências do rock internacional. Canções como "É Proibido Proibir" de Caetano se tornaram hinos de resistência, enquanto festivais de música revelavam novos talentos que buscavam transformar a sociedade através da arte.
Mundialmente, o rock n' roll consolidava seu papel como a voz da juventude. Bandas como The Beatles, The Rolling Stones e artistas como Jimi Hendrix dominavam as paradas com músicas que refletiam a rebeldia e o desejo de mudança. A música se tornava um grito de liberdade em meio ao caos político e social. Além dos eventos marcantes como os protestos de maio na França e a Primavera de Praga, os Estados Unidos também vivenciaram uma grande manifestação em Chicago durante a Convenção Nacional Democrata. Milhares de pessoas se reuniram para protestar contra a Guerra do Vietnã e as políticas do governo. Nesse mesmo período, a cidade foi palco de um festival de rock no Lincoln Park, onde a banda MC5 realizou um show histórico.
A MC5, com seu som cru e enérgico, tocou para os manifestantes e deixou uma marca no movimento cultural e político da época. O estilo agressivo da banda e suas letras de contestação foram fundamentais para a formação do que mais tarde seria conhecido como punk rock. A música da MC5 não apenas refletia o clima de revolta e insatisfação política, mas também ajudava a moldar uma nova estética musical, que influenciaria gerações seguintes com sua atitude rebelde e anticonformista.

Fora do cenário político e musical, 1968 foi também um ano marcante na ciência e tecnologia. Um dos grandes acontecimentos foi a Missão Apollo 8, lançada pela NASA em dezembro. Essa foi a primeira missão tripulada a orbitar a Lua, marcando um passo crucial na corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética. A famosa foto "Earthrise", tirada pelos astronautas, mudou a forma como a humanidade via o planeta e preparou o caminho para a chegada do homem à Lua em 1969.
Além disso, a ciência avançou em áreas como a genética, com uma compreensão crescente do DNA, e no movimento ambientalista, que começou a ganhar força, alertando para os impactos da poluição e da degradação ambiental. Esses avanços ajudaram a moldar debates importantes sobre biotecnologia, medicina e sustentabilidade, que influenciariam as décadas seguintes.

Esporte
No esporte, 1968 foi um ano de grandes eventos internacionais, como os Jogos Olímpicos da Cidade do México, que ficaram marcados pelo protesto silencioso dos atletas afro-americanos Tommie Smith e John Carlos contra a segregação racial, levantando os punhos com luvas pretas no pódio, um símbolo icônico do movimento pelos direitos civis.
No Brasil, o futebol vivia momentos marcantes. O Cruzeiro Esporte Clube, que já havia despontado como uma potência no cenário nacional com a conquista da Taça Brasil de 1966, consolidava-se como um dos grandes times do país em 1968. Em um ano de desafios políticos e sociais, o futebol oferecia ao povo brasileiro uma válvula de escape e momentos de alegria, e o Cruzeiro se destacava como um símbolo de superação e força.
Essa conjunção de revoltas políticas, efervescência cultural e conquistas esportivas fazia de 1968 um ano inesquecível, tanto no Brasil quanto no mundo. No contexto do Cruzeiro Esporte Clube, esse foi um período em que o clube reafirmou sua força e sua importância, não só para o futebol brasileiro, mas também para uma torcida que, em meio a tempos difíceis, encontrava no futebol um motivo de orgulho e esperança.



DIA DO TRABALHADOR
01 de maio, em comemoração ao Dia do Trabalhador o Governo do Estado de Minas Gerais organizou um grande espetáculo para o povo mineiro, onde Cruzeiro e Boca Juniors -AR se enfrentaram em partida amistosa no Mineirão. Com um público de 79.833 pessoas, o jogo foi com portões abertos, apenas 1.036 cadeiras foram comercializadas.
O Cruzeiro venceu por 3 a 2, os gols da partida foram marcados por Evaldo 4’ (1x0), Madurga 5’ (1x1), Evaldo 16’ (2x1), Tostão 31’ (3x1) e Rattin 54’ (3x2).


TAÇA DE PRATA 1968 (TORNEIO ROBERTO GOMES PEDROSA)
Em 1968, a Taça de Prata, também conhecida como Torneio Roberto Gomes Pedrosa, passou a ser o foco principal dos clubes brasileiros, substituindo a Taça Brasil como a competição de maior prestígio. Anteriormente organizado pelas Federações Paulista e Carioca, em 1968 a competição passou a ser organizado pela CBD. O torneio ganhou popularidade devido ao sucesso de público e renda, o que levou times como Santos e Palmeiras a desistirem da Taça Brasil daquele ano. Esse desinteresse fez com que a edição de 1968 da Taça Brasil só fosse finalizada em 1969, contribuindo para a extinção do torneio e o fortalecimento da Taça de Prata, que, a partir de então, definiria o campeão nacional e os representantes na Taça Libertadores.
A edição de 1968 contou com 17 clubes de sete estados brasileiros, incluindo pela primeira vez times do Nordeste, como o Bahia e o Náutico. O torneio manteve a fórmula do ano anterior, com os times divididos em dois grupos. Os dois melhores de cada grupo se classificavam para o quadrangular final.
O Cruzeiro, com uma campanha de 6 vitórias, 5 empates e 5 derrotas, terminou em quarto lugar no seu grupo, não conseguindo a classificação para a fase final. O Santos acabou se consagrando campeão.


