Campeonatos

O ano de 1969 foi marcado por eventos históricos em diferentes áreas, que influenciaram profundamente o cenário mundial e brasileiro. Politicamente, o mundo ainda vivia sob a tensão da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. No entanto, houve um início de aproximação com a política de détente, uma tentativa de aliviar as tensões através do diálogo. Paralelamente, a Guerra do Vietnã seguia em um dos seus momentos mais críticos, com os EUA enfrentando cada vez mais protestos domésticos e internacionais contra o conflito, enquanto mantinham tropas no sudeste asiático.
Um dos maiores marcos de 1969 foi o pouso do homem na Lua. Em 20 de julho, os astronautas norte-americanos Neil Armstrong e Buzz Aldrin, na missão Apollo 11, realizaram esse feito extraordinário, que simbolizou não só um avanço científico e tecnológico, mas também uma vitória política dos Estados Unidos na corrida espacial contra os soviéticos. O evento foi transmitido ao vivo para milhões de pessoas ao redor do mundo e permanece até hoje como um dos momentos mais emblemáticos do século XX.
No Brasil,
1969 foi um ano de repressão intensa. O regime militar, que havia se instaurado em 1964, endureceu ainda mais com a implementação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que deu ao governo plenos poderes para reprimir a oposição política e suspender direitos civis. A censura à imprensa e às artes se intensificou, e líderes intelectuais, artistas e ativistas foram perseguidos. Além disso, a resistência ao regime começou a se organizar com mais força, com o surgimento de grupos guerrilheiros urbanos, como a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Esses grupos realizaram ações ousadas, como o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.
No cenário musical,
1969 foi um ano de grandes transformações globais. O festival de Woodstock, realizado em agosto nos Estados Unidos, reuniu cerca de 400 mil pessoas e simbolizou o auge da contracultura e dos ideais de paz, amor e liberdade. No palco de Woodstock, artistas icônicos como Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who e Santana fizeram apresentações memoráveis que definiram uma geração. Na Inglaterra, os Beatles lançaram o álbum Abbey Road, um dos maiores sucessos da banda, mas o ano também marcou o início do fim do grupo, com tensões crescentes entre seus integrantes.
O rock progressivo e a música psicodélica ganharam destaque, com bandas como Pink Floyd e The Doors explorando sons inovadores. No entanto, o soul e o funk também dominavam, com James Brown, Aretha Franklin e Marvin Gaye no auge de suas carreiras, consolidando a influência da música negra no cenário mundial.
No Brasil, o ambiente musical era marcado por confronto e repressão. O movimento Tropicalista, que havia surgido entre 1967 e 1968, ainda influenciava a cena musical, mas os principais expoentes, Caetano Veloso e Gilberto Gil, foram presos e exilados em 1969. A censura imposta pelo regime militar afetou duramente a criatividade dos artistas, que precisavam lidar com restrições cada vez maiores. Apesar disso, a Música Popular Brasileira (MPB) continuava a crescer, com figuras como Elis Regina, Gal Costa e Jorge Ben conquistando destaque, enquanto a Jovem Guarda, liderada por Roberto Carlos, ainda atraía grandes públicos.
No esporte,
 1969 foi um ano de grande relevância. No futebol, Pelé atingiu o marco histórico de mil gols em sua carreira em novembro, consolidando sua posição como um dos maiores jogadores de todos os tempos. O Brasil já estava se preparando para a Copa do Mundo de 1970, com o técnico João Saldanha comandando a seleção e Pelé sendo a grande estrela do time. Nas eliminatórias, a seleção brasileira mostrou sua força ao se classificar de forma invicta.
No automobilismo, Jackie Stewart conquistou seu primeiro título mundial de Fórmula 1, enquanto o boxe enfrentava a ausência de Muhammad Ali, suspenso por se recusar a lutar na Guerra do Vietnã. Esses eventos consolidavam a relevância do esporte como uma forma de entretenimento e expressão global.

1969 também foi um ano de avanços tecnológicos e científicos.
Foi o ano do primeiro voo do Concorde, um marco na aviação com o primeiro avião supersônico comercial. Além disso, o nascimento da ARPANET, precursora da internet, revolucionou a comunicação ao conectar universidades nos Estados Unidos, dando início ao que se tornaria uma das maiores transformações tecnológicas da história moderna.