A ÚLTIMA EDIÇÃO DA TAÇA BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DO CRUZEIRO
A última edição da Taça Brasil, em 1968, teve um regulamento complexo que arrastou o torneio até 1969. Dos 23 times participantes, alguns já estavam garantidos na fase final, como o Palmeiras (campeão de 1967), Náutico (vice-campeão de 1967), Botafogo (campeão carioca) e Santos. O Cruzeiro, tricampeão mineiro em 1967, avançou como finalista da “Zona Centro” e enfrentou o Atlético-GO, vencedor do Grupo 1.
O primeiro confronto entre Cruzeiro e Atlético-GO ocorreu no Estádio Olímpico, com arbitragem de Armando Marques. O Cruzeiro venceu por 2 a 1, com dois gols de Dirceu Lopes, aos 4 e 6 minutos. Guilherme descontou para o time goiano.
As escalações dos times foram:
ATLÉTICO-GO: Romualdo; Davi, Tinda, Paô e Edno; Dida, Adalberto e Claudino; Guilherme, Toninho e Lico. Técnico: Zuino.
CRUZEIRO: Raul; Pedro Paulo, Raul Fernandes (Viktor), Fontana e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos e Tostão; Natal, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira (Rodrigues). Técnico: Gérson Santos.
O jogo de volta aconteceu no Mineirão no dia 9 de fevereiro de 1969, e o Cruzeiro goleou o Atlético-GO por 6 a 1. Os gols foram marcados por Tostão (pênalti, aos 15 minutos), Rodrigues (24’), Dirceu Lopes (34’ e 50’), Hilton Oliveira (90’), com Guilherme marcando o único gol do Atlético-GO aos 53 minutos.
Na semifinal, o Cruzeiro enfrentou o Botafogo em dois jogos, nos dias 23 e 27 de agosto de 1969. A primeira partida foi no Mineirão, e o Botafogo venceu por 1 a 0. O jogo de volta no Maracanã terminou empatado em 1 a 1, o que eliminou o Cruzeiro da competição. Dias depois, o Botafogo se sagrou campeão da Taça Brasil de 1968.


O CAMPEONATO MINEIRO DE 1968
O Campeonato Mineiro de 1968 foi a 55ª edição do principal torneio de Minhas Gerais e o Cruzeiro conquistou o seu 15º título estadual, o 4º da era Mineirão.
12 clubes disputaram a taça, de Belo Horizonte, além do Cruzeiro participaram América e Atlético Mineiro.  Os times fora da Capital foram Araxá (Araxá), Usipa (Ipatinga), Democrata (Sete Lagoas), Formiga (Formiga), Independente e Uberaba (Uberaba), Uberlândia (Uberlândia), Valeriodoce (Itabira) e Villa Nova (Nova Lima).
O sistema adotado para a disputa ainda foi de pontos corridos, sendo 02 pontos por vitória e 01 ponto por empate. Todos os clubes se enfrentaram em dois turnos, no final o campeão era aquele que acumulasse mais pontos.  Em 1969 não teve rebaixamento.


TETRACAMPEÃO INVICTO!
O Campeonato Mineiro de 1968 foi mais uma edição dominada pelo Cruzeiro Esporte Clube, consolidando sua hegemonia no estado. A equipe vinha de um tricampeonato (1965, 1966 e 1967) e era a grande favorita para conquistar o título novamente.

Comandado por uma geração de ouro, com os craques Raul (Fazzano), Pedro Paulo, Procópio (Ditão), Darci Menezes (Raul Fernandes) e Neco (Murilo); Zé Carlos (Piazza) e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo (Gilberto) e Rodrigues (Hilton Oliveira) (Davi). Técnico: Orlando Fantoni, o Cruzeiro mostrou um futebol envolvente e ofensivo ao longo da competição.

Em 1967, o Cruzeiro contratou Orlando Fantoni, ex-jogador do clube, que estava como técnico do Deportivo Itália da Venezuela, para atuar como uma espécie de diretor de futebol. No final do ano, o técnico Aírton Moreira precisou se afastar por problemas de saúde, e Fantoni assumiu como treinador interino. Meses depois, quando Aírton estava pronto para voltar, os dirigentes Felício Brandi e Furstletti decidiram manter Orlando Fantoni no comando. Insatisfeito com a decisão, Aírton Moreira pediu demissão e, dias depois, foi contratado pelo Atlético Mineiro.