Em termos de questões sociais,
o movimento hippie estava no auge, promovendo a paz, o amor e a liberdade, principalmente após o impacto de Woodstock. Nos Estados Unidos, a Revolta de Stonewall marcou o início do movimento pelos direitos LGBTQIA+, com a comunidade reagindo à repressão policial em Nova York. Essa revolta se tornou um símbolo de resistência e um marco na luta pelos direitos civis dessa comunidade ao redor do mundo.
No Brasil, o primeiro transplante de coração foi realizado em São Paulo, representando um avanço significativo na medicina nacional e colocando o país na vanguarda dos procedimentos de transplante de órgãos.
Esses acontecimentos moldaram o contexto de 1969, um ano de mudanças profundas e duradouras que influenciaram tanto o cenário global quanto o brasileiro. Nesse ambiente de transformações, o Cruzeiro Esporte Clube continuava sua trajetória de conquistas e escrevendo novos capítulos em sua história.


A TEMPORADA

Em 1969, o Cruzeiro Esporte Clube estava consolidado como uma das principais potências do futebol brasileiro, carregando a ambição de continuar seu legado de conquistas iniciado na década anterior. As aspirações do clube passavam por competir e vencer competições nacionais, bem como consolidar uma geração de jogadores talentosos que encantava o país com um futebol ofensivo e habilidoso.
Além disso, o clube mirava o quinto título consecutivo no Estadual, que sempre tiveram grande importância no futebol brasileiro da época, buscando manter sua hegemonia em Minas Gerais.

O Plantel do Cruzeiro em 1969
O elenco do Cruzeiro em 1969 era composto por jogadores talentosos e consagrados, liderados por figuras como Tostão e Dirceu Lopes, que eram referências técnicas e emocionais para o time. A equipe tinha uma defesa sólida, um meio-campo que combinava força e técnica, e um ataque letal, conhecido por sua habilidade e entrosamento.
A equipe ainda contou com as chegadas de Fontana, um dos melhores zagueiros do futebol brasileiro naquela época, Fontana se destacou pela sua liderança em campo e pela segurança que oferecia à defesa. Além de sua carreira vitoriosa no Cruzeiro, também teve passagens pela Seleção Brasileira e Palhinha. O recém-chegado Palhinha trouxe mais dinamismo e poder de fogo ao ataque do Cruzeiro. Sua versatilidade e capacidade de marcar gols o tornaram uma peça fundamental na equipe.

TAÇA DE PRATA
(TORNEIO ROBERTO GOMES PEDROSA)
Em 1969 foi disputada a terceira edição do Torneio Roberto Gomes e a penúltima, que a partir de 1971 passou a ter outro formato e nome (Campeonato Nacional de Clubes).
A disputa do Robertão de 69 teve o mesmo número de equipes do ano anterior, dezessete. As novidades foram o América do Rio, que pegou a vaga do Bangu, o Coritiba, que entrou no lugar do Atlético Paranaense e o Santa Cruz, que substituiu o Náutico.
O formato da competição foi mantido, com dois grupos, um de sete e outro de oito times, jogando entre si na primeira fase em turno único. Os dois primeiros colocados de cada grupo se classificaram para a fase decisiva.


A primeira fase
Na primeira fase, o Cruzeiro fez uma boa campanha e se classificou em segundo lugar para a faze final. Dos 16 jogos disputados empatou 03, perdeu 03 e venceu 09 partidas.

Destaque para as vitórias contra o Fluminense do Técnico Telê Santana, no Rio, Atlético Mineiro e Botafogo no Mineirão, Palmeiras e Santos em São Paulo.

Curiosidade! Foi o sexto jogo do Cruzeiro contra o Santos de Pelé. Dos 06 confrontos o Cruzeiro venceu 5.




Jogos da primeira Fase
07.09.1969 Fluminense 0 X 3 Cruzeiro (Tostão-2 e Dirceu Lopes)
14.09.1969 Cruzeiro 0 X 1 Botafogo (Roberto)
17.09.1969 Palmeiras 0 X 1 Cruzeiro (Tostão)
21.09.1969 Cruzeiro 1 X 1 Portuguesa De Desportos (Tostão; Lorico)
24.09.1969 Corinthians 2 X 0 Cruzeiro (Suingue e Lima)
28.09.1969 Cruzeiro 2 X 1 Atlético Mineiro (Dirceu Lopes-2; Oldair)
01.10.1969 América 1 X 2 Cruzeiro (Piazza-Contra; Evaldo e Dirceu Lopes)
05.10.1969 Santos 2 X 3 Cruzeiro (Edu e Douglas; Dirceu Lopes-2 e Zé Carlos)
15.10.1969 Bahia 2 X 1 Cruzeiro (Artur e Carlinhos; Rodrigues)
19.10.1969 Cruzeiro 2 X 2 Flamengo (Zé Carlos e Darci Menezes; Bianchini e Nei)
26.10.1969 Cruzeiro 2 X 0 São Paulo (Dirceu Lopes e Gilberto)
05.11.1969 Cruzeiro 1 X 0 Internacional (Darci Menezes)
09.11.1969 Cruzeiro 1 X 0 Vasco Da Gama (Evaldo)
16.11.1969 Grêmio 1 X 1 Cruzeiro (Paíca; Dirceu Lopes)
26.11.1969 Cruzeiro 4 X 0 Santa Cruz (Dirceu Lopes-2, Zé Carlos e Palhinha)

Fase final
Na fase final as quatro equipes classificadas (Corinthians, Cruzeiro, Botafogo e Palmeiras) se enfrentaram em turno único e o campeão seria aquele que somasse mais pontos.

Jogos do Cruzeiro na fase final:
30.11.1969 Botafogo 2 X 2 Cruzeiro (Afonsinho e Rogério; Evaldo E Zé Carlos)
03.12.1969 Cruzeiro 1 X 1 Palmeiras (Palhinha; César)
07.12.1969 Cruzeiro 2 X 1 Corinthians (Evaldo e Dirceu Lopes; Rivelino)
O título foi decidido somente na última rodada, Cruzeiro e Palmeiras terminaram com o mesmo número de pontos, o time paulista teve o saldo de gols mais positivo e conquistou o primeiro lugar,  o Cruzeiro foi o vice campeão, garantindo uma vaga na Taça Libertadores da América de 1970.


PENTACAMPEÃO MINEIRO
Criado em 1915, o Campeonato Mineiro de 1969 foi a 55ª edição oficial do principal torneio de Minas Gerais, o 5º da Era Mineirão. O Cruzeiro buscava o seu 16º título e o 5º consecutivo.
Dezesseis equipes jogaram entre si em turno, com o primeiro colocado garantindo-se na final e returno, com o líder se garantindo na final. Caso o Líder dos dois turnos fosse o mesmo, ele seria automaticamente campeão. Não houve rebaixamento.