O Cruzeiro fez sua estreia no campeonato, no dia 24 de março, um domingo no Mineirão e goleou o Uberlândia por 6 a 0. Os gols da partida foram marcados por Evaldo (2), Dirceu Lopes, Natal, Procópio e Tostão.
31 de março – Cruzeiro 3x2 Uberaba / Gols: Tostão (2), Natal; Juca, Sapucaia
7 de abril – Cruzeiro 0x0 Democrata
14 de abril – Cruzeiro 0x0 Valeriodoce
19 de abril - Cruzeiro 4x0 Usipa / Gols: Tostão (3), Rodrigues
27 de abril – Cruzeiro 3x1 Araxá / Gols: Rodrigues, Tostão, Zé Carlos; Paulinho
4 de maio – Cruzeiro 10x0 Independente / Gols: Rodrigues (2), Evaldo, Tostão (4), Natal (3)
12 de maio – Cruzeiro 2x0 América / Gols: Evaldo, Zé Carlos
19 de maio – Cruzeiro 2x2 Formiga / Gols: Tostão (2); Cristóvão, Sudaco
26 de maio – Cruzeiro 5x1 Villa Nova / Gols: Evaldo (3), Dirceu Lopes, Tostão; Raimundo

A decisão do Primeiro turno
Foi um primeiro turno emocionante onde Cruzeiro e Atlético se alternavam na liderança do campeonato. O Atlético Mineiro, principal rival, tentava impedir o domínio cruzeirense, que seguia embalado por suas conquistas nacionais e pelo grande momento vivido no cenário do futebol brasileiro. Enquanto o Cruzeiro vinha determinado vislumbrando o tetracampeonato.

No final da penúltima rodada, os dois clubes estavam empatados com 17 pontos e invictos no campeonato. Para esquentar ainda mais a disputa, um clássico marcado para a última rodada!

A partida aconteceu no dia 02 de junho, um domingo de Mineirão lotado, com quebra de recorde de público, 125 mil pessoas!

O Cruzeiro, comandado por Orlando Fantoni foi escalado com Raul, Pedro Paulo, Procópio, Darci, Neco, Piazza, Dirceu Lopes, Natal, Evaldo, Tostão e Rodrigues. O Atlético com Hélio, Umberto, Dijalma Dias, Vander, Cincunegui, Wanderley, Odair, Vaguinho, Beto, Lola e Tião. Técnico Airtom Moreira.

A bola rolou e o primeiro tempo terminou empatado em 0 a 0.

Na segunda etapa o Atlético marcou o primeiro gol com Vaguinho aos 8 minutos do segundo tempo (0 a 1). Vinte minutos depois, Rodrigues marcou o gol de empate e aos quarenta e dois minutos, Tostão fez o gol da vitória do Cruzeiro, campeão do primeiro turno!

O Segundo Turno
24 de julho – Cruzeiro 3x0 Uberlândia / Gols: Dirceu Lopes (2), Evaldo
28 de julho – Cruzeiro 2x0 Usipa / Gols: Wilson Almeida, Furneca (Gol contra)
31 de julho – Cruzeiro 2x0 Uberaba / Gols: Evaldo, Tostão
4 de agosto – Cruzeiro 3x0 Araxá / Gols: Darci Menezes, Evaldo, Natal
15 de agosto – Cruzeiro 3x0 Independente / Gols: Evaldo, Natal, Tostão
18 de agosto – Cruzeiro 2x2 América / Gols: Darci Menezes, Evaldo; Edvar, Zé Carlos Mérola
21 de agosto – Cruzeiro 3x0 Democrata / Gols: Darci Menezes, Dirceu Lopes, Tostão
25 de agosto – Cruzeiro 2x0 Formiga / Gols: Dirceu Lopes, Zé Carlos
28 de agosto – Cruzeiro 5x1 Valeriodoce / Gols: Evaldo (2), Tostão (2), Natal; Turcão
1 de setembro – Cruzeiro 1x0 Villa Nova / Gols: Rodrigues
8 de setembro – Atlético 1x1 Cruzeiro / Gols: Darci Menezes (Gol Contra); Evaldo

No segundo turno o Cruzeiro seguiu soberano, foram 09 vitórias e 02 empates.
E assim, o invicto Cruzeiro conquistou o título de campeão mineiro de 1968, firmando sua posição como a principal força do futebol mineiro na época e continuando a era de ouro que marcaria a história do clube na década de 1960.
Um dos grandes destaques da equipe foi Tostão, que além de ser o artilheiro do estadual com 20 gols, já era considerado um dos melhores jogadores do Brasil e logo depois seria protagonista na Seleção Brasileira.
Fontes: Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo. 
rsssfbrasil, 
Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.​​​​​​​

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