A Primeira Fase
Na primeira fase do Campeonato Estadual de 1969, o Cruzeiro mostrou um desempenho impressionante, dominando seus adversários de forma esmagadora. Em 15 partidas, o time venceu 14 e empatou apenas uma, marcando 40 gols e sofrendo apenas 1. Entre os destaques, a vitória de 8 a 0 sobre o Tupi e o triunfo por 1 a 0 sobre o Atlético Mineiro, em uma partida que quebrou o recorde de público no Mineirão, com 123.351 torcedores.
A campanha do Cruzeiro começou com uma vitória convincente sobre o Valeriodoce por 4 a 0, no dia 26 de janeiro, com gols de Tostão (2), Hilton Oliveira e Piazza. Em 15 de fevereiro, o time venceu o Democrata-GV por 3 a 0, com gols de Dirceu Lopes, Tostão e Zé Carlos.
O Cruzeiro continuou seu ritmo avassalador com uma goleada de 8 a 0 sobre o Tupi, no dia 22 de fevereiro. Zé Carlos marcou três gols, Dirceu Lopes fez dois, e Hilton Oliveira, Natal e Tostão completaram o placar. Em seguida, no dia 1º de março, o Cruzeiro venceu o Formiga por 1 a 0, com um gol solitário de Rodrigues.
No dia 9 de março, o Cruzeiro derrotou o Sete de Setembro por 5 a 0, com Tostão marcando três gols, além de Natal e Zé Carlos também balançando as redes. Uma semana depois, em 16 de março, o time venceu o Uberaba por 3 a 1. Dirceu Lopes, Rodrigues e Tostão marcaram, enquanto um gol contra de Fontana deu o gol de honra ao adversário.
Em 23 de março, o único tropeço: um empate sem gols com o Uberlândia. Porém, o Cruzeiro rapidamente se recuperou com uma vitória de 3 a 0 sobre o Araxá, no dia 30 de março, com Tostão marcando os três gols.
No dia 13 de abril, o Cruzeiro venceu o Villa Nova por 1 a 0, com mais um gol de Tostão, e, três dias depois, goleou o Villa do Carmo por 4 a 0, com gols de Dirceu Lopes (2), Tostão e Zé Carlos. A sequência de vitórias continuou no dia 20 de abril, quando o Cruzeiro bateu o Usipa por 3 a 0, com dois gols de Dirceu Lopes e um de Tostão.
Em 27 de abril, o Cruzeiro enfrentou o América e venceu por 1 a 0, com Tostão novamente sendo o autor do gol decisivo. No dia 4 de maio, o Cruzeiro venceu o clássico contra o Atlético Mineiro por 1 a 0, com Natal balançando as redes. Esse jogo ficou marcado pela quebra de recorde de público em Minas Gerais, 123.351 mil pessoas presentes no Mineirão.
Três dias depois, em 7 de maio, a equipe venceu o Independente por 2 a 0, com gols de Dirceu Lopes e Evaldo.
A primeira fase terminou em 11 de maio com uma vitória por 1 a 0 sobre o Democrata-SL, com Zé Carlos marcando o gol da vitória. Essa campanha dominante classificou o Cruzeiro em primeiro lugar, com 29 pontos, 40 gols marcados e apenas 1 sofrido, consolidando sua força no futebol mineiro.
A Segunda Fase
Na segunda fase do Campeonato Estadual de 1969, o Cruzeiro manteve sua postura dominante, conquistando 12 vitórias em 15 jogos e empatando três, sagrando-se pentacampeão mineiro de forma invicta.
A fase começou em 14 de maio com uma vitória por 1 a 0 sobre o Democrata-GV, com gol de Tostão. Quatro dias depois, em 18 de maio, o Cruzeiro venceu o Democrata-SL por 3 a 1, com gols de Dirceu Lopes, Piazza e Tostão; Evanir marcou para o adversário.
No dia 21 de maio, o Cruzeiro enfrentou o Independente e empatou em 1 a 1. João José marcou para o Independente, enquanto Wilson Almeida garantiu o empate para o Cruzeiro. Em 25 de maio, o Cruzeiro venceu o América por 2 a 0, com gols de Mário Tito e Zé Carlos.
No dia 28 de maio, o time empatou novamente, desta vez em 1 a 1 contra o Villa do Carmo. Zé Luiz marcou para o Villa, e Evaldo empatou para o Cruzeiro. A recuperação veio em 1º de junho, com uma vitória por 2 a 0 sobre o Formiga, com gols de Dirceu Lopes e Evaldo.
No dia 5 de junho, o Cruzeiro venceu o Araxá por 2 a 1. Ganzepe marcou para o Araxá, enquanto Piazza e Raul Fernandes garantiram a vitória cruzeirense. Três dias depois, em 8 de junho, o Cruzeiro derrotou o Atlético Mineiro por 1 a 0 com gol de Tostão.
O Cruzeiro continuou sua série de vitórias ao bater o Uberlândia por 1 a 0 no dia 15 de junho, com gol de Dirceu Lopes. Três dias depois, em 18 de junho, venceu o Villa Nova por 3 a 0, com gols de Praça, Rodrigues e Zé Carlos.
No dia 22 de junho, o Cruzeiro venceu o Tupi por 1 a 0, com gol de Natal. Em 25 de junho, derrotou o Uberaba por 1 a 0, com gol de Evaldo. A goleada mais expressiva dessa fase aconteceu no dia 28 de junho, quando o Cruzeiro venceu o Usipa por 5 a 0. Petronilho marcou dois gols, enquanto Rodrigues, Vanderlei e Zé Carlos completaram o placar.
No dia 3 de julho, o Cruzeiro venceu o Sete de Setembro por 2 a 0, com gols de Palhinha e Zé Carlos. A última partida da segunda fase foi disputada no dia 6 de julho, resultando em um empate por 1 a 1 contra o Valeriodoce. Edvar marcou para o Valeriodoce, e Palhinha empatou para o Cruzeiro.
O Cruzeiro encerrou a segunda fase do Campeonato Estadual de 1969 de forma invicta, com 12 vitórias e 3 empates. Ao longo da fase, marcou 27 gols e sofreu apenas 5, confirmando sua supremacia no futebol mineiro. Com um total de 56 pontos em 30 jogos, 26 vitórias, 4 empates e nenhuma derrota, além de 67 gols marcados e apenas 6 sofridos, o Cruzeiro sagrou-se pentacampeão mineiro, consolidando uma das campanhas mais dominantes de sua história.
Fontes: Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo. 
rsssfbrasil, 
Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.​​​​​​​

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